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Roberto Mussi encantou Arrigo Sacchi e foi das divisões amadoras à Copa do Mundo

Arrigo Sacchi foi um dos treinadores italianos mais influentes da história, ao revolucionar a forma de montar equipes de futebol e ser multicampeão pelo Milan. Apesar de ter uma personalidade contestada por nomes como Marco van Basten, o Mago de Fusignano conseguiu ganhar o apreço eterno de alguns jogadores – que também caíram nas suas graças. Um deles foi Roberto Mussi: pinçado por Sacchi na modesta Massese, nas divisões regionais, acompanhou o treinador em clubes e na seleção, pela qual disputou Copa do Mundo e Eurocopa.

Lateral-direito de origem, Mussi fez toda sua base como jogador em Massa, sua terra natal: foi desde as categorias infantis ao profissional da Massese. No modesto clube da Toscana, que jamais foi além da terceira divisão, o jogador despontou ainda aos 18 anos e jogou ao longo de três temporadas e meia. Nesse período, ajudou a equipe a conquistar o acesso através do triunfo no Grupo E do Campeonato Interregionale – equivalente ao quarto escalão do futebol italiano – de 1982-83.

Titular absoluto na campanha da Massese na Serie C2 de 1983-84, Mussi foi um dos principais responsáveis pela salvação dos apuani. O lateral começou a temporada seguinte vestindo alvinegro, mas acabou sendo contratado pelo Parma em outubro de 1984. No primeiro ano na Emília-Romanha, Roberto participou da terrível campanha na Serie B, que culminou no rebaixamento dos crociati. Mas, como diz o ditado, há males que vem para o bem.

A queda fez o Parma apostar num técnico iniciante, mas de bons trabalhos pelas categorias de base de Cesena e Fiorentina, além dos profissionais do pequeno Rimini, na Serie C1: Arrigo Sacchi. Com o novo treinador, Mussi se tornou titular absoluto e peça importante no retorno à segunda divisão, num time repleto de nomes que viriam a figurar na Serie A, como Luca Bucci, Giovanni Bia, Walter Bianchi, Gianluca Signorini, Valeriano Fiorin, Roberto Bordin e Alessandro Melli.

Pupilo de Sacchi, o lateral seguiu o treinador em sua passagem ao Milan (imago)

Na segundona, mais uma vez os ducali fizeram uma grande campanha. Na temporada 1986-87, o Parma passou boa parte do campeonato no terceiro posto, mas perdeu tração nas rodadas finais e viu o acesso escapar: terminou na sétima colocação, com três pontos a menos que o Cesena, último promovido. Mas o futebol apresentado foi dos melhores, sobretudo na Coppa Italia, competição em que os parmenses venceram o Milan duas vezes em San Siro – na fase de grupos e nas oitavas de final – e só foram eliminados nas quartas, frente à finalista Atalanta. Mussi, além de ter atuado nos 38 jogos da Serie B, ainda esteve presente em oito das nove partidas do Parma na copa.

O show do Parma em San Siro credenciou Sacchi para deixar o time patrocinado pela Parmalat e tocar outro ousado projeto, dessa vez encabeçado pelo magnata Silvio Berlusconi, dono do Milan. E um dos primeiros pedidos de Arrigo foi Roberto Mussi, que chegou à Lombardia junto com outros dois parmenses: Walter Bianchi e Mario Bortolazzi, que retornava de empréstimo. Naquela janela, os rossoneri também adquiriram Angelo Colombo, Carlo Ancelotti, Rudd Gullit e Van Basten, formando um time bem mais forte que o dos anos anteriores.

No rossonero, Mussi teve a concorrência de ninguém menos que Mauro Tassotti e, por isso, colecionou apenas presenças ocasionais: foram 18 na primeira temporada e 29 na segunda. Pelo Milan, ainda que na reserva, Roberto conquistou o scudetto, a Copa dos Campeões e a Supercopa Italiana. Contudo, rechear o currículo não era o bastante: o toscano queria jogar e, em busca de oportunidades, nem precisou ir tão longe.

Pelo Torino, Mussi chegou a ser finalista europeu (imago)

Em 1989, o lateral-direito se transferiu para o Torino, que passara por um acidente de percurso e caíra para a Serie B. No Toro, foi colega de Müller e formou uma forte linha defensiva, ao lado do goleiro Luca Marchegiani e dos zagueiros Silvano Benedetti, Ezio Rossi e Roberto Cravero. No Piemonte, também marcou seus primeiros gols como profissional e ajudou na conquista do acesso, obtido graças ao título da segunda categoria.

De volta à elite, Mussi teve uma temporada 1990-91 atribulada e dois meses de molho por conta de uma lesão. Apesar disso, o Torino jogava um bom futebol sob o comando de Emiliano Mondonico e brigou nas cabeças. A equipe levantou a Copa Mitropa, em 1991, e também terminou a Serie A em quinto lugar.

Devido à colocação na parte de cima da tabela, o Torino se classificou para a Copa Uefa. Com Rafael Martín Vázquez, Enzo Scifo e Luca Fusi organizando o meio-campo e Gianluigi Lentini e Casagrande no ataque, o time grená foi longe. Mussi era coadjuvante da equipe, mas começou a campanha europeia marcando contra o KR Reykjavík, na Islândia. Depois disso, o Toro galgou classificações, eliminando até o Real Madrid, e foi vice-campeão: perdeu o título para o Ajax por causa do gol qualificado, após empate por 2 a 2 em Turim e 0 a 0 em Amsterdã. Na Serie A, Roberto também anotou na estreia do time grená, que teve uma bela trajetória e terminou na terceira colocação.

