Jogador que desempenhava diversas funções no ataque, podendo atuar como referência, segundo atacante ou até mesmo mais aberto. Esse era Massimo Maccarone, goleador que teve um início promissor no futebol. Cercado de expectativas, não se tornou tudo aquilo que se esperava, mas ainda assim foi um atleta respeitável, com algumas ótimas fases. Sua marca registrada era a qualidade nos chutes de média e longa distância: quando ele armava para dentro e finalizava com a firmeza habitual, era sinal de que o goleiro adversário estava em apuros.
Um início promissor
Nascido em Galliate, na região do Piemonte, Maccarone ingressou nas categorias de base do Milan quando tinha 13 anos, em 1993. Antes, na infância, fora descoberto em um pequeno torneio realizado em Novara, e passara por escolinhas locais. Além disso, trabalhava meio período como vendedor de frutas. Em 1994, Itália e Brasil decidiam a Copa do Mundo e ele, desesperado para assistir à peleja, destruiu intencionalmente uma caixa de melões, com o intuito de ser demitido a tempo de acompanhar o jogo. O plano foi bem sucedido, mas o resultado da disputa de pênaltis certamente desagradou o futuro goleador.
Quando subiu aos profissionais, Massimo estava cotado para receber chances do treinador rossonero Fabio Capello, mas a alta competitividade no setor ofensivo milanista, com nomes do porte de George Weah e Patrick Kluivert, fez com que nunca atuasse pelo time principal. Ali começaria uma peregrinação. Inicialmente emprestado ao Modena, acabou ficando somente dois meses na equipe emiliana e foi para o Prato, que disputava a Serie C2.
Maccarone defendeu os biancoazzurri durante um ano e meio, com um parêntese de apenas um mês no Varese, da terceira divisão, em agosto de 1999. Em sua segunda temporada na Toscana, o atacante obteve destaque graças aos 21 gols marcados na Serie C2, que lhe deram a artilharia do certame. Guiado por Massimo, o time chegou às finais dos playoffs de acesso em 1999 e 2000, mas foi batido por AlbinoLeffe e Alessandria, respectivamente.
Depois de tanto perseguir a Serie B, o piemontês acertou com o Empoli, que disputava a competição. Foi neste ponto que sua carreira começou a decolar. Formou dupla de ataque com Antonio Di Natale e, juntos, marcaram 26 tentos – sendo 16 de Maccarone. A parceria de gols da dupla continuou em 2001-02, agora invertendo os números (Macca anotou 10 e Totò, 16), e os azzurri garantiram a promoção à elite. Para Massimo, foi uma conquista particularmente especial. Isto porque, ao princípio daquela temporada, Fatih Terim, treinador do Milan, cogitou experimentar o atacante, que chegou a realizar exames médicos e tudo mais. No fim das contas, a equipe toscana assegurou a permanência do jogador no elenco.
Pela seleção sub-21, também se destacou. No Europeu da categoria, naquele mesmo ano, brilhou marcando uma doppietta no triunfo por 2 a 1 diante da Inglaterra, em Leeds; ele e Andrea Pirlo acabaram com o jogo. Vivendo dias especiais, mal sabia que em pouco tempo estaria jogando pelo time principal da Nazionale.
Em pouquíssimo tempo, na verdade. Por conta de uma lesão sofrida por Christian Vieri, o treinador da Squadra Azzurra, Giovanni Trapattoni, conversou com Claudio Gentile, comandante dos azzurrini, e convocou Maccarone para atuar 24 horas depois, também contra o English Team, mas agora em um amistoso preparatório para a Copa do Mundo. Ele entrou aos 30 da segunda etapa, quando o placar indicava 1 a 1, e foi quem sofreu o pênalti (ao driblar o goleiro David James), que Vincenzo Montella converteu para selar a vitória por 2 a 1.
