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Milos Krasic chegou a ser comparado a Pavel Nedved, mas só teve lampejos na Juventus

Técnica apurada para o drible, velocidade e investidas para cima dos adversários, a camisa bianconera e os cabelos loiros ao vento enquanto carregava a bola. Essa descrição pode encaixar tanto em Pavel Nedved quanto em Milos Krasic. Quer dizer, pelo menos no início da passagem do sérvio. Com apenas duas temporadas em Turim, o ponta não só encantou pela semelhança com o ídolo da Vecchia Signora como teve realmente um começo muito bom, porém, de brilho efêmero: aventado como um sucessor do mais alto gabarito, terminou deixando a agremiação como uma enorme decepção.

Krasic nasceu no dia 1º de novembro de 1984, em Titova Mitrovica, atual Kosovska Mitrovica, no Kosovo. Filho de pais sérvios, ele, seu primo Marko e seus irmãos Bojan e Ognjen se aventuraram no futebol – Milos foi o que alcançou maior destaque. Após começar pelo Trepca, time de sua cidade natal, o ponta foi descoberto pelo Vojvodina, em 1998, e, aos 17 anos subiu para a equipe principal alvirrubra.

Em três anos, Krasic se destacou bastante e até ganhou a faixa de capitão do time sérvio. Até que, em 2004, o futebol local ficou pequeno demais para o talento de Milos, que acabou negociado com o CSKA Moscou, onde explodiu e se tornou um dos jovens mais desejados pelos grandes da Europa.

O ponta estreou pelo CSKA em julho de 2004, na reta final da Premier League Russa e, depois de alguns meses de adaptação ao futebol local, assumiu a titularidade do time durante a segunda temporada de sua trajetória moscovita. Seus pontos fortes sempre foram as jogadas individuais, principalmente de linha de fundo, usando a velocidade para bater seus adversários. Na parte defensiva, o sérvio ficava devendo – o que, mais para frente, se tornaria um grande problema de sua passagem pela Itália.

Krasic permaneceu em Moscou por seis anos e integrou uma geração de ouro do CSKA. Sendo um de seus principais nomes, levantou uma histórica Copa Uefa – eliminando o Parma nas semifinais –, quatro Copas da Rússia, três Supercopas Russas e ainda duas edições da Premier League nacional. Em seus últimos meses com a camisa azul e vermelha, fez uma grande Liga dos Campeões, marcando quatro gols e sendo o artilheiro do time na competição. Ele e seus companheiros terminaram eliminados apenas nas quartas de final pela Inter, que se sagraria vencedora daquela edição.

A tripletta anotada sobre o Cagliari consistiu no melhor momento do sérvio em solo italiano (Getty)

O excelente desempenho não passou batido pelos profissionais que treinaram a Sérvia na época – Javier Clemente, Miroslav Djukic e Radomir Antic. O ponta, que disputou os Jogos Olímpicos de 2004 por Sérvia e Montenegro e três Europeus Sub-21 (dois pelo antigo país e um após o desmembramento), começou a ser convocado constantemente para a equipe adulta e não ficou de fora da lista do Mundial de 2010, apresentada pelo terceiro técnico supracitado. Porém, tanto ele quanto a seleção tiveram rendimento decepcionante: as águias chegaram a vencer a Alemanha, mas as derrotas para Gana e Austrália custaram a vaga na fase de mata-mata.

De olho no diamante que vinha sendo esculpido, a Juventus conseguiu o que parecia ser um ótimo negócio para a época. Pagando cerca de 15 milhões de euros, os bianconeri garantiram a contratação do ponta de quase 26 anos. O seu início foi arrasador – mas só o começo mesmo.

Sob o comando de Luigi Delneri, Milos atuou principalmente como ponta direita no imutável 4-4-2 do técnico. Aquele time, bem pobre em ideias e criatividade, se beneficiou de um jogador capaz de improvisar, como o sérvio. Em seu primeiro jogo em Turim, o segundo pela equipe, deixou uma boa impressão no empate por 3 a 3 com a Sampdoria de Antonio Cassano. Além de boas jogadas, assistiu Claudio Marchisio em um dos tentos.

Na partida seguinte, novamente foi determinante, servindo seus companheiros na vitória por 4 a 0 em cima da Udinese. Em uma arrancada para a linha de fundo, cruzou rasteiro para que Fabio Quagliarella completasse, de letra, fazendo um belíssimo gol – o segundo do duelo. No terceiro, encontrou mais uma vez Marchisio, cruzando por cima. O meio-campista italiano chegou batendo firme, de voleio, fazendo outro golaço. E a boa fase continuou.

