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O canhoto Anders Limpar foi o bálsamo de uma frágil Cremonese

Nas décadas de 1980 e 1990, quando a Serie A era o campeonato mais forte do mundo, com alguma distância para os demais, até mesmo times modestos tinham craques em seus elencos. Foi assim com a Cremonese, um verdadeiro ioiô daqueles tempos: numa das campanhas em que terminou rebaixada para a segundona, a equipe grigiorossa teve o prazer de contar com o sueco Anders Limpar, um clássico meia canhoto, com boa visão de jogo e muita agilidade. Um autêntico camisa 10.

Anders nasceu em Solna, na região metropolitana de Estocolmo, capital da Suécia – apesar disso, tem raízes magiares, já que o sobrenome Limpar é de origem húngara. Em 1981, aos 16 anos, o jogador começou sua carreira no Brommapojkarna, conhecido pela revelação de talentos, e disputou campeonatos de segunda e terceira divisão até ser notado, em 1986, pelo Örgryte, que fora campeão nacional na temporada anterior.

Pelos azuis e vermelhos, Limpar disputou uma Copa dos Campeões e três Campeonatos Suecos, ajudando-os a se classificarem uma vez para a Copa Uefa. Em 1988, quando já representava a seleção da Suécia e estava prestes a completar 23 anos, o meio-campista se transferiu para um dos times mais populares da Suíça: o Young Boys, que vinha de títulos recentes na liga e na copa do país.

Limpar disputou apenas uma temporada pelo time helvético. Nela, anotou oito gols em 28 partidas, ajudando o Young Boys a fazer um campeonato tranquilo. Além disso, foi o camisa 10 da Suécia na disputa dos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul. Tudo isso chamou a atenção da Cremonese, que havia garantido a promoção para disputar a Serie A pela terceira vez em sua história.

O time do presidente Domenico Luzzara decidiu apostar no técnico Tarcisio Burgnich, que vinha de passagens decepcionantes pelo Como, na Serie A, e no Catanzaro, na B. Além de Limpar, a equipe foi buscar o argentino Gustavo Dezotti, que havia feito uma temporada negativa pela Lazio e buscava se redimir, e o paraguaio Gustavo Neffa, que jogara bem pelo Olimpia e chegava por empréstimo junto à Juventus. Seriam os três estrangeiros permitidos para abrilhantar um elenco que ainda tinha Michelangelo Rampulla, Felice Garzilli, Luigi Gualco, Giuseppe Favalli, Dario Marcolin, Riccardo Maspero e Alviero Chiorri.

Bastou um ano para Limpar mostrar o seu talento no futebol italiano (Ivano Frittoli)

No campeonato, a equipe grigiorossa praticou um futebol prudente, baseado no contra-ataque, e precisava de Limpar e de Maspero, seus canhotos de classe, para arquitetar as jogadas. Com classe, o sueco ajudou Dezotti a anotar 15 gols durante a temporada, sendo 13 na Serie A, e também marcou os seus – foram três em 26 aparições. A Cremonese se manteve na luta pela manutenção na elite italiana até as rodadas finais, mas acabou caindo. O talento do camisa 10 não foi suficiente para evitar o pior.

Limpar fez o seu primeiro gol logo na segunda rodada, em derrota em casa para o Cesena em 2 a 1. Seu tento seguinte pela equipe não demorou muito para sair e ocorreu na sétima jornada, num empate em 1 a 1 contra o Bologna – e foi um golaço, com um petardo sem ângulo. Anders, lesionado, perdeu quatro partidas consecutivas no fim do turno inaugural e a Cremonese sofreu sem o sueco, de modo que só conseguiu uma vitória no período, sobre o Ascoli.

O habilidoso meio-campista ainda marcou na vitória por 2 a 1 sobre a Lazio, pela 20ª rodada, e foi peça importante no resto da campanha grigiorossa. No fim de março de 1990, após novo triunfo sobre o Ascoli, a permanência na Serie A parecia estar ao alcance da Cremonese, mas quatro derrotas nas últimas quatro jornadas (para Juventus, Roma, Bari e Sampdoria) decretaram o veredito da equipe lombarda, que terminou na 17ª colocação e retornou à segundona.