Com apenas 22 anos de idade, Maccarone foi o primeiro jogador da segundona a ser convocado para a seleção principal da Itália desde Daniele Carnasciali, em 1993. Indo mais além, a última vez que um atleta foi chamado pela Nazionale sem nunca ter disputado uma peleja de Serie A havia sido em 1929, com Raffaelle Costantino – depois de Massimo, Marco Verratti, Nicolò Zaniolo, Sandro Tonali, Alex Meret e Vincenzo Grifo repetiram o feito. O piemontês ainda fez mais uma partida pela Squadra Azzurra, em outubro de 2002, quando entrou no finalzinho da derrota sofrida para o País de Gales (2 a 1), naquela que foi sua derradeira aparição com o manto nacional.
“Big Mac”
Vivendo grande fase, passou a ser cobiçado por alguns clubes. Dentre os pretendentes (Juventus e Chelsea eram alguns deles), optou por assinar com o Middlesbrough, que desembolsou pouco mais de 8 milhões de euros e o tornou, à época, a sua contratação mais cara. O treinador do time inglês, Steve McClaren, foi só elogios ao novo reforço: “Compramos o futebolista italiano que mais se parece com [Alessandro] Del Piero”, disse, empolgado. O Boro, que contava com os brasileiros Juninho Paulista e Doriva em seu elenco, ambicionava brigar na primeira metade da tabela da Premier League.
O começo de Maccarone no novo clube foi positivo e ele foi o artilheiro da equipe, com nove gols na primeira divisão, com destaque para uma doppietta anotada sobre o Tottenham, em sonora goleada por 5 a 1, fora de casa. O sucesso repercutiu nos tabloides italianos, e a Gazzetta dello Sport o apelidou de “Big Mac”. Ele emendou uma sequência de três partidas seguidas marcando, e viu a empolgada imprensa britânica especular que ele poderia ser o novo galático do Real Madrid.
Uma lesão sofrida no princípio da temporada seguinte, contudo, entregou dificuldades ao atacante italiano. Quando foi liberado pelo departamento médico para voltar a atuar, viu seus minutos no gramado diminuírem e chegou a ficar 104 dias sem marcar gols. Em fevereiro de 2004, não foi a campo, mas fez parte da conquista da Copa da Liga Inglesa, quando o Boro bateu o Bolton Wanderers por 2 a 1.
Cansado de ficar mais no banco do que em campo, expressou o desejo de retornar à Itália e teve o pedido aceito. Na primeira metade da temporada 2004-05, defendeu, sem sucesso, o Parma, que era treinado por Silvio Baldini, um velho conhecido dos tempos de Empoli. Foram apenas 12 partidas disputadas, mas é possível extrair algo positivo: a passagem pelos crociati marcou o debute de Maccarone em torneios europeus, e com direito a show. Na estreia da Copa Uefa, fez dois gols e deu uma assistência na vitória por 3 a 2 sobre o Maribor, da Eslovênia. Em janeiro, na janela de inverno, rumou de volta à Toscana e fechou novo empréstimo, agora para o Siena. Massimo anotou sete vezes em 17 compromissos e ajudou a salvar os bianconeri do rebaixamento.
Sentindo ainda ser capaz de reescrever sua história no futebol britânico, regressou a Riverside motivado para provar seu valor. Ainda sem prestígio com McClaren, era o último atacante na fila, atrás de Mark Viduka, Yakubu Ayegbeni e Jimmy Floyd Hasselbaink. Teve desempenho pífio na Premier League, com dois gols em 17 jogos, mas sempre procurava dar o melhor de si nos poucos minutos que recebia. Na Copa Uefa, escreveu capítulos especiais e marcou cinco vezes, tornando-se uma espécie de talismã improvável. Os dois primeiros vieram na fase de grupos, contra o Litex Lovech, da Bulgária. O Boro avançou à fase de mata-mata como líder de seu grupo e eliminou Stuttgart (16 avos de final) e Roma (oitavas).
Nas quartas de final, depois de o ingleses terem perdido na Suíça para o Basel, por 2 a 0, foi de Big Mac o quarto e salvador gol na partida de volta, quando os mandantes tinham a vantagem de 3 a 1 e precisavam marcar mais um para garantirem a classificação. Nas semifinais, o filme se repetiu, só que com uma dose maior de emoção.
