Nem sempre os times mais estrelados se sagram vitoriosos em uma disputa e nem sempre líderes são vocais e têm a pretensão de estarem no centro das atenções. O zagueiro Ernesto Castano sabia bem disso e passou pelas duas experiências em sua carreira como jogador: ostentando a faixa de capitão, ajudou uma Juventus sem craques incontestáveis a ser campeã nacional no fim da década de 1960. Em seguida, o defensor ainda integrou o elenco que faturou a primeira Eurocopa da história da seleção italiana.
Castano é natural de Cinisello Balsamo, cidade localizada na região metropolitana de Milão. Foi em sua terra natal que, aos 9 anos, Ernesto deu início a sua trajetória esportiva, ao se juntar à escolinha da Balsamese. Quando estava perto de completar a maioridade, aos 17, foi notado pelo Legnano e estreou na Serie B, em 1956. Mesmo muito jovem, foi titular absoluto do time lilás e, não obstante a sua queda para a terceira divisão, obteve destaque.
No verão europeu de 1957, Castano trocou de clube e, pela primeira vez, foi morar distante de casa: acertou com a tradicional Triestina, que estrearia na Serie B após um rebaixamento que, por vias tortas, entrou para a história. Ernesto foi alçado ao time titular pelo técnico Aldo Olivieri e liderou a terceira melhor defesa da categoria, enquanto os goleadores Aurelio Milani e Gianfranco Petris fizeram os alabardati terem o ataque mais positivo do certame. O retorno imediato à elite, coroado com o título da segundona, foi garantido com duas rodadas de antecedência.
Em ascensão meteórica, o jovem Castano foi adquirido pela Juventus pouco depois de completar 19 anos e se juntou a uma equipe famosa por contar com o chamado Trio Mágico, composto por Giampiero Boniperti, Omar Sívori e John Charles. De início, ao contrário de suas experiências anteriores, Ernesto não se tornou titular absoluto, embora tenha sido utilizado com alguma regularidade – como líbero, zagueiro ou lateral mais fixo. Giuseppe, seu irmão, também aportaria nas categorias de base da gigante de Turim, mas jamais teria chances no elenco principal.
Castano aproveitou as chances que teve e chegou a ser convocado pela primeira vez para a seleção italiana: seu debute pela Nazionale ocorreu num empate por 1 a 1 em amistoso contra a Hungria, em 1959. No período em que contribuiu para o brilho do tridente ofensivo bianconero, o zagueiro celebrou a conquista de duas edições da Coppa Italia e duas da Serie A.
Tino, como ficou conhecido pela torcida zebrada, assumiu o posto de titular da Juventus a partir de 1962-63, na gestão do técnico Paulo Amaral. Sem pestanejar, o brasileiro decidiu montar o seu sistema defensivo com Castano, Sandro Salvadore e Benito Sarti, sendo que os dois primeiros integraram o grupo dos atletas mais utilizados pelo novo comandante. O setor funcionou bem, visto que a Velha Senhora teve a segunda retaguarda menos vazada da Serie A, mas eram anos complicados: não era trivial concorrer com timaços de Inter, Milan e Bologna. Ainda assim, a equipe piemontesa foi vice-campeã italiana e, no verão, ganhou a Copa dos Alpes.
Os anos seguintes foram mais complicados para a Juve e para Castano, que teve alguns problemas no joelho. Ao longo de sua trajetória como profissional, aliás, o beque lombardo passaria por duas cirurgias delicadas: eram tempos em que rupturas de menisco poderiam encerrar carreiras e Tino lesionou três dos quatro possíveis. Isso, porém, nunca lhe impediu de manter a firmeza em campo. Ao contrário: sempre foi visto pelos adversários como um jogador que chegava duro, sem aliviar.
