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Com sua potência, John Arne Riise fez boa figura em triênio pela Roma

Na primeira década do século XXI, o lateral-esquerdo John Arne Riise viveu o seu auge e integrou o time dos melhores jogadores do mundo em sua posição. Chamado por alguns de “Roberto Carlos norueguês”, o nórdico ficou conhecido como “raio”, por causa de sua potência física, e brilhou com as camisas de Liverpool e Roma. Com muita disposição no apoio, um chute forte com a canhota e habilidade nas bolas paradas, deixou saudades na Cidade Eterna.

Riise nasceu em setembro de 1980, em Molde, na Noruega. Apesar de o clube homônimo de sua terra natal ser um dos grandes do país, o ruivo começou a sua carreira pelo Aalesund, sediado a cerca de 80 km do local em que veio ao mundo. Tido como grande revelação do futebol nacional, John integrou todas as seleções de base norueguesas e estreou profissionalmente antes de ser maior de idade. Aos 17 anos, se transferiu para o Monaco, da França.

Em seu primeiro ano no clube do principado, Riise se alternou entre o time B, que disputava a quarta divisão, e o elenco principal, que abocanhou uma vaga na Copa Uefa. Em 1999, convenceu o técnico Claude Puel a utilizá-lo regularmente e contribuiu para a campanha do título francês, juntamente a outros grandes jogadores – como Fabien Barthez, Willy Sagnol, Rafa Márquez, Costinha, Dado Prso, Sabri Lamouchi, Ludovic Giuly, Marcelo Gallardo, Marco Simone e David Trezeguet. Pelo destaque no ASM, o lateral recebeu as primeiras oportunidades na seleção da Noruega e foi convocado para a Euro 2000. No entanto, não entrou em campo no torneio continental.

Apesar da ascensão, o ruivo viu o seu espaço no time do Monaco diminuir em 2000-01: depois de manifestar o seu desejo de ser negociado, passou a ser barrado por Puel. Riise era sondado por alguns clubes da Premier League, como Leeds e Fulham, mas concretizou sua transferência para o futebol inglês somente em 2001, e para o Liverpool. Em Anfield, rapidamente se consolidou e ganhou o apelido de Thunderbolt (“raio”), que lhe acompanharia durante as sete temporadas em que vestiu a camisa vermelha.

Pelos Reds, o jovem de cabelo vermelho somou números expressivos: titular tanto sob o comando de Gérard Houllier quanto sob o de Rafa Benítez, acumulou 348 jogos, 31 gols e 31 assistências. Titular logo de cara, chegou conquistando os títulos da Community Shield, ante o Manchester United, e o da Supercopa Uefa, sobre o Bayern Munique. Na decisão da taça europeia, disputada no estádio Louis II, casa do Mônaco, o norueguês marcou um dos tentos da vitória por 3 a 2.

Capaz de jogar tanto na lateral quanto na meia esquerda – e, mais tarde, como volante –, Riise terminou a sua primeira temporada pelo Liverpool com oito gols marcados. Nos dois anos seguintes, o norueguês teve desempenho menos fulgurante, embora tenha mantido a sua posição e contribuído com a conquista de uma Copa da Liga Inglesa. John voltou a crescer em 2004-05, com a chegada de Benítez.

Na mítica final da Liga dos Campeões de Istambul, frente ao Milan, o ruivo foi o autor da assistência para o primeiro gol marcado pelo capitão Steven Gerrard. Dessa forma, contribuiu para que os Reds, que ainda tinham nomes como Jerzy Dudek, Jamie Carragher, Xabi Alonso e Fernando Morientes, deixassem o 3 a 0 para trás e empatassem por 3 a 3 com aquele fortíssimo time rossonero – treinado por Carlo Ancelotti e estrelado por Dida, Paolo Maldini, Alessandro Nesta, Clarence Seedorf, Gennaro Gattuso, Andrea Pirlo, Kaká, Rui Costa, Andriy Shevchenko e Hernán Crespo. Na disputa de pênaltis, Dida fez uma defesaça na cobrança de Riise, mas o Liverpool levantou a taça assim mesmo.

Com canhota poderosa, Riise foi absoluto na Roma ao longo de três anos (imago)

Ginger, como era chamado por seus colegas de clube, manteve o alto nível nos anos seguintes, nos quais faturou mais uma Supercopa Uefa, uma FA Cup e uma Community Shield. Tendo Manchester United e Chelsea à frente, o Liverpool de Rafa Benítez não conseguia competir pelo título da Premier League, mas costumava fazer campanhas muito interessantes na Champions League. Assim foi em 2006-07, quando Riise protagonizou um episódio curioso com o atacante galês Craig Bellamy.