Tendo perdido na Romênia para o Steaua Bucareste pelo placar mínimo, o Middlesbrough viu a dificuldade aumentar ainda mais na volta, quando os visitantes abriram 2 a 0 em Riverside. Precisando novamente de quatro gols para reverter a vantagem, McClaren chamou Maccarone do banco de reservas. O italiano retribuiu a confiança marcando duas vezes, sendo uma delas no penúltimo minuto da partida. Macca garantiu o Boro na decisão, que acabou sendo vencida pelo Sevilla de forma incontestável, por 4 a 0.
Na temporada seguinte, McClaren assumiu como treinador da Inglaterra e Gareth Southgate, que havia se aposentado pelo Boro meses antes, foi anunciado como seu substituto. A situação não mudou para Big Mac, que só foi titular uma vez na Premier League, na derrota por 2 a 0 para o Watford. Em janeiro de 2007, o atacante conseguiu fechar em definitivo com o Siena, sem custos, e firmou três anos de contrato. Ele deixou a Grã-Bretanha com palavras nada agradáveis endereçadas a McClaren. “A pessoa mais hipócrita e falsa que já tive a infelicidade de conhecer no futebol”.
Reencontrando os gols
De volta ao Siena, reencontrou o caminho das redes e teve boa participação: seis tentos em 11 jogos, com direito a uma doppietta em uma partida insana contra o Milan. Os rossoneri venceram por 4 a 3, com dois de Ronaldo, um de Ricardo Oliveira e um gol contra, aos 49 do segundo tempo, de Simone Vergassola, que havia marcado o primeiro dos bianconeri.
Um ano mais tarde, com 13 gols anotados, Macca foi peça importante na manutenção do clube toscano na Serie A. Já em 2008-09, acumulou alguns pequenos jejuns e fechou sua participação com 10 tentos em 32 ocasiões, o que não foi muito diferente da temporada seguinte, quando balançou as redes 12 vezes em 37 compromissos. Maccarone deixou o Siena em 2010-11 e acertou a ida para o Palermo. Até hoje, é o segundo maior artilheiro da história do bianconeri: guardou a bola na casinha em 49 ocasiões, uma a menos do que Emanuele Calaiò.
Big Mac não deu certo no clube rosanero: deixou a Sicília seis meses depois, com cinco gols em 26 aparições, e foi para a Sampdoria. Em Gênova, as coisas também não aconteceram. Em janeiro de 2012, surgiu a possibilidade de um retorno ao Empoli, treinado por Maurizio Sarri, e a escolha se provou mais do que correta. Naturalmente mais maduro em sua segunda passagem, Maccarone assumiu o papel de líder e tornou-se capitão da equipe. Um de seus hábitos era organizar, sempre às quintas à noite, um jantar para todo o elenco. Outro apelido que ele recebeu na carreira foi “Piccolo Vialli”, em alusão a Gianluca Vialli, seu ídolo de infância, com quem compartilha a cabeça sempre raspada com máquina zero.
Maccarone marcou 33 gols ao longo das duas temporadas seguintes, com destaque para o acesso à Serie A, obtido em 2013-14. No retorno à elite do futebol nacional, o Empoli foi o 15º colocado, praticando um futebol agradável de ver. Depois, Sarri assumiu o Napoli e Marco Giampaolo foi contratado para o seu lugar.
Com a mudança de treinador, o Empoli passou a ser visto com desconfiança. No entanto, o time toscano conseguiu ter uma boa participação na Serie A e ficou com o 10º lugar, graças às colaborações dos jovens Lukasz Skorupski Leandro Paredes, Piotr Zielinski e Riccardo Saponara, além dos gols de Maccarone, que viveu um momento curioso na 17ª rodada. Em um jogo fora de casa contra o Bologna, Big Mac marcou duas vezes no triunfo por 3 a 2, mas o grande destaque foi uma de suas comemorações. Após o segundo tento, ele foi correndo até a arquibancada e pegou um copo de cerveja na mão de um amigo, dando um belo gole. O parceiro era Tomas Locatelli, que havia sido companheiro do atacante em sua primeira passagem pelo Siena.
