Listas

Os 5 maiores técnicos da história do Parma

Peixe fora d’água? Quase isso. Diferentemente de outros times italianos sobre os quais falamos aqui no site e dos quais elegemos os maiores treinadores, o Parma não tem uma história recheada de glórias. Somente nos últimos 30 anos, a partir do final da década de 1980, é que o clube começou a entrar em evidência no futebol do Belpaese e da Europa. Seu período de ouro coincide com o aporte de capital feito pela família Tanzi, dona da Parmalat e, portanto, é natural que os técnicos de sucesso dos crociati pertençam aos anos posteriores ao patrocínio da multinacional especializada em laticínios.

Ao todo, 91 técnicos já passaram pelo clube e há informações confusas sobre quem foi o primeiro comandante parmense. O primeiro mais conhecido foi Guido Ara, hexacampeão italiano pela Pro Vercelli no início do século XX, e técnico da equipe nos anos 1920. Somente no fim da década de 1970, com treinadores como Giorgio Sereni e Cesare Maldini, é que o clube começou a ser mais visto, em tempos de Serie B.

Além dos cinco escolhidos pelo blog e dos treinadores citados acima, treinadores dos últimos anos merecem ser citados como técnicos que marcaram a história do Parma. Claudio Ranieri é um deles, por ter evitado um rebaixamento quase certo, em 2007, enquanto Francesco Guidolin e Roberto Donadoni foram capazes de ensaiar o renascimento dos gialloblù, e fizeram um time com as contas apodrecidas competir com os grandes na Serie A. Não é para qualquer um: merecem respeito.

Critérios
Para montar as listas, o Quattro Tratti levou em consideração a importância de cada técnico na história do clube, do futebol italiano e mundial. Dentro desses parâmetros, analisamos os títulos conquistados, a identificação com a torcida e o dia a dia do clube (mesmo após o fim da carreira), respaldo atingido através da passagem pela equipe, grau de inovação tática e em métodos de treinamento e, por fim, prêmios individuais.

5º – Cesare Prandelli

Período no clube: 2002-04
Títulos conquistados: nenhum

Prandelli não conquistou nenhum título na Emília-Romanha, mas foi muito importante em um período difícil da história do clube. Técnico do Parma por apenas duas temporadas, foi no comando dos gialloblù que seu estilo de futebol ofensivo, com posse de bola e com muita movimentação no ataque começou a ter resultados efetivos. O lombardo conseguiu fazer isso mesmo em meio ao desmanche pelo qual a equipe passava após a bancarrota da Parmalat, que culminou em uma interdição e posterior falência do clube.

No primeiro ano em Parma, Prandelli levou a equipe ao 5º lugar com um verdadeiro show da dupla de ataque, formada por dois atacantes que, à época, eram jovens revelações: juntos, Adriano e Adrian Mutu marcaram 33 gols e ajudaram os crociati a se classificarem à Copa Uefa. A crise se agravou e Prandelli perdeu o romeno na intertemporada e o brasileiro em janeiro de 2004, mas ainda assim conseguiu um novo 5º lugar, fazendo o time se readaptar e jogar em função de Alberto Gilardino, outro atacante que começava a dar frutos. O feito de Prandelli, contratado pela Roma depois do biênio positivo, foi um dos últimos relevantes na história do Parma.

4º – Arrigo Sacchi

Período no clube: 1985-87 e 2001
Títulos conquistados: Serie C1 (1986)

Sacchi é conhecido por ter sido ídolo do Milan e divisor de águas na história não só dos rossoneri, mas do futebol. O que poucos sabem é que ele também elevou o Parma de patamar e começou a ser reconhecido como um treinador de boas ideias no Ennio Tardini. O romanholo chegou ao clube após treinar os juvenis do Cesena e da Fiorentina, além dos profissionais do Rimini, em uma época anterior ao aporte de capital da Parmalat, quando a equipe estava na Serie C1, e no primeiro ano garantiu o título da terceirona e o acesso à Serie B.

Em seu segundo ano nos crociati, apareceu para o mundo ao surpreender e eliminar o Milan da Coppa Italia em pleno San Siro – foram duas vitórias sobre os rossoneri, uma na fase de grupos e outra nas quartas de final. Àquela época, os ducali atuavam num 4-4-2 bem ofensivo e cheio de movimentação, com ou sem a bola, na estreia do meio-campo em losango: uma “revolução copérnica”, como chamaram os jornais da época, com as premissas que consolidaria no clube presidido por Silvio Berlusconi. Em janeiro de 2001, Sacchi voltou ao Parma, mas 20 dias depois se demitiu por causa de crises de hipertensão, que o obrigaram a se aposentar como técnico. No mesmo ano, recebeu um cargo na diretoria do clube, o qual ocupou até 2003.

3º – Carlo Ancelotti

Período no clube: 1996-98
Títulos conquistados: nenhum

Don Carletto tinha tudo para ser o maior treinador da história do Parma, mas boa parte da torcida ficou decepcionada com seu trabalho. Na época, Ancelotti ainda não tinha o currículo que tem hoje – ainda estava em início de carreira e não havia levantado taças como técnico –, mas o fato de ter nascido na região e ter sido revelado pelo clube gerou expectativas de que ele pudesse ser uma bandeira parmense. Se esperava que ele pudesse repetir sua carreira vitoriosa como jogador, em que brilhou por Roma e Milan, como comandante do Parma. Ancelotti até se tornou uma lenda, mas bem longe do Tardini, que hoje recebe o clube em partidas da melancólica terceira divisão.