Após o descenso, Limpar seguiu na Itália para disputar a Copa do Mundo de 1990. O meia entrou em campo nos jogos contra Brasil e Escócia, mas a Suécia terminou eliminada ainda na fase de grupos. Depois disso, o Arsenal pagou 1 milhão de libras esterlinas e levou o destaque da Cremonese para o futebol inglês.

Em seu primeiro ano pelos Gunners, Anders conseguiu o título inglês, sendo importante em toda a campanha. Limpar fez o gol decisivo num clássico com o Manchester United marcado por uma briga generalizada entre as equipes, e até guardou uma tripletta na goleada por 6 a 1 sobre o Coventry. Ao todo, foram 13 tentos – um desempenho que lhe rendeu, em 1991, o Guldbollen, prêmio dado ao melhor jogador sueco da temporada.

A Cremonese foi rebaixada, mas Limpar conseguiu se destacar como um dos bons meias da Serie A (Ivano Frittoli)

Em 1991-92, Limpar sofreu uma lesão na mandíbula, que o manteve afastado dos gramados por várias semanas. Ainda assim, ele contribuiu de forma expressiva para a campanha do Arsenal, como quando anotou um gol do meio da rua na vitória por 4 a 0 sobre o Liverpool. Ao fim da temporada, Anders foi titular da Suécia na Euro e ajudou os auriazuis, donos da casa, a serem semifinalistas da competição.

Seus dois anos seguintes de Arsenal foram marcados por lesões e por desentendimentos com o técnico George Graham – fatores que acabaram limitando a sua presença em campo. Limpar ainda conquistou os títulos da FA Cup e da Copa da Liga Inglesa pelo clube, mas a baixa minutagem naquelas temporadas comprometeu a sua continuidade no onze titular da Suécia. Assim, ele foi reserva na histórica campanha no Mundial de 1994 e só atuou nos últimos minutos da goleada por 4 a 0 sobre a Bulgária, que coroou o terceiro lugar dos escandinavos na competição.

Limpar bem que tentou evitar este ostracismo. Afinal, em março de 1994 ele já havia se transferido ao Everton – mas, como vimos, isto não adiantou. Pelos Toffees, o sueco ofereceu algumas memoráveis contribuições: contra o Wimbledon, cavou um pênalti que evitou o rebaixamento do time azul, naquele mesmo ano. Já em 1995, foi o autor da assistência para o gol solitário de Paul Rideout, ex-Bari, na final da FA Cup. contra o Manchester United.

O sueco também ganhou a Community Shield de 1995 com o Everton, mas perdeu espaço em definitivo na temporada 1996-97, quando somou apenas duas aparições. Limpar acabou se transferindo ao Birmingham, mas também fracassou pelo clube. Em seus últimos momentos como profissional, faturou a Allsvenskan e a Copa da Suécia pelo AIK, disputou a Major League Soccer pelo Colorado Rapids e também defendeu Djurgarden e Brommapojkarna. Em 2001, devido a lesões persistentes, se aposentou, aos 35 anos.

Fora dos gramados, o ex-jogador abriu o Limp Bar, em Estocolmo, e treinou equipes juvenis – a do Djurgarden e a do Sollentuna United. Neste segundo clube, chegou a quebrar o galho numa partida do time reserva, atuando como lateral-esquerdo aos 43 anos. Depois, já aos 56, fez uma graça na quinta divisão sueca ao anotar um gol do meio-campo pelo Hede. Em suma, foi o mesmo Anders que conseguiu mostrar seu talento cercado pelas adversidades, como nos tempos de Cremonese.

Anders Erik Limpar
Nascimento: 24 de setembro de 1965, em Solna, Suécia
Posição: meio-campista
Clubes: Brommapojkarna (1981-86 e 2001-02), Örgryte (1986-88), Young Boys (1988-89), Cremonese (1989-90), Arsenal (1990-94), Everton (1994-97), Birmingham City (1997), AIK (1998-99), Colorado Rapids (1999-2000) e Djurgarden (2000)
Títulos: Premier League (1991), FA Cup (1993 e 1995), Copa da Liga Inglesa (1993), Charity Shield (1995), Campeonato Sueco (1998) e Copa da Suécia (1999)
Seleção sueca: 58 jogos e 6 gols

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