Listas

Os 5 maiores técnicos da história da Fiorentina

O violeta na camisa e a flor-de-lis vermelha no escudo impõem respeito. Fundada em Florença, berço do Renascimento e uma das cidades mais belas e aristocráticas da Europa, a Fiorentina honra a história do maior centro urbano da Toscana em seus 90 anos de existência. Para tal, alguns grandes treinadores precisaram criar bases sólidas, capazes de levar à sala de troféus do clube 16 taças oficiais.

O primeiro dos 55 treinadores da história Viola foi Károly Csapkay, um dos nove húngaros que comandaram o time. Csapkay ficou quatro anos em Florença, mas foi Nándor Hidegkuti, ex-atacante da mágica Hungria da Copa do Mundo de 1954 que teve mais sucesso à frente dos gigliati: ele treinou a equipe por quase dois anos e, em parceria com Giuseppe Chiappella, deu ao clube uma Coppa Italia, uma Copa dos Alpes e uma Recopa Uefa, em 1961.

Chiappella, aliás, tem muita história na Toscana. Ex-volante, ele integrou o elenco que faturou o primeiro scudetto da história do time, em 1956, e esteve à frente da equipe em três oportunidades, totalizando sete temporadas e algumas conquistas: além dos títulos em parceria com Hidegkuti, já citados, o comandante venceu mais uma Coppa Italia e uma Copa Mitropa.

Entre os 55 treinadores da Fiorentina, 34 nasceram na Itália. Dentre os italianos, outros que merecem ser citados e não figuram no nosso “Top 5” são Giuseppe Galluzzi (era ele que estava à frente do primeiro título florentino, a Coppa Italia 1939-40), Luigi Ferrero e Giancarlo De Sisti. No que tange aos estrangeiros, fora um nome que está entre os cinco maiores e Hidegkuti, nenhum outro teve passagem realmente memorável pelo Artemio Franchi. O único brasileiro que dirigiu a Viola, Sebastião Lazaroni, protagonizou um fracasso retumbante.

Confira a nossa lista dos cinco maiores abaixo. Além de ter somente um estrangeiro, três dos citados já foram técnicos da Itália.

Critérios
Para montar as listas, o Quattro Tratti levou em consideração a importância de cada técnico na história do clube, do futebol italiano e mundial. Dentro desses parâmetros, analisamos os títulos conquistados, a identificação com a torcida e o dia a dia do clube (mesmo após o fim da carreira), respaldo atingido através da passagem pela equipe, grau de inovação tática e em métodos de treinamento e, por fim, prêmios individuais.

5º – Giovanni Trapattoni

Período no clube: 1998-2000
Títulos conquistados: nenhum

Trapattoni é um técnico tão vitorioso que ótimos trabalhos em que não venceu nada, como os realizados na seleção da Irlanda e na Fiorentina, acabam sendo ofuscados pela miríade de glórias adquiridas por ele em Juventus e Inter. O lombardo foi contestado do início ao fim de sua passagem de dois anos por grande parte da torcida violeta, devido a sua enorme identificação com a rival Juve, mas é inegável que montou um dos times mais competitivos de toda a história dos toscanos: sob a batuta do sanguíneo Trap, a Fiorentina brigou pelo scudetto e também teve sua melhor participação na fase moderna da Liga dos Campeões. Na ocasião, eliminou o Arsenal e fez jogos duros contra Barcelona, Manchester United e Valencia (venceu os dois últimos), por pouco não chegando àsquartas de final.

O técnico teve à sua disposição um elenco com a combatividade de Tomas Repka, Jörg Heinrich e Sandro Cois, mas também o talento de Francesco Toldo, Rui Costa, Edmundo e Gabriel Batistuta. A temporada 1998-99 começou de forma arrasadora, com quatro vitórias em quatro jogos, e foi apenas o prenúncio do que estava por vir: viola campeã de inverno. A mentalidade vencedora e os conceitos táticos de Trap se impunham e tudo corria bem, até que a equipe perdeu Batigol (lesionado) e o Animal (liberado por uma cláusula de contrato para curtir o Carnaval no Brasil), caindo de produção. No final das contas, o terceiro lugar no Campeonato Italiano foi excepcional, acima das expectativas, e valeu a volta à Champions – os gigliati ainda ficaram com o vice na Coppa Italia. Depois, com os reforços de Abel Balbo, Angelo Di Livio, Predrag Mijatovic e Enrico Chiesa, o time não foi tão bem na Serie A, mas brilhou internacionalmente. Depois de deixar o Artemio Franchi, se tornou técnico da Itália.

