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Giovanni Lodetti levantou taças importantes por Milan e seleção italiana nos anos 1960

Ser um bom jogador não te dá a garantia de ser campeão. Estar ao lado dos melhores, porém, é meio caminho andado. O meio-campista Giovanni Lodetti foi um desses hábeis atletas que tiveram a carreira impulsionada pela convivência com craques: Cesare Maldini, Giovanni Trapattoni, José Altafini, Amarildo, Dino Sani, Gianni Rivera e Karl-Heinz Schnellinger são só alguns dos gênios que dividiram vestiários com o histórico e multicampeão meio-campista do Milan.

Lodetti nasceu em agosto de 1942 na pequena Caselle Lurani, então província de Milão, e jogou bola nas escolinhas da cidade até os 15 anos, quando entrou nas categorias de base do Milan. O modesto filho de carpinteiro foi aprovado em um teste que contava com a presença do treinador dos juvenis, Mario Malatesta, e não demorou muito a estrear pelo clube rubro-negro. Em 1961, debutou como profissional e, mesmo com apenas uma partida pelo Diavolo, comemorou a conquista da Serie A logo na sua primeira temporada.

Na sua segunda temporada em Milão, Lodetti ganhou um pouco mais de espaço e passou a frequentar a seleção sub-21 italiana, com a qual se sagrou campeão dos Jogos do Mediterrâneo, em 1963. Ainda naquele ano, o meia central comemorou o seu primeiro título continental. Mesmo sem sequer entrar em campo, viu o Milan de Nereo Rocco bater o Benfica de Eusébio e companhia graças a dois gols do ítalo-brasileiro Altafini. Mazzola foi, inclusive, o grande nome rossonero na competição, com 14 tentos.

Depois disso, Giovanni começou a ser bastante utilizado com a camisa do Diavolo e se tornou um dos principais nomes da equipe sob o comando do sueco Nils Liedholm, a ponto de começar a colecionar suas primeiras convocações para a seleção italiana, em 1964. Ao lado de Maldini, Lodetti foi o jogador que mais atuou pelos diabos em 1964-65. Contudo, ainda que consolidado, o meia de sustentação e boa chegada precisou esperar mais dois anos até ser campeão como titular.

Dono do meio-campo rossonero por uma década, Giovanni conquistou sete taças pelo Milan (imago/WEREK)

Lodetti integrou o elenco italiano que fracassou na Copa do Mundo de 1966 e retornou à Itália motivado a esquecer o vexame em solo inglês. E conseguiu, graças ao título da Coppa Italia. Atuando ao lado de Rivera e Sergio Maddè no meio-campo rossonero, o carequinha colaborou com gols importantes, como os que determinaram a classificação do Milan sobre Modena e Lecco, respectivamente no segundo turno e nas quartas de finais do certame. Na decisão, outra vez o protagonismo coube a um brasileiro: Amarildo foi o autor do tento vitorioso sobre o Padova.

No ano seguinte, o meio-campista pode comemorar seu segundo scudetto, já como titular indiscutível. Lodetti e o Milan não enfrentaram muitas dificuldades para soltar o grito de campeão. Em uma temporada em que problemas nos bastidores de Inter e Juve, seus rivais históricos, ficaram evidentes, o Diavolo venceu a Serie A sem muitos problemas. O time treinado por Rocco teve uma margem de quase dez pontos de vantagem para o Napoli, segundo colocado. Os rubro-negros ainda tiveram trajetória vencedora na Recopa Uefa, vencida ante o Hamburgo.

Em 1968, Lodetti também comemorou o seu único título pela Squadra Azzurra. A conquista do troféu da Eurocopa daquele ano, cuja final aconteceu em Roma, contou com a participação do baixinho rossonero no primeiro jogo decisivo: titular no 4-3-3 de Ferruccio Valcareggi, o lombardo atuou no 1 a 1 contra a Iugoslávia como meio-campista pela direita. Na partida de desempate, Giovanni ficou no banco, de onde assistiu a Itália vencer o time do Leste Europeu por 2 a 0 e levantar a taça continental.

O ciclo vencedor do meia se encerrou em 1969. Aquele ano marcou o segundo triunfo de Copa dos Campeões para Lodetti: em pleno Santiago Bernabéu, o Milan não tomou conhecimento do Ajax de Johan Cruijff e Rinus Michels, e quase não sofreu para vencer a forte equipe de Amsterdã. O Diavolo goleou o time que deu origem ao histórico carrossel holandês por 4 a 1, com direito a tripletta de Pierino Prati e mais um gol brasileiro na decisão – o de Angelo Sormani.

