Quem acompanha o futebol italiano sabe que nem sempre os seus grandes goleadores encontram-se na galeria dos craques inesquecíveis do esporte. Isso não significa, porém, que estes atletas não mereçam loas. Marco Di Vaio é um deles. Atacante de muito recurso técnico e absurdo poder de finalização, especialmente de longa distância, o romano atuou em alto nível por mais de uma década e colocou seu nome na lista dos 30 maiores artilheiros da Serie A. Em sua trajetória, Di Vaio obteve maior destaque com as camisas de Parma e Bologna.
Cultivado nas categorias de base da Lazio, Di Vaio surgiu na mesma geração de Alessandro Nesta, com quem faturou o Campeonato Primavera, em 1995. À época da conquista nos juvenis, a dupla já havia até mesmo estreado no time profissional, sob as ordens de Dino Zoff. Foi com Zdenek Zeman, porém, que Di Vaio recebeu mais chances.
Na campanha do vice-campeonato laziale, em 1994-95, Marco entrou em oito partidas e deixou sua marca três vezes, nas goleadas sobre Padova, Fiorentina e Genoa. Sem espaço por conta da concorrência com Giuseppe Signori, Alen Boksic, Pierluigi Casiraghi e Roberto Rambaudi, o jovem acabou emprestado para ganhar experiência. Enquanto Nesta se firmava e caminhava para virar lenda na Cidade Eterna, Di Vaio precisou batalhar na Serie B.
Di Vaio acabou tendo um ano difícil no Verona e, em seguida, uma temporada em que atuou muitas vezes, mas marcou poucos gols pelo Bari. Nas duas oportunidades, conquistou o acesso, mas permaneceu na segundona. Em 1997, foi vendido pela Lazio à Salernitana por um valor recorde para a categoria até então: 5 bilhões de velhas liras.
A aposta dos grenás de Salerno se mostrou certeira e Marco foi o destaque do título da Serie B, que valeu o segundo acesso da história da equipe. Di Vaio se consagrou como artilheiro da competição, com 21 gols, e deu tostões de seu repertório, com lances acrobáticos e muitos tentos com chutes de primeira e de fora da grande área. Na elite, o atacante romano novamente se destacou e foi o goleador do time, com 12 bolas na rede, mas não pode evitar o retorno dos campanos à segunda divisão – a Salernitana caiu na última rodada, por apenas dois pontos.
A segundona, no entanto, já era pequena demais para Di Vaio. Suas ótimas atuações no sul da Itália chamaram a atenção do endinheirado Parma, que adquiriu o goleador de 23 anos para disputar posição com Amoroso e Mario Stanic, num setor ofensivo que também tinha Ariel Ortega e Hernán Crespo. Em 1999-2000, o romano cumpriu seu papel no elenco e anotou 13 gols em 37 partidas, obtendo maior destaque na Copa Uefa, competição em que deixou sua marca sete vezes. Apesar disso, o Parma não empolgou tanto naquela temporada, vista como de entressafra para a diretoria.
A participação naquele ano foi apenas um aquecimento para Di Vaio, que ganhou espaço com as saídas de três de seus concorrentes – apenas Amoroso permaneceu, mas batalhando contra lesões. Novo titular, o romano foi o artilheiro da campanha que levou o Parma de volta à Champions League, com o quarto lugar na Serie A. Marco chegou a fazer quatro gols numa mesma partida contra o Bari (na qual só atuou por 66 minutos!) e fechou a temporada com 15 bolas na rede, se colocando entre os 10 maiores goleadores da competição. No total, Di Vaio anotou 20 vezes em 39 partidas em 2000-01.
Na temporada seguinte, o rendimento dos crociati diminuiu muito na Serie A. A equipe ficou apenas na 10ª posição, mas Di Vaio marcou 20 gols e foi o quarto principal artilheiro do torneio nacional. Além disso, o Parma conquistou o título da Coppa Italia sobre a Juventus – em 2000-01 havia sido vice, contra a Fiorentina. Por causa das grandes atuações e da característica de marcar muitos gols mesmo sendo um atacante de movimento, Marco começou a receber convocações para a seleção italiana. Também foi contratado pela Juventus, que pagou 21 milhões de euros para tê-lo.