4º – Claudio Ranieri

Período no clube: 1993-97
Títulos conquistados: Coppa Italia (1996), Supercopa Italiana (1996) e Serie B (1994)

Antes de comandar o Leicester em uma das maiores façanhas da história do futebol, Ranieri também entrou para a lista dos maiores treinadores da Fiorentina. No início dos anos 1990 o romano era um dos treinadores emergentes da Itália e havia feito trabalhos interessantes por Cagliari e Napoli. Após deixar os azzurri, Ranieri passou alguns meses parado e recebeu uma proposta da equipe violeta, que acabara de ser rebaixada para a Serie B. O ex-zagueiro aceitou o desafio de trabalhar novamente nas divisões inferiores, onde havia decolado com o Cagliari, e se tornou um ídolo em Florença, cidade em que morou entre 1993 e 1997.

Logo em seu primeiro ano, Ranieri levou uma Viola guiada por Gabriel Batistuta, Francesco Baiano, Francesco Toldo e Stefan Effenberg ao título da segundona. Na volta à Serie A, a Fiorentina se desfez de Effenberg, mas ganhou o reforço do português Rui Costa, que se encaixou perfeitamente na equipe: foi um campeonato de transição para a equipe gigliata, mas os 26 gols de Batistuta foram o prelúdio de um ano seguinte glorioso. Com outro show do argentino, que anotou 19 tentos no Italiano e oito na Coppa Italia, o time florentino foi campeão na copa local e terceiro colocado no torneio nacional. Em 1996-97, a Fiorentina de Ranieri também conquistou a Supercopa Italiana e chegou às semifinais da Recopa Uefa. Foi a temporada de despedida do romano, que só depois de muito tempo voltaria a receber tantos elogios quanto em Florença.

3º –  Cesare Prandelli

Período no clube: 2005-10
Títulos conquistados: nenhum

Poucos treinadores conseguiram ser tão respeitados e admirados pela torcida de um grande clube quanto Prandelli na Fiorentina. O carismático treinador chegou a Firenze por um triste acaso: um ano antes, em 2004, abdicou da Roma para ajudar sua esposa, Manuela, em momentos críticos de um câncer, que causaria sua morte, em 2007. Em cinco temporadas ele classificou a equipe duas vezes à Liga dos Campeões – em três oportunidades, levou os violetas à 4ª posição, mas em 2005-06 a Fiorentina foi penalizada por participação no Calciopoli e perdeu pontos. Também foi semifinalista da Copa Uefa, em 2008, e da Coppa Italia, em 2010. Sem falar que conduziu o time toscano a uma de suas melhores campanhas na Champions: em 2009-10 liderou seu grupo e eliminou o Liverpool, caindo nas oitavas diante do Bayern de Munique apenas por causa de um grotesco erro da arbitragem.

Prandelli não conquistou nenhum título, mas os resultados proveitosos mostram que ele deixou sua marca no Artemio Franchi – não à toa se tornou o segundo técnico com mais partidas no comando da equipe (240) e o que mais venceu com o clube (199 vezes). A Fiorentina nem de longe tinha o mesmo patamar de investimento que seus rivais locais, mas competia de igual para igual na Serie A, praticando um futebol agradável, baseado em uma posse de bola produtiva e propositiva. A ótima execução de sua filosofia de jogo ao longo do quinquênio na Toscana lhe rendeu por três vezes o prêmio de melhor profissional do país: em 2006 e 2007 foi eleito Panchina d’Oro pelos próprios colegas e, em 2008, foi premiado no Oscar del Calcio da associação de jogadores. O ótimo trabalhou levou o lombardo ao cargo de treinador da Itália, que precisava revolucionar seu estilo.

