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Angelo Colombo foi o motorzinho do Milan de Arrigo Sacchi

“Para meu time, ele é mais importante do que [seria] Diego Maradona“. Foi assim que, certa feita, Arrigo Sacchi definiu o meio-campista Angelo Colombo. Jogador incansável, combativo, dinâmico e que gostava de fazer seus golzinhos de vez em quando, o lombardo ganhou espaço numa equipe estelar do Milan, no fim dos anos 1980. Ao mesmo tempo em que conquistava títulos, o meia cativou a torcida, que o elegeu como um de seus favoritos.

Como muitos dos jogadores que fizeram história pelo Diavolo, Colombo cresceu nos arredores de Milão. Natural de Mezzago, cidade localizada a apenas 30 quilômetros da metrópole, Angelo entrou na base do Monza, principal time de sua província, aos 13 anos. Por lá, se profissionalizou como meio-campista e passou a mostrar seu espírito de sacrifício: pelos biancorossi, conquistou um acesso à segundona e disputou cinco temporadas na Serie B.

Em 1984, quando já tinha 23 anos, o anjo loiro recebeu a oportunidade de estrear na Serie A. Colombo foi adquirido pelo Avellino e, sob as ordens do técnico Antonio Angelillo, mostrou que não era apenas um “carregador de piano”. O lombardo formou um meio-campo bastante interessante com o ala Angelo Alessio, o dinâmico Fernando De Napoli e Franco Colomba – seu quase xará, regista e capitão daquele time. No time biancoverde, foi escalado habitualmente como trequartista, oferecendo suporte aos atacantes Ramón Díaz e Gerónimo Barbadillo.

Colombo não decepcionou no novo papel. O loiro entrou em campo nas 30 rodadas do campeonato e compensou a técnica limitada para um meia ofensivo com a boa capacidade de finalizar de fora da área e de atacar espaços para aparecer como elemento surpresa. Assim, marcou seis gols, contribuiu com mais uma permanência do Avellino na elite (o time irpino ficou na 11ª colocação) e recebeu proposta de uma agremiação maior: a Udinese.

Naquele período, o diretor esportivo da Udinese era Ariedo Braida, que o conhecia muito bem. O ex-atacante jogara no Monza quando Colombo ainda era um juvenil e voltou ao clube já nas vestes de cartola quando o anjo loiro estava profissionalizado. Ciente das qualidades de Angelo como volante e meia pela direita, Braida o adquiriu para que substituísse Massimo Mauro, que fora vendido à Juventus. Assim, juntamente a Barbadillo, o lombardo trocou a Campânia pelo Friuli.

Colombo se destacou por altas doses de empenho e pelo dinamismo no meio-campo (imago)

A Udinese capitaneada por Edinho, porém, não era mais forte do que o Avellino. Em dois anos pelos bianconeri, Colombo foi prejudicado pela desorganização do time, que teve até jogadores que se envolveram num escândalo de apostas, e rendeu menos do que podia. Punidos com a perda de pontos por conta da manipulação de resultados, os friulanos acabaram rebaixados para a Serie B em 1987. O loiro, no entanto, tinha o seu anjo da guarda particular: Braida.

Em 1986, o diretor já havia sido contratado pelo Milan, que iniciava uma nova era com a gestão de Silvio Berlusconi. No ano seguinte, o presidente começou a dar sua cara ao time: contratou um técnico inovador (Sacchi), dois craques de relevo internacional (Marco van Basten e Ruud Gullit) e também buscou nomes consolidados em solo italiano, como Carlo Ancelotti. Braida indicou Colombo, que foi aceito pelo treinador, mas não contava com a confiança dos torcedores: para a cética comunidade milanista, ele seria apenas um reserva, que daria estofo ao elenco.

Os rossoneri estavam enganados. Colombo rapidamente ganhou espaço no time e virou o dono da camisa 4 – que usava se atuasse como volante central destro no 4-4-2 sacchiano ou como meia pela direita. Para o histórico narrador milanista Carlo Pellegatti, Angelo se tornou a “Littorina della Brianza”. A littorina é um pequeno trem regional italiano e o meio-campista ganhou o apelido pelo seu incansável vaivém no gramado, que efetuava com muito empenho.

No Milan, Sacchi ajudou Colombo a melhorar sua capacidade de marcar por pressão: para o treinador, o anjo loiro corria muito, mas nem sempre o fazia da maneira correta. Isso mudou a partir de 1987, quando o meia colocou seus pulmões à disposição do time para recuperar bolas e perseguir adversários. Tomar a pelota dos rivais o quanto antes e ter a sua posse o máximo de tempo possível eram condições basilares para que os conceitos do Mago de Fusignano fossem colocados em prática. A Littorina da Brianza era fundamental para que esses objetivos fossem cumpridos e, por isso, tanto seus colegas quanto a torcida o adoravam.

