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O goleador Aurelio Milani brilhou por Fiorentina e pela Grande Inter dos anos 1960

Durante a década de 1960, a Inter viveu os melhores anos de sua história: foi tricampeã italiana, bi europeia e acrescentou mais dois títulos intercontinentais à conta. A Grande Inter, como foi devidamente apelidada, se destacou por seu perfeccionismo tático, aliado a presença de grandes estrelas no elenco. No mais, aquele time também serviu para redefinir o conceito de treinador no futebol. Antes marginalizada, a figura do comandante na linha lateral ganhou contornos de estrelato com Helenio Herrera. O argentino, um gênio do catenaccio, tomou para si muitas das glórias daquela equipe campeã – e com justiça.

Todavia, para além de personagens duradouros que contribuíram para a ascensão daquela Inter, algumas figuras mais discretas também tiveram seu papel de importância nesta grande produção. Foi o caso de Aurelio Milani. Atacante forte fisicamente e generoso com os companheiros, ele foi protagonista de um feito de que poucos na história podem se vangloriar: um gol marcado em final de Copa dos Campeões. Foi em 1964, contra ninguém menos que o Real Madrid, de Ferenc Puskás e Alfredo Di Stéfano. Certamente, o ápice de uma carreira conquistada com muita insistência e determinação.

Com passagens pelas séries B e C durante a década de 1950, Milani rodou pela Itália antes de conquistar destaque na Fiorentina, em 1962, e se sagrar artilheiro das duas primeiras divisões do país – feito, até hoje, obtido por pouco mais de uma dezena de atletas. Depois, na Inter, marcou menos gols, mas faturou títulos.

Sua continuidade na equipe nerazzurra, porém, acabou interrompida por uma grave lesão na coluna. Aurelio ainda tentou retornar aos gramados, na própria Inter, em 1965, e depois no Verbania, da terceira divisão. Não logrou êxito. Aos 33 anos, encerrou sua trajetória de maneira precoce, mas com um lugar especial nas prateleiras de troféus da Inter. O torcedor que mira a primeira conquista europeia do clube pode até não saber de imediato, mas aquele triunfo tem a assinatura de Milani.

No início da carreira, vestindo a camisa do Monza, Milani foi artilheiro da Serie B italiana (Acervo pessoal)

O começo, longe dos holofotes (ou nem tanto)

Nascido em 14 de maio de 1934, em Desio, comuna a pouco menos de 20 quilômetros de Milão, Aurelio Milani viveu sua infância praticamente ao lado do palco onde brilharia, mais tarde, como jogador de futebol: o estádio de San Siro. No entanto, o caminho para que ele chegasse à Inter foi longo e tortuoso.

Milani começou a carreira no time juvenil da pequenina Aurora Desio, ainda no início da década de 1950. O atacante foi, então, notado por olheiros da Atalanta, que acabaram por contratá-lo. Contudo, Aurelio sequer tem jogos registrados pela equipe de Bérgamo. Isso porque, em 1954, ele foi imediatamente emprestado ao Fanfulla, uma dos clubes mais antigos da Itália – fundado em 1874, mas com setor de futebol nascido em 1908. Aos 20 anos de idade, disputou a Serie B, em sua primeira temporada, e a C, na seguinte, com poucos gols anotados: apenas seis em 40 aparições.

A sorte de Aurelio começou a virar a partir da temporada 1955-56, quando foi contratado pelo Monza – que, na época, agregava ao nome do clube o da Simmenthal, produtora de carne enlatada que o adquirira. Ao fechar com os biancorossi, o jovem centroavante conseguiu retornar à Serie B italiana e, dali em diante, nunca mais iria regredir, com exceção feita ao último time da carreira.