Mussi faturou três taças pelo Toro, sendo a da Coppa Italia a mais importante delas (Allsport)

Mussi ainda disputou mais duas temporadas pelo Torino, sendo titular sempre que as condições físicas permitiam. O lateral venceu a Coppa Italia de 1993 pelos grenás e ainda foi vice-campeão da Supercopa italiana e novamente semifinalista no torneio mata-mata nacional do ano seguinte. Em novembro de 1993, foi chamado pela primeira vez à seleção italiana, que tinha justamente Sacchi no comando. Foi como atleta do Toro que Roberto realizou o sonho de qualquer jogador: chegar a um Mundial.

Sacchi convocou o seu pupilo como opção a Tassotti e a Antonio Benarrivo, do Parma. Mussi tinha uma vantagem, porém: versátil, atuava nas duas laterais e quebrava um galho como zagueiro. Roberto atuou em três partidas na Copa do Mundo. Estreou no confronto de oitavas de final, diante da Nigéria, e efetuou o cruzamento para o gol de empate, anotado por Roberto Baggio – um tento que livrou a Itália de uma eliminação precoce para um dos grandes azarões daquele mundial. Após a suspensão de Tassotti, Mussi também entrou em campo nas semifinais e na decisão, quando se machucou na primeira etapa do duelo contra o Brasil e teve de ser substituído por Luigi Apolloni.

Após o vice no Mundial, o lateral-direito trocou de ares. Mussi, que tinha 175 partidas pelo Torino, optou por voltar a um Parma que iniciava uma restauração em seu sistema defensivo, após a quinta posição na Serie A, a queda nas semifinais da Coppa Italia e o vice da Recopa Uefa. Roberto retornou aos ducali numa janela em que a Parmalat também levou o português Fernando Couto e o meia Dino Baggio ao Tardini. O acordo ficou perto de melar, já que Mussi tinha um acordo praticamente firmado com a Juventus e só não trocou de lado em Turim porque Fusi fez isso no seu lugar.

Na Copa de 1994, Mussi acabou sofrendo lesão na final, diante do Brasil (imago)

No Parma, o repatriado Mussi fez parte de uma trupe bastante extensa e competente na defesa, ao lado de Couto, Apolloni, Benarrivo, Roberto Sensini, Lorenzo Minotti e Alberto Di Chiara. Uma lesão sofrida por Benarrivo contribuiu para que Roberto jogasse a maior parte da temporada sem concorrência e fosse titular da equipe que foi terceira colocada na Serie A, vice na Coppa e que levantou o caneco da Copa Uefa, ao derrotar a Juventus na decisão. Mussi começou no banco nas duas partidas finais, mas entrou em campo na segunda etapa.

Para a temporada 1995-96, o treinador Nevio Scala fixou Benarrivo na lateral esquerda, dando a Mussi a titularidade da faixa oposta. Com essa formação, o Parma não engrenou de imediato. Só depois de uma decepcionante campanha, que culminou no adeus de Scala e a contratação de Ancelotti, é que a equipe subiu de rendimento. Nesse meio tempo, porém, o lateral teve suas últimas aparições pela Nazionale: Sacchi o convocou para a Eurocopa, na qual foi titular nos três jogos da Itália.

De volta ao Parma, Mussi ganhou mais um concorrente. O toscano passou a revezar com Benarrivo e Zé Maria: o brasileiro só jogava pela direita, enquanto os dois italianos alternavam de lado, mas conservando um degrau acima na hierarquia gialloblù. Assim, os ducali chegaram à sua melhor colocação na Serie A em toda a história: o vice-campeonato de 1997.

Pelo Parma, Mussi conquistou duas vezes a Copa Uefa (Action Images)

Já experiente, Mussi começaria a ver seu espaço reduzido no Parma, mas ainda venceria outra Copa Uefa e uma Coppa Italia na temporada 1998-99, sua última como profissional. Depois de vestir a camisa crociata em 277 partidas, o lateral se retirou dos gramados e iniciou uma experiência como treinador nas equipes juvenis do Parma, mas não foi além disso.

Em 2009, com 46 anos, Roberto voltou atrás em sua aposentadoria para vestir a camisa da Massese numa última e simbólica temporada de despedida. Mesmo tendo conquistado a Europa e disputado uma Copa do Mundo, Mussi não hesitou em citar suas origens como o momento mais importante de sua carreira. “Se eu tiver que escolher, escolho o primeiro ano em Massa, quando vencemos o Interregionale. Tínhamos jogadores importantes que atuaram na Serie A, como Luciano Chiarugi, Luciano Zecchini, Walter Speggiorin… e o treinador foi Lido Vieri, outro grande do futebol italiano. Éramos um grupo de amigos, nos divertíamos e brincávamos com isso”, declarou ao site Lo Spallino, em 2012.

Mussi também chegou a ser vice-presidente da Massese por um breve período, e manteve o status de ídolo. Pelos serviços prestados, foi eleito por um grupo de torcedores para o time de todos os tempos do clube apuano. Muito apegado a sua cidade, Roberto constantemente prestigia o time em todas as suas esferas esportivas e recentemente, abriu uma escolinha de futebol em Massa. O ex-lateral também costuma participar de eventos beneficentes do Parma.

Roberto Mussi
Nascimento: 25 de agosto de 1963, em Massa, Itália
Posição: lateral-direito
Clubes como jogador: Massese (1981-84 e 2010-11), Parma (1984-87 e 1994-99), Milan (1987-89) e Torino (1989-94)
Títulos conquistados: Serie C1 (1986), Serie A (1988), Supercopa Italiana (1988), Copa dos Campeões (1989), Serie B (1990), Copa Mitropa (1991), Coppa Italia (1993 e 1999) e Copa Uefa (1995 e 1999)
Seleção italiana: 11 jogos

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