Depois de uma atuação discreta na derrota por 3 a 1 contra o Palermo, Krasic voltou a ser protagonista na 5ª rodada, contra o Cagliari: simplesmente anotou uma tripletta na vitória por 4 a 2. O primeiro gol foi um bonito sem pulo da entrada da área, no cantinho. A doppietta foi alcançada ao completar um cruzamento no segundo pau, de carrinho, e o último foi marcado através de um chute desviado. Sua derradeira grande exibição foi na 7ª jornada daquela Serie A. Enfrentando o Lecce, novamente participou de três tentos, só que com duas assistências e um pênalti sofrido.

Depois de grande início pela Juventus, Krasic viu seu futebol se desmilinguir brutalmente (Getty)

A grande fase de Milos foi interrompida por uma punição. Enfrentando o Bologna, em partida que terminou em 0 a 0, o ponta se jogou e cavou um pênalti, desperdiçado por Vincenzo Iaquinta. Posteriormente, foi punido com duas rodadas de suspensão e ainda perdeu mais duas jornadas da liga, por problemas musculares. O sérvio nunca mais foi o mesmo e apresentou apenas lampejos muito esporádicos, como os gols que marcou em vitórias contra Lazio, no finalzinho, e Roma, abrindo o placar.

A Juventus viveu uma temporada pobre, terminando a Serie A numa medíocre sétima colocação, e também sendo eliminada ainda na fase de grupos da Liga Europa, após incríveis seis empates numa chave que contava com os classificados Manchester City e Salzburg, além do Lech Poznan. Entre os poucos pontos positivos, os meses de bom rendimento de Krasic, que somou nove gols e nove assistências em todas as competições, se sobressaíram. Porém, isso não foi o suficiente para continuar na equipe titular.

Com a chegada de Antonio Conte, o eslavo perdeu minutagem. Claramente fora dos planos do novo técnico, que não suportava sua indisponibilidade para se dedicar à fase defensiva e também para atuar no flanco esquerdo, mal foi utilizado na conquista do scudetto invicto. Simone Pepe e Emanuele Giaccherini claramente estavam à frente na concorrência pela posição. E, quando era utilizado o esquema com três zagueiros, Stephan Lichtsteiner assumia a titularidade na ala direita. Não havia mais espaço para Krasic em Turim – e nem mesmo na seleção sérvia, já que jamais voltou a ser convocado depois de novembro de 2011.

Negociado após o fim de seu segundo ano na Juve, Krasic deixou a Itália com 50 aparições, 10 gols e nove assistências para rumar ao Fenerbahce. Lá, não conseguiu se firmar na equipe principal e logo foi cedido ao Bastia, da França, onde não deixou saudades. Ao fim do empréstimo, sequer foi inscrito no Campeonato Turco e ficou uma temporada inteira treinando com o time reserva dos canários amarelos.

Em 2015, Milos acertou com o Lechia Gdansk, da Polônia, e viveu seus derradeiros momentos como jogador profissional de forma mais digna. Por lá, aceitou mudar de posição e se tornou meia central, criando o jogo mais de trás ou sendo o responsável pelo último passe para a definição dos atacantes. Atuando regularmente, ajudou o time alviverde a fazer duas boas campanhas na Ekstraklasa, a liga polaca. Ao fim do contrato, ficou sem clube e, em dezembro de 2018, aos 34 anos, anunciou sua aposentadoria em dezembro – bem longe dos holofotes que um dia lhe apresentaram como astro.

Milos Krasic
Nascimento: 1º de novembro de 1984, em Kosovska Mitrovica, Kosovo (antiga Iugoslávia)
Posição: ponta-direita
Clubes: Vojvodina (2001-04), CSKA Moscou (2004-10), Juventus (2010-12), Fenerbahçe (2012-13 e 2014-15), Bastia (2013-14) e Lechia Gdansk (2015-18)
Títulos: Supercopa da Rússia (2006, 2007 e 2009), Copa da Rússia (2005, 2006, 2008 e 2009), Premier League Russa (2005 e 2006), Copa Uefa (2005), Serie A (2012) e Copa da Turquia (2013)
Seleção sérvia: 46 jogos e 3 gols

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