Em 2016-17, as chegadas de Alberto Gilardino e Manuel Pasqual foram tentativas de fazer com que o Empoli vivesse dias mais tranquilos, mas o que aconteceu foi o oposto. Na primeira metade da temporada, o time não conseguia ser consistente, mas a situação não chegava a ser crítica por causa do péssimo desempenho das equipes que brigavam na parte inferior da tabela. Gila deixou o clube seis meses depois, e os azzurri perderam sete jogos seguidos. Chegaram na última rodada com chances de salvação, mas sofreram um revés por 2 a 1 do Palermo, que selou a queda à Serie B. Em 28 aparições na campanha, Macca anotou cinco vezes.
De ídolo a bode expiatório
Imediatamente, dúvidas começaram a pairar no ar. Como uma equipe que havia garantido um seguro 10º lugar um ano antes tinha sido rebaixada dessa forma? Neste tipo de situação, as pessoas tendem a procurar por um bode expiatório, e Maccarone foi o eleito pelos torcedores. A razão? Sua recusa em falar com a imprensa após a derrota para o Palermo.
O atacante escreveu uma carta aberta para comentar tudo o que estava acontecendo e explicar porquê: “A decepção e a tristeza foram tão grandes que eu não consegui encarar os microfones. Sei que muitos não entenderam meu silêncio. Eu sou o capitão e, como um líder deve fazer, assumo a responsabilidade por este ano que começou mal e terminou mal. Empoli é minha cidade adotiva, onde cresci como jogador e homem, e onde comecei uma família e lancei as bases para o meu futuro. Vou levar o Empoli e sua torcida em meu coração aonde quer que eu vá”.
Outrora herói do Empoli e agora magoado com tudo o que vinha acontecendo, Maccarone, aos 38 anos, precisava respirar novos ares e fechou com o Brisbane Roar, da Austrália. Ao todo, somando as duas passagens, foram sete temporadas e meia defendendo os azzurri, com 101 gols feitos em 280 partidas – apenas Francesco Tavano, com 120, balançou as redes mais vezes pelos toscanos. A ideia de rumar para a Oceania surgiu de Vincenzo Grella, ex-volante australiano que atuou com Macca no Empoli. Assim que percebeu que a situação do atacante estava azedando por lá, Grella, no dia seguinte, intermediou toda a negociação.
Do outro lado do mundo, continuou fazendo seus golzinhos e teve uma experiência positiva. Passado um ano, acertou o retorno à Itália para encerrar sua trajetória no futebol atuando pela Carrarese, a pedido de Silvio Baldini. Foram duas temporadas disputando a Serie C, 58 partidas disputadas e nove tentos anotados.
Macca pendurou as chuteiras em meados de 2020, com quase 41 anos, e passou a integrar a comissão técnica de Baldini, até a saída do treinador para o Palermo, em 2021. Pouco depois, visando se aprimorar fora das quatro linhas, Maccarone obteve a licença A da Uefa e, caso mantenha a força mental e capacidade de concentração que tinha nos tempos de jogador, pode ser um dos nomes interessantes da nova geração de comandantes italianos. Por enquanto, só passou por Ghiviborgo e Piacenza, nas categorias inferiores.
Massimo Maccarone
Nascimento: 6 de setembro de 1979, em Galliate, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Milan (1997-98), Modena (1998), Prato (1998-99), Varese (1999), Empoli (2000-02 e 2012-17), Middlesbrough (2002-07), Parma (2004), Siena (2005-06 e 2006-10), Palermo (2010-11), Sampdoria (2011-12), Brisbane Roar (2017-18) e Carrarese (2018-20)
Títulos como jogador: Copa da Liga Inglesa (2004)
Clubes como treinador: Ghiviborgo (2022-23) e Piacenza (2023)
Seleção italiana: 2 jogos