Ao lado de Rivera, Lodetti foi um dos nomes mais importantes do Milan na década de 1960 (imago/WEREK)

Com o título continental, a equipe rossonera garantiu vaga no Mundial de Clubes, que ainda era disputado em seu formato antigo, com jogo de ida e volta entre os campeões da Europa e da América do Sul. As partidas ocorreram em outubro de 1969: em Milão, vitória milanista por 3 a 0, com mais um gol de Sormani; em Buenos Aires, triunfo do Estudiantes de La Plata por 2 a 1. Titular em ambas as partidas, Lodetti alcançou o topo do planeta depois de uma década vestindo vermelho e perto, naquela que seria sua última temporada pelo Diavolo.

Em 1970, também foi encerrado o seu ciclo com a seleção italiana. Lodetti não entrava em campo pela Nazionale desde a final da Euro, dois anos antes, mas foi convocado por Valcareggi para jogar a Copa do Mundo. Porém, às vésperas da viagem para o México, o atacante Pietro Anastasi se lesionou e teve de ser cortado, o que levou o treinador a decidir chamar dois atacantes para preencher a lacuna deixada por seu titular. Para acomodar Prati e Roberto Boninsegna, o comandante excluiu o rossonero da maior competição de seleções do planeta. Como forma de compensação, Giovanni ainda foi convidado para passar as férias no Caribe com a família, com tudo pago pela federação, mas recusou a oferta.

Aos 28 anos, já caminhando para o seu ocaso no futebol, o carequinha foi substituído pelo jovem Romeo Benetti no gigante rossonero e trocou Milão por Gênova. Na Ligúria, defenderia as cores da Sampdoria, que na época se contentava apenas em permanecer na elite sem problemas, e atuaria ao lado de Marcello Lippi. Lodetti foi o capitão da equipe por três temporadas e passou a braçadeira ao zagueiro quando deixou o clube, em 1974.

Pela Samp, Lodetti rendeu bem e foi titular absoluto, atuando em praticamente todas as partidas da Serie A – entre 1970-71 e 1972-73, não ficou de fora de nenhuma. O melhor momento blucerchiato nesse período foi no biênio com o técnico Heriberto Herrera, quando a equipe chegou a concluir o campeonato na oitava posição, em 1972. Na primeira e na última temporadas, porém, o meia teve de se resignar com uma luta na parte baixa da tabela e a garantia de duas permanências com emoção: no saldo de gols, em 1971, e após o ilícito esportivo que levou à queda de Verona e Foggia, em 1974.

Lippi e Lodetti foram pilares da Sampdoria no início dos anos 1970 (Wikipedia)

O Foggia foi justamente o destino de Giovanni, que já tinha 32 anos de idade. Lodetti disputou duas temporadas da segunda divisão italiana pelos satanelli e, depois de devolver a equipe do sul da Itália à Serie A, em 1976, deixou a Apúlia. Após se despedir da elite com dois jogos no início da campanha de 1976-77, o meio-campista se transferiu ao Novara, então na categoria inferior. Depois de um ano ruim com o time piemontês na segundona, o lombardo amargou o rebaixamento para a terceira divisão e se aposentou do futebol.

Lodetti optou por não seguir carreira como treinador após sua aposentadoria. O ex-meio-campista se dedicou à função de comentarista, que exerceu por muitos anos nas redes 7 Gold e Odeon TV, pertencentes ao mesmo grupo. O carequinha também continuou extremamente ligado ao clube que o projetou e deu seus pitacos no Milan Channel, canal oficial rossonero. Faleceu em 2023, aos 81 anos, após lutar contra uma doença não informada.

Atualizado em 22 de setembro de 2023.

Giovanni Lodetti
Nascimento: 10 de agosto de 1942, em Caselle Lurani, Itália
Morte: 22 de setembro de 2023, em Caselle Lurani, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Milan (1961-70), Sampdoria (1970-74), Foggia (1974-76) e Novara (1976-78)
Títulos: Serie A (1962 e 1968), Jogos do Mediterrâneo (1963), Coppa Italia (1967), Copa dos Campeões (1963 e 1969), Recopa Uefa (1968), Mundial de Clubes (1969) e Eurocopa (1968)
Seleção italiana: 17 jogos e 2 gols

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