Di Vaio passou dois anos em Turim, sendo utilizado pelo técnico Marcello Lippi como peça de rotação do elenco: revezando com David Trezeguet e Alessandro Del Piero, o romano fez 40 jogos na primeira temporada e 45 na segunda, anotando 11 e 17 gols, respectivamente. Pela Velha Senhora, Marco conquistou uma Serie A, uma Supercopa Italiana e também foi vice da Coppa Italia e semifinalista da Champions League. Entre os gols mais bonitos de sua passagem pela equipe bianconera, destaca-se o lindo sem pulo que valeu o empate contra o Milan, em San Siro.
Durante seus anos de Juve, Di Vaio foi frequentemente chamado por Giovanni Trapattoni para a seleção. Com a Itália, o atacante romano disputou muitos amistosos e apenas três partidas oficiais. Uma delas aconteceu na fracassada campanha azzurra na Euro 2004, ocasião em que a Nazionale foi eliminada num grupo com Suécia, Dinamarca e Bulgária. Após a queda, Marco só foi convocado mais uma vez.
Em bom momento pessoal e já com 28 anos, Di Vaio receberia, no verão de 2004, uma oportunidade para voltar a ser protagonista. Contratado por 11 milhões de euros, Marco foi a grande contratação do Valencia de Claudio Ranieri, que pretendia fazer do seu conterrâneo uma peça-chave para a busca do bicampeonato espanhol. O atacante chegou junto com outros três italianos: o zagueiro Emiliano Moretti, o meia Stefano Fiore e o centroavante Bernardo Corradi. O quarteto acabaria compondo uma colônia itálica ao lado do lateral Amedeo Carboni, bandeira dos che.
Di Vaio não chegou a ser estrela ou peça-chave, mas teve rendimento satisfatório na Espanha, sobretudo em seu ano de estreia. O início foi ótimo para o italiano, que marcou na conquista da Supercopa Uefa contra o Porto e anotou cinco vezes em seis rodadas de La Liga: naquele momento, o Valencia liderava com 14 pontos em 18 disputados. No entanto, os problemas começaram a aparecer a partir dos últimos meses daquele ano, e o estopim foi uma goleada sofrida na fase de grupos da Liga dos Campeões. Com show de Adriano, a Inter venceu por 5 a 1 em pleno Mestalla.
O Valencia seria eliminado e o trabalho de Ranieri nunca mais foi o mesmo – inclusive, durou somente até fevereiro de 2005, quando a queda na Copa Uefa o derrubou. Ainda assim, Di Vaio continuou com bons números: foi o artilheiro do time na Liga, com 15 gols. Considerando todas as competições, foram 18.
Em 2005-06 começou um período de adversidades para o atacante. No Valencia, Di Vaio perdeu espaço para David Villa e Miguel Angulo no time de Quique Sánchez Flores: o técnico optou pelo primeiro como referência e o segundo como opção pelo lado direito do ataque. Desmotivado, Marco foi perdendo espaço inclusive no banco de reservas e acabou ofuscado pelo veterano Patrick Kluivert. Em janeiro de 2006, depois de jogar apenas cinco vezes pelo Campeonato Espanhol e seis pela Copa Intertoto, o romano foi negociado com o Monaco.
A passagem do atacante pela França durou apenas um ano – seis meses em uma temporada e mais seis em outra. O Monaco não vivia um momento tão bom e as tentativas de reformular o elenco vice-campeão europeu em 2004 não vinham surtindo efeito. Di Vaio acabou tragado pela desorganização monegasca e não conseguiu render no mais alto nível na primeira temporada, sob o comando do compatriota Francesco Guidolin e ao lado dos também italianos Flavio Roma e Christian Vieri. Já em 2006-07, comandado por László Bölöni, rendeu menos ainda e acabou aceitando dar um passo atrás para tentar colocar a carreira no lugar: acertou com o Genoa, então na Serie B.
Di Vaio foi bastante importante na metade final da campanha na segunda divisão. Com nove gols em 22 partidas, o atacante foi decisivo para que o clube mais antigo da Itália retornasse à Serie A após 12 anos de ausência. Embora tenha sido fundamental para a conquista do terceiro lugar na categoria, o romano acabou sendo utilizado como reserva na campanha da elite. Perdeu a vaga para Marco Borriello, que anotou 19 vezes no torneio.