Camisa 9 clássico, Milani alcançou a idolatria no Monza (Acervo pessoal)

O atacante brilhou esteve em campo na primeira partida dos brianzoli transmitida pela televisão, que ainda engatinhava na Itália. Em outubro de 1955, cinco anos depois de ter iniciado a exibir jogos de futebol no país, a Rai teve o direito de passar, de forma inédita, um duelo fora do horário tradicional – domingo, às 15 horas. A emissora pode escolher entre uma peleja das séries A, B e C, e optou por Monza e Verona, causando um rebuliço na cidade lombarda: como quase todo mundo queria ver a novidade pela telinha, nos estabelecimentos e nas casas das pessoas que tinham a inovação tecnológica, apenas 1500 pagantes compareceram ao estádio San Gregorio. No fim das contas, Milani foi o protagonista de um desfecho triunfal, ao marcar o gol da vitória por 2 a 1 aos 89 minutos.

No total, Aurelio anotou 38 gols em 64 jogos pelos brianzoli, sagrando-se artilheiro do campeonato da segunda divisão logo em sua temporada de estreia, com 23 bolas nas redes. O Monza, há de se destacar, foi o time pelo qual Milani mais marcou em toda a sua carreira. No período em que representou a equipe patrocinada pela Simmenthal, foi o grande responsável por fazê-la brigar pelo acesso – e quase conseguir, em 1956, quando a colocou na terceira posição da Serie B. O centroavante se tornou o ídolo máximo da torcida, mas a sua passagem pela agremiação do norte da Itália não durou mais do que dois anos.

O desempenho impressionante pelo Monza o levou à tradicional Triestina, que em 1957 caíra pela primeira vez para a Serie B. Com a camisa alabardata, Milani formou uma dupla de ataque fortíssima com Gianfranco Petris, se destacando por seu chute forte de perna direita e pelo bom jogo aéreo, apesar do 1,82 metro de altura: balançou as redes em 19 oportunidades ao longo de 33 partidas pela equipe. Ao fim da temporada, o time de Aldo Olivieri faturou a segundona e voltou à elite: dessa forma, não demoraria para que mais um salto fosse dado na carreira do talentoso e promissor atacante italiano.

Na Samp, Milani contou com o apoio do capitão Ocwirk para se tornar uma peça importante da equipe (Solo Sampdoria)

A estreia na Serie A e o destaque pela Fiorentina

No início da temporada 1958-59, era chegada a hora de Milani estrear na elite do futebol da Bota. Mas não pela Triestina: aos 24 anos, o atacante foi adquirido pela Sampdoria. O seu debute ocorreu em uma derrota por 1 a 0 para a Lazio, no Olímpico de Roma.

Assim como o time, que venceu somente um dos primeiros seis jogos pela competição nacional, Aurelio também demorou para engrenar no torneio. Mas conseguiu, fechando mais uma temporada com pelo menos dois dígitos de gols marcados: foram 13 em 34 partidas pela Samp. Ao lado do compatriota Bruno Mora e do argentino Ernesto Cucchiaroni, formou um prolífico trio de ataque na equipe de Gênova, quinta colocada naquela edição do Campeonato Italiano. Eles ainda contavam com o apoio do meio-campista austríaco Ernst Ocwirk, capitão doriano.

Na temporada seguinte, todavia, Milani vivenciou a primeira lesão grave de sua carreira – e não seria a última. Em partida contra o Bologna, pela 9ª rodada da Serie A, ele machucou a perna e acabou ficando de fora de todo o restante da campanha. Foram mais de seis meses parado, com uma infundada tentativa de retorno precoce, numa derrota da Sampdoria para a Roma, por 6 a 1, e que só serviu para atrapalhar na recuperação da lesão. Sem o atacante, os blucerchiati não repetiram o ótimo desempenho do certame anterior e acabaram somente na oitava colocação.

Milani, então, deixou a Ligúria e rumou ao Vêneto, para atuar no Padova – numa troca que levou o também centroavante Sergio Brighenti para a Sampdoria. Por lá, continuou na elite do futebol local, da mesma forma que seguiu marcando seus golzinhos: foram mais 19 em 35 jogos, em outra temporada notável, numa profícua parceria com o meio-campista Dante Crippa. As ótimas atuações da dupla impulsionaram os biancoscudati, treinados pelo lendário Nereo Rocco, à sexta colocação na tabela.

