Florenzi deu três beijos na bola antes de bater o último escanteio do jogo, como se esfregasse uma lâmpada mágica à procura de um gênio. Não teve jeito, gol e muito menos gênio. A Itália está fora do Mundial.
Uns jornalistas esbravejaram, outros não tinham mais voz pra tanto. Ainda assim, a chamada que correu por todos lados foi a que fez menção a um dramático “apocalipse”, segundo a Gazzetta dello Sport. A manchete foi inspirada em uma frase de Carlo Tavecchio, presidente da FIGC, que havia dito meses atrás que não ir à Copa do Mundo seria como o fim dos tempos.
Para suceder um apocalipse, só mesmo uma ressaca das bravas. Nesta terça, a saída do San Siro ainda está suja. Alguns ingressos, etiquetas de produtos oficiais e, principalmente, maços de cigarros estão espalhados pelo chão. Desse jeito fica fácil captar alguns sentimentos da noite anterior: otimismo, esperança, preocupação e posteriormente, desilusão.
Desilusão essa que também pôde ser facilmente percebida pelos que frequentam o metrô milanês. Na véspera da maledetta data, se via ora entusiasmo, ora preocupação; mas sempre barulho. Eram muitas as pessoas que falavam sobre o jogo e davam seus pitacos sobre como Ventura deveria preparar o time.
Já na manhã seguinte, apenas silêncio. Um nada comum silêncio que era explicado por tantas pessoas tristes lendo seus jornais com capas ainda mais tristes. As tantas palavras que enchiam as páginas faltavam nas pessoas.
Cabisbaixas e desacostumadas. Alguns poucos que falavam punham a culpam no treinador e em suas escolhas, outros diziam que a geração não se renovou e não tinha força para vestir a camisa; há ainda os que cravam que a eliminação começou na partida contra a Espanha, perdida por 3 a 0.
No parque Sempione, onde fica a tradicional Arena Civica di Milano, dois garotinhos caminhavam com uma bola embaixo do braço. Ambos discutiam quem era o culpado por aquele gol sofrido lá na Suécia.
Que não falte reflexão para as mais novas gerações italianas. E que desde cedo elas saibam o valor da camisa de seu país e onde ela deveria sempre estar.
Mas assim é o futebol, à tarde e à noite o metrô ia voltando ao normal. Todos trabalhando ou estudando, como manda a rotina. Vida normal, como deve ser.
A paixão do povo pelo futebol com certeza não será abalada pelo que aconteceu no San Siro; mas nessas horas diagnósticos e mudanças sempre precisam ser feitas.
E para isso não precisa de nenhum gênio da lâmpada, basta que quem comanda o futebol no país concentre seus esforços em uma retomada, com foco nos jogadores, nas categorias de base e nas competições do país.