Todo treinador gosta de ter à disposição um jogador versátil, que tenha disponibilidade de executar diversas funções. Alessio Tacchinardi era um desses. No começo de sua carreira, Takky era ala pela direita, mas foi adaptado como meio-campista central ou defensivo e também chegou a jogar como zagueiro de vez em quando, em sistema de marcação por zona. Trabalhador e de mentalidade forte, Alessio era predominantemente conhecido por seu excelente posicionamento, antecipação e inteligência tática, além de boa técnica, visão de jogo, capacidade de desarme, alcance de passe e, claro, um forte chute de média e longa distância.
Alessio Tacchinardi começou a desenvolver esses atributos na cidade de Crema, onde nasceu. Escolher ser jogador foi uma tarefa fácil, já que a inspiração veio de casa: seu irmão Massimiliano foi zagueiro e começou na Inter, mas não alcançou o mesmo sucesso que o caçula teria. Enquanto o mais velho estava na base nerazzurra, Alessio passou pela escolinha Pier Giorgio Frassati e adentrou o setor juvenil do Pergocrema.
Contudo, foi na Atalanta que Tacchinardi deslanchou. Em Bérgamo, o jogador chamou a atenção de Eugenio Perico, Cesare Prandelli e Fermo Favini, treinadores e dirigentes da Atalanta no início dos anos 1990. Prandelli, inclusive, foi o treinador que mudou sua posição de meia lateral para a de regista – um volante que cria jogadas a partir de posição mais recuada. Em entrevista, o próprio Tacchinardi confessou que não teria atingindo o topo do mundo sem a passagem pela base nerazzurra.
Takky foi o líder e o capitão de um elenco promissor no juvenil da Atalanta. Ao lado de Domenico Morfeo, Tomas Locatelli, Paolo Foglio e Gianluca Savoldi, foi campeão de alguns torneios de base, como o Allievi Nazionali, o Primavera e a Copa Viareggio. Em 1992, Tacchinardi começou a treinar com o time principal, mas foi somente no ano seguinte que fez a sua estreia, numa vitória por 2 a 1 sobre o Ancona. Depois de apenas 11 jogos como profissional pela Dea, Alessio mudou de casa: havia chamado a atenção de Luciano Moggi, diretor da Juventus.
Contratado no verão de 1994, por 4 bilhões de liras, Tacchinardi passaria 11 anos no Piemonte. No período, disputou posição com estrelas, como Antonio Conte, Angelo Di Livio, Edgar Davids, Enzo Maresca, Paulo Sousa, Didier Deschamps e Zinédine Zidane. Takky, contudo, se esforçava muito nos treinamentos e, como se dedicava e aplicava muito, sempre conseguia seu espaço no time. Primeiro, como defensor.
Em sua temporada de debute, ainda com 19 anos, Tacchinardi impressionou o técnico Marcello Lippi e foi utilizado em 38 jogos – somando Serie A, Coppa Italia e Copa Uefa. Depois de contribuir com a dobradinha nacional, Alessio emplacou as grandes conquistas da carreira em 1996. Primeiro, fez parte do elenco que levantou o segundo título de Champions League da Juventus, atuando em quatro partidas da campanha. Em dezembro do mesmo ano, entrou no lugar de Zidane na final do Mundial de Clubes e contribuiu para a vitória por 1 a 0 sobre o River Plate, no estádio Olímpico de Tóquio.
O sucesso com uma das camisas mais pesadas do país lhe abriu as portas da seleção italiana. Em 1994, o jovem recebeu as primeiras oportunidades na equipe sub-21, comandada por Cesare Maldini, e dois anos depois foi campeão da Eurocopa da categoria. Antes disso, já havia estreado entre os “grandes”. Em 1995, atuou na Nazionale de Arrigo Sacchi numa vitória por 1 a 0 contra a Eslovênia.
Depois dos primeiros títulos e das chances na Squadra Azzurra, Tacchinardi continuou tendo sucesso no cenário nacional. Foram cinco títulos italianos (todos sob as ordens de Lippi), além de um cassado pela FIGC, a federação local. Na primeira passagem do treinador, Alessio conquistou três scudetti, entre 1994 e 1998, e foi crescendo como jogador.
Em 1999, aos 24 anos, se tornou titular da equipe na curta gestão de Carlo Ancelotti e manteve o lugar quando Lippi retornou e fez a Juventus acrescentar outro bicampeonato à sua sala de troféus, em 2002 e 2003. Nesse período, Takky ficou marcado por gols importantes, como no clássico contra o Torino.
Foi nessa época que o meia voltou à seleção após cinco anos de ausência das listas italianas: em 2000, foi convocado por Dino Zoff. Tacchinardi continuou sendo chamado por Giovanni Trapattoni, que o levou para a Copa do Mundo de 2002 – na qual não entrou em campo. O lombardo fez 13 jogos pela Nazionale, sendo o último em setembro de 2003, contra Sérvia e Montenegro, num empate por 1 a 1.