2º – Bruno Pesaola

Período no clube: 1968-71
Títulos conquistados: Serie A (1969)

Conhecido como “Baixinho” – petisso, em espanhol –, Pesaola teve rica história no Napoli, mas também na Fiorentina. O treinador ítalo-argentino chegou em grande estilo: logo em seu ano de estreia pela equipe de Florença, Pesaola colocou em prática um futebol bastante vertical, explorando a velocidade pelos lados do campo e com um goleador na frente, abastecido pelos alas e por um regista ofensivo. Assim, levou a Viola ao segundo – e, até hoje, último – scudetto de sua história, superando, com uma arrancada antológica, o Milan e o histórico Cagliari de Gigi Riva. Aquela Fiorentina, que tinha Amarildo, Giancarlo De Sisti e Mario Maraschi foi a primeira equipe na história a conquistar o campeonato sem perder partidas fora de casa e teve como destaque uma defesa muito forte, que sofreu somente 18 gols.

Depois de conquistar o título mais importante da carreira, Pesaola recebeu propostas da Inter e do Napoli. Mesmo sob contrato com a Fiorentina, ele assinou com os dois clubes e só não voltou à Campânia porque o presidente azzurro não aprovou a contratação de dois reforços que ele pedira – em retaliação, foi denunciado à Federação Italiana de Futebol pelo dirigente. O Petisso poderia ter sido banido do futebol pelo tríplice acerto, mas o comandante da FIGC, Artemio Franchi, era muito ligado à Fiorentina e deu um jeitinho: se ficasse em Florença, escaparia da punição. O imbróglio não chegou a comprometer a relação com a torcida gigliata e Pesaola acabou permanecendo por mais um ano e meio, mas sem conseguir levar a equipe a glórias novamente – o melhor resultado foi o vice na Copa dos Alpes. Eleito Seminatore d’Oro, prêmio dado ao melhor técnico do país (1969), Pesaola acabou demitido em janeiro de 1971, após iniciar mal a Serie A. Ainda assim, em 2013 foi adicionado ao Hall da Fama florentino.

1º – Fulvio Bernardini

Período no clube: 1953-58
Títulos conquistados: Serie A (1956) e Copa Grasshoppers (1957)

O elegante Fulvio Bernardini foi o primeiro técnico a se tornar ídolo da Fiorentina e é justamente o que encabeça a nossa lista. O romano deu início à era de ouro da história do clube, mas tinha uma carreira muito modesta como treinador quando chegou a Florença, em meados da temporada 1952-53 – breve passagem por Roma, na elite, e Reggina e Vicenza, na segundona. Apesar disso, a diretoria violeta reconhecia nele um profissional de grande futuro graças a seu conhecimento tático. Graças a seus estudos, Fulvio armou sua equipe num WM aberto e ofensivo, no qual os jogadores anteviam as passagens dos companheiros pelo campo e ganhavam na velocidade a disputa pela pelota contra o rival. Todo o time sabia tocar muito bem a bola – isto era o centro da filosofia do treinador – e, mesmo com um esquema bastante ofensivo, a zaga tinha os reforços dos meias e era bastante sólida.

Nos cinco anos em que permaneceu na Toscana, o técnico romano deu espaço a jovens jogadores, como o goleiro Giuliano Sarti e o zagueiro Sergio Cervato, além de estrangeiros desconhecidos na Itália, como o atacante argentino Miguel Montuori, contratado junto à Universidad Católica do Chile e o meia brasileiro Julinho Botelho, da Portuguesa. Foi com essa base que o treinador levou a Viola ao primeiro scudetto de sua história, em 1956, garantido com incríveis cinco rodadas de antecedência – o que rendeu a Bernardini o prêmio Seminatore d’Oro. O ex-zagueiro ainda conquistou o primeiro torneio internacional da Fiorentina (a Copa Grasshoppers, iniciada em 1952 e concluída cinco anos depois) e foi vice-campeão da Copa dos Campeões (1957) e da Serie A (1958). Coberto de glórias, Bernardini trocou a equipe florentina pela Lazio assim que Julinho voltou para o Brasil, em 1958, e nos primeiros meses em Roma foi campeão da Coppa Italia justamente diante dos gigliati.

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