Onze anos após ter conquistado a Europa pela primeira vez, a Juventus chegava ao seu segundo título continental. Batendo o Ajax, então detentor da taça, a Velha Senhora comandada por Marcello Lippi e recheada de grandes jogadores, como Alessandro Del Piero, Gianluca Vialli, Antonio Conte e Didier Deschamps, cravava o seu nome na história da Liga dos Campeões pela segunda e – até agora – última vez.
A Juventus se classificou para a Liga dos Campeões 1995-96 após ter conquistado a Serie A, numa época em que só vencedores nacionais entravam no torneio. A equipe de Turim caiu no Grupo C, juntamente com Borussia Dortmund, Rangers e Steaua Bucareste, e venceu quatro dos seis jogos – empatando um e perdendo o outro entre os restantes.
Líder da chave, com 13 pontos, o time bianconero avançou para as quartas de final, onde acabou emparelhado com o Real Madrid. O confronto contra os merengues foi equilibrado, com a Juve vencendo a disputa por 2 a 1, no placar agregado. Nas semifinais, o adversário foi o Nantes. Em mais um confronto difícil, a equipe de Lippi tomo um sufoco no jogo de volta, na França, mas derrotou os franceses por 4 a 3 no placar agregado.
Já o Ajax, que fora campeão europeu em 1995, teve uma campanha quase irretocável na temporada posterior. Invictos no Grupo D, que contava com Real Madrid, Ferencváros e Grasshoppers, os holandeses passaram por cima do Borussia Dortmund nas quartas e só conheceram a derrota no jogo de ida das semifinais, quando perderam por 1 a 0 para o Panathinaikos. Na volta, deram o troco ao time verde e branco, vencendo por 3 a 0 e garantindo a vaga na grande final da competição.
A final da Champions League foi em solo italiano, no estádio Olímpico de Roma. A Juve tinha grande parte dos 67 mil torcedores a seu favor na Cidade Eterna, portanto. Em um jogo que durou 120 minutos, a Velha Senhora precisou do apoio dos seus adeptos para, nos pênaltis, garantir que a orelhuda fosse da capital para Turim.
O jogo
A Juve de Lippi foi a campo em um 4-3-3, enquanto os holandeses, dirigidos por Louis van Gaal, se organizaram num 4-2-3-1 que podia virar, tranquilamente, um 3-4-3: é que Frank De Boer jogava como líbero e avançava bastante para encostar em seu irmão Ronald e em Edgar Davids. A defesa, então, ficava postada com Sonny Silooy e Winston Bogarde pelos lados e Danny Blind centralizado.
A partida começou com o Ajax tendo o domínio da posse de bola e a Juventus sendo mais agressiva e direta. Enquanto o time holandês trocava passes em “U”, na tentativa de quebrar a primeira linha de defesa juventina, a equipe italiana era feroz quando retomava a bola. Priorizando a troca de passes rápidos, a Velha Senhora queria, a todo custo, chegar à meta de Edwin van der Sar o mais rápido possível.
A primeira grande oportunidade da partida surgiu aos oito minutos, quando Moreno Torricelli arriscou de fora da área, Var der Sar deu rebote e Fabrizio Ravanelli jogou para fora. A raposa prateada não falharia duas vezes: cinco minutos depois, aos 13, o atacante aproveitou falha gigantesca de Frank De Boer e Van der Sar. O zagueiro cortou lançamento com um toque de cabeça mal feito e protegeu de forma mais relapsa ainda. Ravanelli, então, se adiantou a Van der Sar, driblou o arqueiro e bateu rasteiro, já caindo, para dentro da meta holandesa.
Com a defesa muito bem postada, a Juventus criava muitas dificuldades para Frank De Boer e companhia. Responsável pelo início da armação de jogadas da equipe holandesa, o zagueiro era obrigado a recorrer às bolas longas, na maioria das vezes em direção a Finidi George, no lado direito do campo. Já a Juve, quando saía jogando, buscava as laterais do gramado para aumentar a amplitude de jogo e criar buracos na defesa holandesa. As trocas de passe rápidos atacavam os espaços deixados e proporcionavam uma transição veloz e bastante agressiva.
Sem conseguir chegar ao gol de Angelo Peruzzi, o Ajax abusava dos lançamentos para Nwankwo Kanu, o ousado Kiki Musampa, Finidi e companhia. No entanto, as bolas direcionadas ao ataque não surtiam efeito e resultavam apenas em interceptações juventinas, que se convertiam imediatamente em perigosos contra-ataques. A zaga comandada por Ciro Ferrara parecia, naquele momento, uma verdadeira muralha. Protegido por uma barreira praticamente intransponível, Peruzzi mal sujava a camiseta.