A estadia do atacante no nordeste da Itália durou somente uma temporada: no verão de 1961, Aurelio Milani deu continuidade à sua carreira errante, dessa vez, ingressando em uma equipe de patamar elevado, detentora de títulos importantes. Chegava a hora de defender a Fiorentina.

Sua transferência à agremiação de Florença ocorreu por intermédio do novo presidente, Enrico Longinotti, que havia assumido o cargo pouco tempo antes, no lugar do xará, Enrico Befani. Vale lembrar que a Viola vinha de uma década extremamente vitoriosa, com direito à conquista do scudetto, em 1956, final da Copa dos Campeões e o vice italiano por quatro anos consecutivos. No período anterior à chegada de Milani, o contexto era similar: dobradinha de títulos em 15 dias entre maio e junho de 1961, com os sucessos na Coppa Italia e na Recopa Uefa.

Em seu primeiro ano na Fiorentina, o atacante se tornou artilheiro do Campeonato Italiano (Acervo pessoal)

Aurelio Milani chegava, justamente, para fortalecer um elenco que já contava com nomes ofensivos de respeito, como Kurt Hamrin e Petris, seu companheiro dos tempos de Triestina. O lombardo teria a incumbência de substituir Miguel Montuori, uma verdadeira lenda da equipe violeta, que viu a carreira ser interrompida de forma precoce em 1961 por conta de um problema na visão.

Mesmo diante da forte concorrência (e pressão), Aurelio chegou com tudo. Já em sua quarta partida pela Fiorentina, deixou dois gols na vitória por 5 a 2 diante da Udinese. Este jogo também se tornaria famoso mais tarde por ter marcado a estreia do lendário Dino Zoff, então com 19 anos, na Serie A. Milani, portanto, foi o responsável pelos primeiros tentos sofridos pelo arqueiro tricampeão do mundo pela Squadra Azzurra em 1982.

Mantendo o ritmo forte ao longo de todo o campeonato, fechou a temporada com 22 gols marcados somente na principal competição do país. Além de ser o artilheiro isolado da Viola (Hamrin colocou 14 bolas na rede), Milani também se sagrou máximo goleador do torneio, empatado com José Altafini, ícone brasileiro do Milan. Esta seria somente a segunda vez na história que a Fiorentina conseguia emplacar um artilheiro na liga local – anteriormente, só o uruguaio Pedro Petrone, com 25 tentos, em 1931-32.

Com mais este desempenho consistente dentro das áreas adversárias, Aurelio chegou à segunda artilharia de sua trajetória, repetindo o feito dos tempos de Monza. E a Fiorentina, contando com todo esse poderio de seu novo atacante, foi terceira colocada no Campeonato Italiano e alcançou, de forma consecutiva, a final da Recopa Europeia. No entanto, o resultado acabou não sendo o mesmo do torneio anterior. Na decisão diante do Atlético de Madrid, a Viola foi derrotada por 4 a 1 no placar agregado. Ainda assim, vale destacar os quatro gols marcados por Milani nesta competição, que, somados a um solitário tento na Coppa Italia, totalizaram 27 em sua campanha de estreia em Florença. Com essa proeza, ele atingiu o período mais prolífico da carreira e, naturalmente, viu as expectativas em seu entorno crescerem.

Mas, assim como ocorreu na Sampdoria, o excelente desempenho de largada acabou não se repetindo nos meses seguintes. Em Gênova, o problema foi a lesão na perna. Na Fiorentina, a falta de sequência – causada, também, por pequenos problemas físicos. Após marcar na rodada de abertura da temporada 1962-63, Milani simplesmente não encontrou mais o caminho do gol até o fim do campeonato. Jogou menos, é verdade (apenas 18 vezes), mas, ainda assim, obteve uma média baixíssima para os seus padrões.