O estilo incansável do anjo loiro fazia os mecanismos milanistas funcionarem, mas Colombo não era apenas um jogador que se distinguia pela dedicação e emprestava vitalidade à equipe. O meio-campista também contribuiu com gols importantes. Os menos chamativos ocorreram em vitórias contra Avellino (3 a 0) e Pisa (1 a 0), ao passo que o tento que lhe deu lugar de destaque na história rossonera aconteceu na 13ª rodada da Serie A 1987-88.

Meio-campista versátil, Colombo se consolidou como autêntico corredor do histórico time de Sacchi (imago/Buzzi)

O Napoli de Maradona e Careca, então campeão e líder do campeonato, vencia com um golaço do brasileiro. Aos 19 minutos, Angelino aproveitou jogada de Gullit para igualar a parada e dar início ao triunfo rubro-negro. Depois da virada, o Milan chegou a fazer 4 a 1 e mostrou que o scudetto era possível. A tomada da liderança ocorreu justamente contra os napolitanos: depois do triunfo por 3 a 2, o Diavolo assumiu a ponta e a manteve até o final. Era o primeiro título das gestões de Berlusconi e Sacchi. Também era o primeiro da carreira de Colombo.

Angelo vestiria azzurro pelas únicas vezes naquele mesmo ano de 1988. O meio-campista, então com 27 anos, foi convocado pelo técnico Francesco Rocca e representou a Itália na campanha do quarto lugar na Olimpíada de Seul. Apesar disso, Colombo nunca entrou nos planos de Azeglio Vicini, que dirigia a seleção principal italiana naquele período.

No mesmo ano em que foi até a Coreia do Sul, Angelo ganhou um importante colega no meio-campo do Milan: Frank Rijkaard. O lombardo seguiu como titular, ainda que revezasse com Roberto Donadoni, Alberico Evani e Ancelotti. Geralmente entre os onze, o intenso meio-campista jogava ao lado do holandês ou aberto na direita. E foi como ala destra que adicionou ao currículo mais dois títulos em 1988-89: a Supercopa Italiana e a Copa dos Campeões. Colombo entrou em campo em ambas as finais e foi pilar dos rososneri na campanha europeia, da qual participou de todos os jogos.

Embora fosse uma peça essencial para Sacchi, Colombo teve menos minutos de jogo na temporada 1989-90 em virtude de uma lesão que o deixou mais de dois meses parado. Ao mesmo tempo, o retorno de empréstimo do polivalente Daniele Massaro e a contratação do ponta Diego Fuser ofereceram ao trenzinho brianzolo uma maior concorrência.

Quando esteve fora de combate, Angelino ficou de fora das finais da Supercopa Uefa e do Mundial Interclubes, mas comemorou as conquistas. Em forma, disputou todas as partidas do Milan na Copa dos Campeões e se despediu do clube com o bicampeonato da competição, obtido com triunfo sobre o Benfica, em Viena.

O anjo loiro teve três anos intensos no Milan (imago)

Na janela de transferências do verão de 1990, o lombardo deixou o Milan numa troca com o Bari. Sacchi pediu a contratação de Angelo Carbone e Colombo, que tinha seus atritos com o genioso treinador, optou por não ter mais concorrentes. Assim, depois de 115 jogos pelos rossoneri, rumou à Apúlia, enquanto seu xará o substituiu em San Siro – sem, no entanto, chegar perto de reproduzir o futebol do brianzolo.

No Bari, a Littorina da Brianza fez uma boa primeira temporada. Em 1990-91, Colombo atuou em dupla com o brasileiro Gérson Caçapa no centro do campo do time treinado por Gaetano Salvemini e ajudou os galletti a escaparam do rebaixamento. Na temporada seguinte, contudo, Colombo entrou em campo apenas duas vezes. Decidiu, então, deixar o clube com o campeonato em andamento.

Angelino só tinha 31 anos àquela altura, mas ficou parado até 1994. Sem fechar com clubes italianos, Colombo viu surgir uma oportunidade de atuar no futebol australiano, e a aceitou. A breve experiência pelo Marconi Stallions foi a deixa para encerrar a carreira, aos 34.

Fora dos campos, o aposentado Colombo retornou ao Milan como coordenador das divisões de base e teve dois trabalhos como treinador nas divisões inferiores: evitou o rebaixamento do Montebelluna para a quinta divisão e teve altos e baixos com o Carpenedolo. Caiu para a quinta divisão com os rossoneri, mas depois os manteve na categoria. Como técnico, nem de perto mostrou o mesmo fôlego que o consagrou como atleta.

Angelo Colombo
Nascimento: 24 de fevereiro de 1961, em Mezzago, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Monza (1979-84), Avellino (1984-85), Udinese (1985-87), Milan (1987-90), Bari (1990-92) e Marconi Stallions (1994-95)
Títulos: Serie A (1988) e Supercopa Italiana (1988), Copa dos Campeões (1989 e 1990), Supercopa Uefa (1989) e Mundial Interclubes (1989)
Clubes como treinador: Montebelluna (2009) e Carpenedolo (2010-11)
Seleção olímpica italiana: 7 jogos

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