Durante o período mais frutífero de sua história, na década de 1990, a Cremonese contou com o talento e a fidelidade de um estrangeiro. O meia-atacante esloveno Matjaz Florjancic defendeu a equipe grigiorossa por cinco anos, com um título conquistado e, depois de se tornar ídolo dos tigri, acabou fincando raízes na Itália.
Matjaz nasceu em Kranj, terceira maior cidade da Eslovênia. Na época em que veio ao mundo e em que começou a jogar futebol, o país ainda integrava a Iugoslávia e isso acabou sendo um fator importante para que seu primeiro clube como profissional fosse de outra república: Florjancic atuava na base do Triglav quando, em 1987, foi parar no Rijeka, da Croácia. Após quatro temporadas e meia ajudando o time branco a se manter no centro da tabela da liga iugoslava, o jogador de 23 anos foi adquirido pela Cremonese.
A Cremo era uma equipe forte demais para a Serie B e frágil demais para a elite. Naquela época, se comportava como um verdadeiro ioiô: subiu em 1984 e caiu em 1985, flertou com o acesso até retornar em 1989 e, outra vez, fez um bate-volta na segundona. Em 1991-92, a nova temporada na máxima categoria começou do pior dos modos, com apenas uma vitória em nove rodadas. Por isso, em novembro de 1991, o time da Lombardia, treinado por Gustavo Giagnoni, aproveitou a janela de transferências do outono para se desfazer do paraguaio Gustavo Neffa e buscar Florjancic, que assumiria o posto de terceiro estrangeiro do elenco – os outros eram o atacante argentino Gustavo Dezotti e o meia uruguaio Rubén Pereira.
Florjancic até tentou fazer a sua parte. O veloz e habilidoso esloveno foi imediatamente alçado ao posto de titular da Cremonese e começou jogando nas 25 rodadas restantes da Serie A. O meia-atacante se adaptou rapidamente ao futebol italiano e marcou quatro gols, contribuindo diretamente para vitórias sobre Lazio e Ascoli, mas não foi capaz de evitar o descenso dos grigiorossi. O time da Lombardia amargou a penúltima posição no certame.
Na temporada 1992-93, a Cremonese contratou o técnico Luigi Simoni, o que não representou exatamente uma grande notícia para Florjancic. Ao menos sob o ponto de vista de sua minutagem. Matjaz passou a alternar com Dezotti e o reforço Andrea Tentoni, e virou peça de segundo tempo: dos 31 jogos da Serie B em que atuou, apenas 11 deles foram como titular. Mesmo assim, o esloveno contribuiu com quatro gols na campanha do vice-campeonato dos grigiorossi, que voltaram à elite.
Além dessa satisfação, Florjancic teve mais outras duas alegrias. A primeira ocorreu quando ele pode estrear pela recém-formada seleção da Eslovênia, num amistoso contra o Chipre, que terminou empatado em 1 a 1. A outra foi na Copa Anglo-Italiana, realizada entre novembro de 1992 e março de 1993 e concluída com título da Cremonese em Wembley. Matjaz anotou sete gols na competição, disputada por oito clubes da Serie B e oito da segunda divisão inglesa: balançou as redes contra West Ham, Tranmere, Derby County, Bristol City e Bari. Embora tenha sido meio fominha na decisão, foi muito importante para a conquista da taça.
Em 1993-94, a Cremonese finalmente conseguiu permanecer na Serie A. Num torneio muito disputado, a equipe grigiorossa ficou na décima posição, com 32 pontos, acima de uma gigante como a Inter e a apenas dois pontinhos do rival Piacenza, que foi rebaixado. Para Matjaz, o ano foi, novamente, de muito tempo no banco de reservas – foi titular em apenas sete das 28 partidas que disputou. O único tento do esloveno, contudo, ocorreu na histórica goleada por 4 a 0 da Cremo sobre os piacentinos, no Dérbi do Pó.
Florjancic recuperou a titularidade em 1994-95, quando a Cremonese vendeu o seu camisa 10, Riccardo Maspero, para a Sampdoria. Assim, Gigi Simoni decidiu recuar o esloveno, que teria a missão de abastecer um ataque formado por Tentoni e Enrico Chiesa, que substituía Dezotti. Matjaz ajudou a equipe com cinco gols em 34 partidas disputadas, sendo que todos os seus tentos foram anotados em vitórias. O meia-atacante conseguiu uma doppietta sobre o Napoli e também vitimou Samp, Reggiana e Padova. Este último jogo, aliás, foi um confronto direto e o triunfo era considerado fundamental para os grigiorossi, que flertavam com a zona de descenso faltando poucas rodadas para o fim do certame.