O período negtivo o distanciou de uma renovação de contrato com a Fiorentina. Mais uma vez, o atacante trocaria de casa, com a incerteza do que lhe aguardava aos 30 anos de idade. No entanto, como numa daquelas histórias curiosas do futebol, seu clube seguinte foi, justamente, o maior de sua carreira – e no qual ele conseguiu suas maiores glórias. Contratado pela Inter em 1963, Aurelio retornou ao norte da Itália, a poucos quilômetros de onde nasceu e cresceu.

Milani fez parte de time histórico da Inter e teve papel determinante para que os nerazzurri atingissem o ápice de sua capacidade (LaPresse)

A Grande Inter

A chave da mudança de patamar da Inter no cenário nacional (e europeu) aconteceu ainda em 1960, quando o presidente Angelo Moratti contratou o treinador argentino Helenio Herrera, que, antes disso, tinha passado dois anos comandando o Barcelona. A filosofia bem aplicada do novo comandante se aliou à chegada de grandes jogadores em Milão (Luis Suárez, Tarcisio Burgnich, Armando Picchi, Jair da Costa) e aos talentos que já por lá estavam na base do time, como Sandro Mazzola. Com este material humano em mãos, o técnico mexeu, primeiramente, na parte defensiva da equipe.

Inspirado no catenaccio, estilo de jogo considerado pragmático e defensivo, o treinador da Inter adequou levemente o esquema. Criou uma espécie de 1-3-3-3, protegendo melhor sua retaguarda, sem abrir mão da velocidade dos pontas no ataque. Os resultados vieram gradativamente. Primeiro, a Beneamata se consolidou como a melhor defesa da Itália. Na temporada 1962-63, enfim, veio o título italiano.

Entre 1963 e 1964, este esquadrão vivia o ápice físico, técnico e tático. Milani, mesmo com uma recente temporada ruim, foi contratado para qualificar o setor ofensivo da equipe, que sofreu uma baixa: a lesão de Beniamino Di Giacomo. E o atacante recém-chegado da Fiorentina cumpriu um papel extremamente importante.

A missão de Aurelio foi cumprida nem tanto pela quantidade abundante de tentos – foram oito em 23 jogos, incluindo um decisivo em vitória por 1 a 0 sobre a Juventus, quando chapelou de uma só vez Sandro Salvadore e Ernesto Castano antes de fuzilar Roberto Anzolin. Milani se distinguia principalmente pela aplicação tática e entrega ao coletivo, parte importantíssima para o sucesso do esquema de Herrera. Como o próprio Mazzola diz, o camisa 9 frequentemente o servia com passes para gol. Uma estatística que, infelizmente, não era computada naquela época.

Muito focado, e ao mesmo tempo discreto, Aurelio trabalhava constantemente sua parte física. Treinava com exaustão e ainda praticava luta, como revelou Suárez, seu companheiro de Inter. O cuidado com esta faceta do jogo o transformou em um centroavante extremamente forte, com uma explosão acima da média. Sem se intimidar com as bordoadas de zagueiros adversários, Milani prendia a bola muito bem no campo de ataque, o que permitia a aproximação dos companheiros de equipe. Da mesma forma, ele era capaz de consertar passes e lançamentos ruins somente com o ajuste corporal. A partir deste trabalho “operário”, o atacante conseguiu produzir muitas assistências.

O bicampeonato italiano não foi obtido pela Inter. Na verdade, passou muito perto, mas acabou escorregando entre os dedos no duelo final contra o Bologna. Ambas as equipes terminaram empatadas na tabela, o que tornou necessário um playoff de desempate. Nesta espécie de decisão, melhor para os rossoblù, que venceram por 2 a 0, honrando a morte do presidente Renato Dall’Ara, que faleceu dias antes da peleja, vítima de um mal súbito durante reunião com Moratti e dirigentes da liga. De qualquer forma, a perda do scudetto acabou sendo algo ínfimo perto do que os nerazzurri conquistariam naquela mesma temporada de 1963-64.