Sem espaço na Ligúria, Di Vaio acabou passando a outro clube rossoblù, igualmente tradicional e que retornava da segundona: o Bologna. Já veterano, do alto de seus 32 anos, o atacante viveu uma espécie de segunda juventude e acabou se tornando um dos jogadores de maior identificação com o clube em sua história recente. Em quatro anos pelo maior time da Emília-Romanha, Marco foi fundamental para salvar modestos elencos do rebaixamento com alguma folga. Afinal, ele foi o artilheiro da equipe em todas estas temporadas.
Logo em sua primeira campanha, Di Vaio conquistou a torcida com a raça mostrada em campo e a grande quantidade de gols. No primeiro ano, conseguiu atuar nas 38 rodadas do campeonato e marcou 24 vezes, se tornando o jogador do clube que mais tentos anotou numa única temporada: assim, superou o feito de Roberto Baggio, que fizera 22 em 1998. Marco só perdeu a artilharia da Serie A porque Zlatan Ibrahimovic foi o autor de uma doppietta na última rodada e chegou a 25.
Com moral, Marco Di Vaio foi o escolhido para substituir o aposentado Marcello Castellini e assumir o posto de capitão da equipe na temporada 2009-10, a do centenário rossoblù. Nesta campanha o atacante acabou fazendo seu menor número de partidas pelo clube (atuou em 30 rodadas) por conta de uma lesão, mas continuou fundamental. Foram 12 gols na Serie A e 15 pontos conquistados por tentos decisivos.
Em 2010-11 o veterano voltou a participar de todas as rodadas do campeonato e emplacou mais uma ótima marca: com 19 gols em 38 aparições, teve média de um tento a cada duas partidas. Entre esses gols, os mais importantes foram os dois anotados na vitória por 2 a 0 sobre a Juve em Turim, onde os bolonheses não venciam desde 1980.
O ano seguinte, que seria o da despedida, foi o melhor em termos de classificação para os felsinei, que ficaram com a nona posição. Di Vaio formou um tridente muito insinuante com Alessandro Diamanti e Gastón Ramírez, participando também com assistências – além de 10 gols. Em 2012, se despediu da equipe aos 36 anos, com 148 partidas jogadas e 66 gols marcados. A liderança dentro de campo e a identificação com a torcida o fizeram receber título de cidadão honorário de Bolonha, além de uma medalha comemorativa do clube.
Aos 36 anos, Di Vaio trocou o futebol italiano pela Major League Soccer, onde disputaria três temporadas antes de encerrar a carreira. Dessa forma, se despediu da Serie A com o posto de 28º maior goleador da história do campeonato, ao lado de Christian Vieri, Benito Lorenzi e Paolo Pulici: cada um deles marcou 142 gols.
O ídolo bolonhês acertou com o Impact de Montréal, do Canadá, que é presidido por Joey Saputo. A sua contratação foi uma forma de estreitar os laços entre os times, pois o empresário já tinha interesse de adquirir o Bologna – o que foi formalizado em 2014. Na América do Norte, Marco ganhou dois campeonatos canadenses e fez 20 gols na MLS de 2013, ano em que foi escolhido para a seleção do campeonato.
Marco Di Vaio decidiu se aposentar em outubro de 2014. Três meses após deixar os gramados, começou a frequentar os bastidores: foi nomeado por Saputo como cartola do Bologna. Primeiro, atuou como club manager e, depois, assumiu o cargo de diretor esportivo.
Marco Di Vaio
Nascimento: 15 de julho de 1976, em Roma, Itália
Clubes: Lazio (1993-95), Verona (1995-96), Bari (1996-97), Salernitana (1997-99), Parma (1999-2002), Juventus (2002-04), Valencia (2004-06), Monaco (2006-07), Genoa (2007-08), Bologna (2008-12) e Impact de Montréal (2012-14)
Títulos: Campeonato Primavera (1995), Serie B (1998), Supercopa Italiana (1999 e 2003), Coppa Italia (2002), Serie A (2003), Supercopa Uefa (2004) e Campeonato Canadense (2013 e 2014)
Seleção italiana: 14 jogos e dois gols