Objetivamente, Ancelotti teve dois anos bons pelo clube emiliano. Logo em sua temporada de estreia na Serie A (em seu primeiro ano como treinador, Carletto levou a Reggiana da segundona à elite), ele não sentiu a pressão de substituir Nevio Scala e conduziu o Parma ao vice-campeonato italiano, apenas dois pontos atrás da Juventus – até hoje, é o melhor resultado dos ducali na competição. Se esperava que o time, conduzido pela qualidade de Gianluigi Buffon, Fabio Cannavaro, Lilian Thuram, Dino Baggio, Enrico Chiesa, Hernán Crespo e outros desse o famoso salto de qualidade, mas isso não ocorreu: o Parma caiu na fase de grupos da Liga dos Campeões (classificou-se o Borussia Dortmund, treinado por Scala), nas semifinais da Coppa Italia e ficou apenas em 5º na Serie A. Ancelotti acabou não tendo o contrato renovado apenas por maior ambição da diretoria.

2º – Alberto Malesani

Período no clube: 1998-2001
Títulos conquistados: Copa Uefa (1999), Coppa Italia (1999) e Supercopa Italiana (1999)

A demissão de Ancelotti levou um treinador de currículo modesto ao Tardini: Alberto Malesani. Quando assumiu o Parma, aos 44 anos, o veronês tinha – entre técnico das categorias de base, do time profissional e auxiliar – uma década de serviços prestados ao Chievo, clube que levou da Serie C1 à B e manteve na segundona por três anos. No trabalho seguinte, à frente da Fiorentina, conseguiu um 5º lugar e a classificação à Copa Uefa, mas o gênio forte gerou brigas frequentes com Edmundo e o presidente Vittorio Cecchi Gori, o que ocasionou sua saída. Melhor para o Parma, que escolheu um técnico que se inspirava no Futebol Total holandês, utilizava um insinuante 3-4-3 e tinha feito seu time dar show em Florença em 1997-98.

A aposta da família Tanzi se provou acertada no primeiro momento. Nos dois anos e meio em que dirigiu a equipe gialloblù, Malesani aproveitou os jogadores de ótima qualidade contratados pela Parmalat e, com craques em todos os setores, se tornou o último técnico multivencedor do clube. A primeira temporada foi excepcional, com o time voando baixo graças ao tridente formado por Chiesa, Crespo e Faustino Asprilla ou Abel Balbo, que era municiado por Juan Sebastián Verón: os títulos da Coppa Italia e da Copa Uefa, sobre Fiorentina e Marseille, respectivamente, foram conquistados com méritos. Porém, a vitória na Supercopa Italiana no início de 1999-2000 foi o último momento glorioso daquele time, que teve o desempenho na Serie A como seu calcanhar de Aquiles. Apesar de ter um elenco forte à disposição, Malesani nunca conseguiu fazer os ducali competirem pelo título (a melhor colocação foi o 4º lugar, em 1998-99), o que fez com que a torcida pegasse no seu pé e a diretoria começasse a ficar insatisfeita. O comandante vêneto acabou demitido em janeiro de 2001.

1º – Nevio Scala

Período no clube: 1989-1996
Títulos conquistados: Copa Uefa (1995), Supercopa Uefa (1993), Recopa Uefa (1993) e Coppa Italia (1992)

O Parma é o que é graças a Nevio Scala. O treinador nascido na província de Padova, no Vêneto, teve uma boa carreira como jogador – vestiu as camisas de Milan, Roma, Fiorentina e Inter –, mas ainda era inexperiente quando assumiu o cargo de treinador do Parma. Em 1989, ano em que chegou à Emília-Romanha, tinha somente um trabalho no futebol profissional: levou a Reggina à Serie B e por pouco não conseguiu um histórico acesso à primeira divisão. A diretoria da Parmalat, que estava começando a investir seriamente no clube gialloblù, resolveu dar uma chance àquela aposta, que diferentemente de seus antecessores, Zdenek Zeman e Arrigo Sacchi, preferia uma abordagem “à italiana”, inspirada no catenaccio. Com este estilo, Scala fez o Parma conseguir pela primeira vez o acesso à Serie A e o colocou no mapa do futebol mundial, transformando-o em uma potência europeia.

O Parma esteve sob o comando de Scala na primeira divisão durante seis anos e chegou a brigar pelo scudetto, mas não amadureceu o suficiente para superar a 3ª posição. No entanto, os piores resultado foram honrosos 6º lugares, em 1991-92 (temporada em que o time conquistou a Coppa Italia) e no último ano do treinador no clube. Os ducali conseguiram a classificação para competições continentais em todas campanhas da gestão Scala e foi justamente em torneios Uefa que deram o seu melhor: os parmenses estiveram presente em três finais consecutivas e venceram duas delas – a Recopa de 1993 e a Copa Uefa de 1995 – e também venceram uma Supercopa Europeia. Nos seus anos no Tardini, Scala foi premiado com muitos reforços de peso, mas soube gerenciar duas frentes distintas: o ótimo estrategista lidava com craques de nível mundial, mas também transformou jogadores acostumados a jogar as divisões inferiores, como Lorenzo Minotti, Luigi Apolloni e Alessandro Melli, em peças convocáveis para a seleção italiana. Ídolo da torcida, ele foi ovacionado com cerca de 10 minutos de aplausos em sua última partida, em 1996, e quase 20 anos depois retornou a Parma como presidente, na tentativa de reerguer o clube gialloblù.

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