A mira estava mais alta. Na Europa. Vale lembrar que, no ano anterior, enquanto os nerazzurri comemoravam o oitavo título italiano de sua história, o arquirrival, Milan, erguia o troféu da Copa dos Campeões – sendo o primeiro clube do Belpaese a atingir tal feito. O mínimo era, portanto, igualar o desempenho do inimigo de Milão. E tal objetivo foi concluído com uma campanha quase perfeita, sem derrotas, contando com classificações diante de Everton, Monaco, Partizan e Borussia Dortmund, antes da decisão contra o poderoso Real Madrid.

O time espanhol, já pentacampeão do torneio, ainda contava com Di Stéfano e Puskás, ambos na fase final de suas carreiras. Ainda assim, era um adversário perigosíssimo para a grande decisão da Copa, marcada para 27 de maio de 1964, na Áustria.

Perto de casa, Aurelio conseguiu as maiores glórias de sua vitoriosa carreira como atleta (Arquivo/Inter)

A consagração de Milani

Diante de mais de 70 mil espectadores presentes no Praterstadion, em Viena, Milani atingiu o ponto máximo de sua carreira. Até então, o atacante não havia marcado nenhuma vez na competição continental. Na verdade, havia entrado em campo em somente dois dos oito jogos da equipe até aquele momento. Ele certamente guardou o melhor para a final.

Perto do descanso, Mazzola abriu o placar a favor da Inter com um chutaço de fora da área. A esquadra italiana era mais jovem, tinha mais vigor físico e uma incessante vontade de vencer. Com o placar favorável, Herrera voltou para a segunda etapa buscando proteger melhor a sua meta. O Real Madrid foi para cima, dominou as ações e viu a Beneamata acuada em seu próprio campo de defesa.

O panorama mudou aos 16 minutos do segundo tempo. E graças a Aurelio. Tudo começou com um chutão da defesa que encontrou Mazzola, ilhado com um defensor do Madrid. O atacante então serviu Milani, que dominou de canhota, carregou a bola da esquerda para o centro, surpreendendo o marcador com sua agilidade. Era nítida a vantagem de explosão do camisa 9 da Inter, que disparou de perna direita da meia-lua. Um chute quente e rasteiro, que passou pelas mãos do goleiro Vicente Train.

Aquele momento eternizou o discreto atacante, da pequena comuna de Desio, na história de um dos maiores clubes da Itália. O Real ainda descontou, com Felo, mas viu Mazzola marcar o terceiro, em falha da defesa, a poucos minutos do fim. A Inter era campeã europeia, completando um ciclo iniciado quatro anos antes e igualando o seu grande rival.

Meses depois, Milani ainda participou da conquista da Copa Intercontinental, que foi sacramentada somente após três jogos duríssimos contra o Independiente, da Argentina. O camisa 9 atuou em dois deles – justamente, os dois triunfos da Inter. Encaixado no sistema de Herrera, Aurelio permaneceu mais uma temporada na equipe nerazzurra, como era de se esperar. Finalmente, parecia que o atacante poderia deixar de lado sua carreira errante, com sucessivas trocas de clube, para se estabilizar em uma só sociedade.

Milani ficou notabilizado pelos fortes chutes, desferidos principalmente com a perna direita (Arquivo/Inter)

Um fim melancólico

Para Milani, infelizmente, o ano de 1964 não se encerrou após a conquista do torneio intercontinental. Já iniciada uma nova campanha, as pretensões da Inter seguiam lá no alto. O começo do atacante foi discreto, sem gols nas seis primeiras rodadas da Serie A – o que não atrapalhou o desempenho do time, que venceu metade desses jogos. Era somente questão de tempo para que Aurelio se recolocasse como um dos principais nomes da campeã europeia ao longo dos meses. No entanto, ele não teve essa oportunidade.