A Juventus começou a ter uma nova perspectiva na década de 1960 após a chegada do técnico paraguaio Heriberto Herrera, que dava muita ênfase à preparação física dos jogadores – algo que, na intensidade proposta pelo sul-americano, não era comum para a época. Primeiro, o treinador fez uma Juve com poucos craques indiscutíveis se tornar mais competitiva nos mata-matas: a equipe foi campeã da Coppa Italia em 1965 e semifinalista no ano seguinte, além de ter sido vice da Copa das Feiras no período.
Muito diligente, o time ganhou um atributo que lhe deixaria famoso: operário. E o líder dos peões era Castano, alçado ao posto de capitão justamente após a conquista da Coppa Italia e a saída do Bola de Ouro Sívori, o único craque geracional do elenco, para o Napoli. Mesmo que Tino nem sempre pudesse atuar, devido ao desgaste nos joelhos, a boa preparação física conferida por Herrera fez com que ele participasse de um dos títulos italianos mais sofridos e inesperados da história da Juventus.
Em 1966-67, a Grande Inter de Helenio Herrera, que havia vencido três dos quatro campeonatos anteriores, era a principal candidata ao scudetto. E provou que era mesmo nas 28 primeiras rodadas, nas quais abriu vantagem de quatro pontos sobre a Juventus – como a vitória valia dois pontinhos na época, a distância era equivalente a dois triunfos. Só que os nerazzurri começaram a derrapar na reta final da competição e a Velha Senhora, embalada por uma forte defesa, que sofreu apenas 19 gols no certame, foi ganhando terreno.
Os jogadores bianconeri, que antes davam mostras de haverem desistido, ganharam uma injeção de ânimo do técnico paraguaio e, na última rodada, conseguiram a improvável virada após baterem a Lazio e a Beneamata ser derrotada pelo Mantova, graças a um frango do goleiro Giuliano Sarti. Castano, então, chegava a seu primeiro título na condição de protagonista. Para muitos analistas, a equipe de Herrera tinha muito do seu capitão: não era estelar, mas era sólida e eficiente.
Tino passou parte considerável da temporada 1967-68 afastado dos gramados, devido aos recorrentes problemas no joelho. Porém, ajudou a Juventus a ser terceira colocada da Serie A e semifinalista da Copa dos Campeões. Devido ao bom desempenho, voltou a ser chamado para a seleção italiana, então comandada por Ferruccio Valcareggi, e pode acrescentar mais um título a seu currículo: o da Eurocopa, que a Nazionale faturava pela primeira vez. Castano, além de ter atuado na fase qualificatória, contra a Bulgária, entrou em campo na semifinal, diante da União Soviética, e na primeira das partidas da decisão, ante a Iugoslávia. Após um empate por 1 a 1, a taça foi definida num jogo extra, terminado em 2 a 0 para os azzurri.
Após o título continental, um já rodado Castano não viveu o biênio mais positivo possível em Turim e também passou a perder espaço na equipe. Assim, em 1970, deixou a Velha Senhora e se transferiu ao Lanerossi Vicenza, também da Serie A. No Vêneto, não foi feliz e só disputou cinco partidas, se aposentando aos 32 anos, logo que a temporada 1970-71 chegou ao fim.
Depois de pendurar as chuteiras, Castano chegou a trabalhar no setor juvenil da Juventus por algum tempo. Muito ligado ao clube, também participou de um jogo comemorativo em ocasião de seu centenário, em 1997, quando já era quase sessentão. O discreto “líder operário” daquela Velha Senhora da década de 1960 faleceu no início de 2023, aos 83 anos.
Ernesto Castano
Nascimento: 2 de maio de 1939, em Cinisello Balsamo, Itália
Morte: 5 de janeiro de 2023, em Cinisello Balsamo, Itália
Posição: zagueiro
Clubes: Legnano (1956-57), Triestina (1957-58), Juventus (1958-70) e Lanerossi Vicenza (1970-71)
Títulos: Serie B (1958), Coppa Italia (1959, 1960 e 1965), Serie A (1960, 1961 e 1967), Copa dos Alpes (1963) e Eurocopa (1968)
Seleção italiana: 7 jogos