A primeira grande chance holandesa veio apenas aos 34 minutos de jogo. Musampa chutou mal, Bogarde desviou e Kanu, de cabeça, encobriu Peruzzi que rapidamente se recuperou para espalmar a bola de cima da linha. Apesar do susto, Kanu estava em posição irregular no momento da cabeçada, o que anulou a jogada do Ajax.
A meta bianconera só seria furada aos 41 minutos, quando Jari Litmanen, que estava sumido na partida, aproveitou rebote de Peruzzi, após falta cobrada por Frank De Boer. O artilheiro da Liga dos Campeões chegava a seu nono gol na competição e colocava os atuais campeões de volta na partida, após um primeiro tempo fraco e pouco criativo. Ajax e Juventus iriam para o intervalo empatados em 1 a 1.
Na volta do intervalo, Louis van Gaal tirou Kiki Musampa e colocou Patrick Kluivert, formando, assim, um trio de ataque com média de 1,91m de altura. Apesar da entrada de um atacante do quilate de Kluivert, o segundo tempo transcorreu sem que grandes oportunidades de gols fossem criadas. O jogo era nervoso, pegado, truncado e com bastante erros no último terço do gramado.
A primeira grande chance bianconera no segundo tempo veio com Michele Padovano, que entrou aos 77 minutos no lugar de Ravanelli. A oportunidade aconteceu graças a um dos melhores jogadores da Velha Senhora na partida: Torricelli, que encontrou o atacante livre dentro da grande área. A bola chegou limpa, mas um pouco alta para o camisa 16, que se esticou e cabeceou a pelota sem muita direção. A mais clara ocasião, porém, ocorreu aos 86, com Vialli. O capitão bianconero aproveitou o chute travado de Padovano e driblou Van der Sar, mas finalizou na parte externa da rede.
Depois do erro de Vialli, que fazia sua última partida com a camisa juventina, tivemos prorrogação. A tensão era evidente e o tempo extra foi marcado por muitas chegadas fortes e alguns sustos. Os jogadores sentiam o peso da decisão, que foi muito disputada do começo ao fim, mas sempre com superioridade bianconera.
Isso se refletiu na Juventus dominando as ações finais e levando enorme perigo a Van der Sar, geralmente com tentativas de Del Piero. Nos últimos 15 minutos, Ale quase forçou Silooy a anotar contra a sua própria meta, mas o jogo já estava praticamente decidido. Apesar das tentativas italianas de resolver a partida com a bola rolando, o Ajax levou a decisão para os pênaltis.
Para as cobranças, Lippi escolheu Ferrara, Gianluca Pessotto, Padovano e Vladimir Jugovic. Todos os selecionados do treinador bianconero anotaram os seus gols. Do lado holandês, Van Gaal mandou Davids, Litmanen, Arnold Scholten e Silooy. O primeiro bateu mal, no meio, garantindo uma defesa fácil para Peruzzi. Já o último, Silooy, tentou tirar do arqueiro italiano, mas não foi feliz e atrasou para o goleiro, que defendeu sem grandes problemas. O quinto batedor juventino nem precisou entrar em ação, já que Jugovic converteu a penalidade decisiva.
Com a vitória nos pênaltis, a Juve se sagrava bicampeã europeia 11 anos depois de ganhar seu primeiro título e não poder festejá-lo de forma apropriada. Afinal, em 1985 ocorrera a Tragédia de Heysel, com 39 mortos – entre os quais, 32 torcedores bianconeri.
De 1996 para cá, a maior campeã italiana vem acumulando desilusões na principal competição da Europa. A Juventus disputou cinco finais, mas amargou o vice-campeonato em todas elas. Não à toa, os juventinos têm como maior sonho conquistar o continente mais uma vez. Para romper a escrita negativa dos últimos anos, eles contam com o segundo maior vencedor do torneio a seu lado: Cristiano Ronaldo.
Ajax 1-1 Juventus (2-4 nos pênaltis)
Ajax: Van der Sar; Silooy, Blind, F. De Boer (Scholten), Bogarde; R. De Boer (Wooter), Davids; Finidi, Litmanen, Musampa (Kluivert); Kanu. Técnico: Louis van Gaal.
Juventus: Peruzzi; Torricelli, Ferrara, Vierchowod, Pessotto; Conte (Jugovic), Paulo Sousa (Di Livio), Deschamps; Ravanelli (Padovano), Vialli, Del Piero. Técnico: Marcello Lippi.
Local e data: estádio Olímpico, Roma (Itália), em 22 de maio de 1996
Gols: Litmanen (41′); Ravanelli (13′)
Pênaltis convertidos: Litmanen e Scholten; Ferrara, Pessotto, Padovano e Jugovic
Pênaltis perdidos: Davids e Silooy
Árbitro: Manuel Díaz Vega (Espanha)