Em 11 de novembro de 1964, um jogo contra o Dinamo Bucareste alterou completamente a rota de sua carreira. O duelo valia pelas oitavas de final da Copa dos Campeões, e a Inter ia muito bem. Com 5 a 0 no placar, Milani, enfim, desencantou na temporada, marcando o sexto, aos 37 minutos da segunda etapa. Poucos minutos depois, todavia, o atacante foi atingido com uma joelhada nas costas por um defensor romeno. Resultado: uma de suas vértebras foi deslocada. Aos 31 anos de idade, o centroavante nunca mais conseguiu uma sequência de partidas por conta deste grave problema.

Ele até tentou, no início de 1965. Entrou em campo em três rodadas do Campeonato Italiano, em janeiro, mas logo foi afastado novamente, sem condições de jogo. Fora de combate até o final da temporada, viu a Grande Inter repetir o sucesso na Copa dos Campeões e, de quebra, levar o scudetto, que havia escorregado dos dedos na Serie A anterior. Por sua participação, ainda que curta, Milani pode adicionar ao currículo os títulos de ambas as competições.

O ano de sua maior glória individual (o gol na final contra o Real Madrid), e que até lhe rendeu uma convocação para a seleção italiana, acabou também por ser o mesmo de um fim de carreira infeliz. Não oficialmente, já que o atacante retornou em 1965 e, posteriormente, tentou jogar pelo Verbania, da terceira divisão, entre 1966 e 1967. Milani, aos 33, teve o seu último desafio como profissional: marcou uma vez em oito partidas antes de se aposentar de maneira definitiva.

Certamente, um capítulo final melancólico (e nada merecido) para um atacante extremamente dedicado dentro de campo. Aurelio Milani pode passar despercebido em meio a tantos craques que fizeram parte do esquadrão da Inter durante a década de 1960. Mas, antes mesmo dos títulos com os nerazzurri, foi notavelmente eficiente dentro da Itália. Ele entendeu os mecanismos de jogo do futebol local e se aprimorou fisicamente para poder brigar com os zagueiros, exercendo um papel bastante cirúrgico dentro das quatro linhas. Ano após ano, sempre marcando gols e ajudando suas equipes, que nem sempre estiveram à altura de um futebol tão competitivo.

Na Inter, vivenciou o lado contrário dessa história. Em meio a tantos craques, se “limitou”, note-se as aspas, a cumprir (e bem) o seu papel. Sem fazer questão de brilhar, potencializou os companheiros e foi premiado com um momento mágico para a carreira de qualquer jogador: um gol em final de campeonato. Foi seu último e mais especial capítulo como atleta.

Milani morreu em Borgo Ticino, Piemonte, aos 80 anos, em 2014. Pouco antes disso, foi homenageado pela Inter, numa ida ao Giuseppe Meazza, e também do governo da Lombardia, no aniversário de cinco décadas do primeiro título europeu nerazzurro. À época, já estava com movimentos limitados, por conta da gradativa piora da vértebra deslocada em campo. O ex-atacante deixou saudades nos companheiros de Beneamata. As palavras sempre são de afeto quando se referem a Aurelio, mais um daqueles “batalhadores” do mundo do futebol, que venceu quase todas as suas lutas, mas acabou derrotado, literalmente, por um golpe pelas costas.

Aurelio Milani
Nascimento: 14 de maio de 1934, em Desio, Itália
Morte: 25 de novembro de 2014, em Borgo Ticino, Itália
Clubes: Atalanta (1952-53), Fanfulla (1953-55), Monza (1955-1957), Triestina (1957-58), Sampdoria (1958-60), Padova (1960-61), Fiorentina (1961-63), Inter (1963-65) e Verbania (1966-67)
Títulos: Serie B (1958), Copa dos Campeões (1964 e 1965), Copa Intercontinental (1964) e Serie A (1965)
Seleção italiana: 1 partida

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