O ano seguinte, contudo, foi marcado pelo doloroso adeus da Cremonese da elite – e, também, pela saída do próprio Florjancic. O esloveno foi titular absoluto da equipe grigiorossa, figurando no onze inicial em 32 das 35 partidas que realizou, e jogou frequentemente como ponta pela esquerda e segundo atacante, o que lhe permitiu marcar seis gols. No entanto, o time lombardo era muito irregular – capaz, por exemplo, de aplicar e tomar goleadas de 7 a 1 na mesma competição, em duelos com Bari e Milan, respectivamente.
Além de amargar a queda, a Cremonese começava a ser afetada por uma intensa crise financeira, que provocou o redimensionamento do elenco e, alguns anos depois, quase lhe levou à falência. Dessa forma, o presidente Domenico Luzzara precisou vender peças importantes, como Florjancic. Depois de 161 partidas e 28 gols pelos tigri, o meia-atacante esloveno se transferiu para o Torino, que também havia sido rebaixado para a Serie B.
Matjaz foi uma das principais contratações do Toro para a disputa da segundona, ao lado dos atacantes Fabrizio Cammarata e Marco Ferrante. Com o número 10 nas costas, fez um primeiro turno espetacular, com seis gols marcados, e ajudou o time grená a ficar na vice-liderança. Contudo, a equipe teve uma queda brusca de rendimento na metade final da temporada e concluiu o certame apenas na nona posição, distante do acesso. Florjancic, que também foi afetado pela má fase, terminou o ano como uma das peças mais utilizadas pelos piemonteses, com 38 aparições, e sete tentos. A Cremonese, sua antiga empregadora, viveu momento ainda pior e segurou a lanterna da categoria, o que lhe levou a um sofrido rebaixamento.
O desempenho de Florjancic pelo Torino, contudo, o levou de volta à Serie A. O Empoli, que ficou com o vice da segundona em 1996-97, decidiu contratar o esloveno, que estava prestes a completar 30 anos, para deixar o elenco mais experiente. Luciano Spalletti, que era o técnico dos azzurri, fez Matjaz alternar com Giovanni Martusciello e Massimiliano Cappellini – eles abasteciam o artilheiro Carmine Esposito, que marcou 14 gols. Saindo frequentemente do banco, o meia-atacante anotou seis tentos e contribuiu para a permanência dos toscanos na elite.
A produtiva temporada pelo Empoli acabou sendo uma espécie de canto do cisne de Florjancic. Após cumprir a missão de manter o time azzurro na primeira divisão, o esloveno topou retornar à segundona para defender a Fidelis Andria, que voltava à categoria, mas não conseguiu evitar o descenso dos apulianos.
Na sequência, Matjaz aceitou a proposta do Alzano Virescit, estreante na Serie B, e apesar de ter sido um dos principais nomes do time de Bérgamo, também não teve condições de impedir a queda dos xadrezes bianconeri. O meia-atacante ainda amargou um rebaixamento para o quarto nível do futebol italiano pelos bergamascos e passou rapidamente por Crotone e Pro Sesto antes de se aposentar, com quase 35 anos.
Depois de pendurar as chuteiras, Florjancic passou mais de uma década afastado do futebol. Em 2013, porém, foi anunciado como auxiliar do compatriota Matjaz Kek no Rijeka – clube que pertencia ao empresário italiano Gabriele Volpi, também ex-proprietário do Spezia. Após dois anos no cargo, o ídolo da Cremonese retornou à sua cidade natal para ser técnico do Zarica, da quarta divisão eslovena.
Matjaz Florjancic
Nascimento: 18 de outubro de 1967, em Kranj, Eslovênia (antiga Iugoslávia)
Posição: meia-atacante
Clubes: Rijeka (1987-91) , Cremonese (1991-96), Torino (1996-97), Empoli (1997-98), Fidelis Andria (1998-99), Alzano Virescit (1999-2000 e 2001), Crotone (2000-01) e Pro Sesto (2001-02)
Título: Copa Anglo-Italiana (1993)
Seleção eslovena: 20 jogos e 1 gol