No ano em que se despediu da camisa azzurra, Tacchinardi também acrescentou um feito ao currículo – este, não muito lisonjeiro. Alessio é um dos recordistas de vice-campeonatos da Champions League com a camisa bianconera, o lado de Gianluigi Buffon e Paolo Montero. O volante amargou derrotas nas finais para Borussia Dortmund (1997), Real Madrid (1998) e Milan (2003).
O casamento de Tacchinardi com a Velha Senhora durou 11 anos. A relação chegaria ao fim depois da pequena utilização do jogador por parte do treinador Fabio Capello, em 2004-05. Tacchinardi vinha sofrendo com algumas lesões e as contratações de Patrick Vieira e Emerson deixaram o volante sem espaço, ocasionando sua menor presença em campo desde 1995-96: foram 24 aparições na temporada. Com isso, Alessio foi emprestado para o Villarreal, da Espanha, e fez parte de um importante momento da história da agremiação.
Em 2005-06, o clube espanhol surpreendeu ao eliminar a Inter e chegar às semifinais da Champions League, fase em que caiu para o Arsenal. O Submarino Amarelo, comandado por Manuel Pellegrini, teve Tacchinardi titular em grande parte dos jogos, nos quais fez parceria com Marcos Senna, brasileiro naturalizado espanhol. A solidez da dupla de hábeis ladrões de bola permitia que Juan Román Riquelme tivesse a liberdade necessária para articular as jogadas da equipe.
Em 2006, a Juventus foi punida com o rebaixamento para a Serie B, em virtude do envolvimento de seus dirigentes no escândalo Calciopoli. Com isso, o empréstimo de Tacchinardi foi renovado por uma temporada. Alessio teve menos tempo em campo no segundo ano de Espanha, mas ajudou o Villarreal a ficar com o quinto lugar em La Liga.
Com o fim do empréstimo, Takky retornou a Turim, mas não voltou a entrar em campo pela equipe bianconera. Às vésperas de seu aniversário de 32 anos, o jogador foi informado de que não entrava nos planos de Claudio Ranieri. Dessa forma, as partes optaram por rescindir o contrato de forma amigável: após 404 jogos, 15 gols e 14 títulos, acabava a grande passagem de Tacchinardi pela Juve.
Agente livre, Alessio aceitou o desafio de disputar a Serie B pelo Brescia, treinado por Serse Cosmi. Mesmo na parte final da carreira, o volante manteve o bom nível e teve sua temporada mais prolífica: em 36 jogos, marcou nove gols e levou o time da região da Lombardia ao quinto lugar na competição. Nos playoffs de acesso, os andorinhas foram eliminados pelo AlbinoLeffe, por causa de um gol sofrido em casa, e não subiram para a principal categoria nacional.
Tacchinardi ainda tinha um ano de contrato com o Brescia, mas optou por encerrar seu vínculo com o clube prematuramente, no verão de 2008. O jogador ainda treinou com uma formação amadora de Capergnanica, cidadezinha da província de Cremona, mas não se sentia mais estimulado a prosseguir com a carreira e optou por se aposentar.
Aposentado, Tacchinardi voltou a sua cidade natal e deu seus primeiros passos como treinador nas categorias de base do Pergocrema, na qual trabalhou em 2009-10 e 2012. Em 2012-13, Alessio também atuou no sub-17 do Brescia e, na sequência, treinou o time principal do Pergocrema, que assumira a denominação de Pergolettese após falência. Depois de quatro rodadas da quarta divisão, o jogador deixou o clube por motivos pessoais e passou a ser comentarista do canal Mediaset.
Em 2015, Tacchinardi retomou a carreira de treinador e comandou novamente a Pergolettese, desta vez na Serie D. Não obteve muito sucesso pelos canarinhos e, em 2018, comandou o Lecco, também na quarta categoria – mais tarde, voltaria a ter uma curta e malsucedida passagem pelos blucelesti. Em junho de 2019, o ex-volante voltou para sua cidade natal e também fracassou no comando do Crema. O mesmo ocorreu no Fano, com o qual foi rebaixado para a quarta divisão.
Se sua carreira como técnico não engrenou, pelo menos Tacchinardi tem como conforto o grande apreço da torcida da Juventus. Prova disso é que, em 2011, o ex-jogador recebeu uma bela homenagem quando o Allianz Stadium foi inaugurado. A partir de critérios estabelecidos pelo clube – como um mínimo de partidas disputadas com a camisa bianconera –, os torcedores puderam escolher 50 jogadores para integrar a calçada da fama da arena e Alessio foi um dos escolhidos. Uma glória merecida para um dos atletas mais vitoriosos da história da Juve.
Alessio Tacchinardi
Nascimento: 23 de julho de 1975, em Crema, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Atalanta (1992-94), Juventus (1994-2005), Villarreal (2005-07) e Brescia (2007-08)
Títulos como jogador: Serie A (1995, 1997, 1998, 2002 e 2003), Coppa Italia (1995), Supercopa Italiana (1995, 1997, 2002 e 2003), Champions League (1996), Europeu Sub-21 (1996), Mundial de Clubes (1996), Supercopa Uefa (1996) e Copa Intertoto (1999)
Clubes como treinador: Pergolettese (2013 e 2015-16) Lecco, (2018 e 2022), Crema (2019) e Fano (2021)
Seleção italiana: 13 jogos