Benítez decidiu levar a delegação do Liverpool para o clima ameno do inverno do Algarve, em Portugal, de modo a fazer uma preparação mais tranquila para o duelo fora de casa contra o Barcelona, pela ida das oitavas de final da competição europeia. Certa noite, quando os jogadores receberam autorização para consumirem bebidas alcoólicas, Bellamy, já alterado, praticamente obrigou Riise a subir ao palco para cantar no karaokê. O norueguês, de forma ríspida, repeliu o atacante, dizendo que iria bater nele se tentasse de novo. Quando todos já haviam ido dormir, Craig entrou no quarto do lateral e tentou agredi-lo com um taco de golfe – nada aconteceu, felizmente. A parte mais surreal da história é que os Reds venceram o Barça por 2 a 1, dois dias depois… com gols de Bellamy e Riise. O galês ainda imitou um golfista na comemoração.

O Liverpool chegou até a decisão da Champions League naquela temporada, mas viu o Milan e vingar em Atenas, pertinho de Istambul. Em 2007-08, Riise perdeu espaço no time titular dos Reds para o brasileiro Fábio Aurélio, que tinha um futebol mais defensivo. John continuou jogando com alguma frequência, mas nem sempre colecionava momentos felizes. Um dos últimos aliás, foi o gol contra, de peixinho, nos acréscimos da ida das semifinais da UCL, contra o Chelsea. Após 1 a 1 em Anfield, os Blues venceram por 3 a 2 em Stamford Bridge e avançaram à decisão contra o Manchester United – que se sagraria campeão.

A concorrência com Fábio Aurélio levou Riise a avaliar opções no mercado. Assim, no início da janela de verão de 2008, o lateral assinou com a Roma, por 5 milhões de euros. O raio decidiu acertar com o time italiano após receber boas referências do compatriota John Carew e, assim, se tornou o segundo jogador norueguês da história capitolina.

Riise chegava a uma equipe que acabara de faturar o título da Coppa Italia e que era a principal rival da Inter na disputa pelo scudetto. No entanto, os primeiros meses do escandinavo em Roma foram muito complicados. De cara, a agremiação perdeu o presidente Franco Sensi, que faleceu após sucumbir a uma doença que lhe acompanhava havia anos. Depois, no aspecto esportivo, os giallorossi perderam a Supercopa Italiana para a Inter e começaram a Serie A com um péssimo desempenho, com direito a uma goleada de 4 a 0 sofrida para os nerazzurri no Olímpico.

A Roma de Luciano Spalletti só viu a situação começar a se acalmar em novembro, após o triunfo sobre a Lazio no clássico e a primeira vitória conquistada longe de seus domínios – que ocorreu apenas na 13ª rodada, sobre o Lecce. Vencida a dificuldade inicial, Riise afastou os rumores de transferência ao Newcastle e começou a ser notado pelo seu espírito de trabalho árduo. Sua garra lhe fez querido pela torcida e contribuiu para que a equipe estabelecesse uma campanha de recuperação, com direito a 13 jogos de invencibilidade.

Em sua primeira temporada pela Roma, Riise ainda marcou gols importantes. O que inaugurou a contagem pelos giallorossi foi num frenético 3 a 3 contra a Inter de José Mourinho, que já havia aberto uma ótima vantagem na liderança da Serie A. Após belo lançamento de Christian Panucci, John dominou de cabeça, ganhou de Maicon na corrida e tocou na saída de Julio Cesar. Dois meses depois, ele voltou a comemorar em San Siro, estragando a despedida de Maldini do futebol. O norueguês anotou em uma linda cobrança de falta, com um petardo que estufou a rede de Dida no canto superior esquerdo, e também forneceu a assistência para o segundo tento da Loba na vitória por 3 a 2.

Apesar de não ter levantado taças na Itália, o norueguês teve prestações bastante regulares pela Roma (imago/Gribaudi/ImagePhoto)

Todos os esforço de recuperação da Roma não foram o bastante, já que a equipe terminou a Serie A apenas na sexta colocação e teve de se contentar com a Liga Europa. Riise chegou a ser sondado pelo Barcelona, mas acabou permanecendo em Trigoria e viu o seu rendimento crescer bastante sob o comando de Claudio Ranieri: em 2009-10, ano em que a Loba ficou a um passo de faturar o scudetto e mais uma Coppa Italia, mas acabou amargando o vice em ambas as competições, o nórdico anotou oito gols.

Na melhor campanha que fez com a camisa giallorossa, John foi o melhor lateral-esquerdo da Serie A e, além da regularidade, ainda viveu momentos inesquecíveis. Em novembro de 2009, teve de marcar o irmão mais novo, o ponta direita Bjorn Helge Riise, e levou a melhor no duelo entre camisas 17 – até balançou as redes na vitória por 2 a 1 sobre o Fulham, pela fase de grupos da Liga Europa. Em janeiro de 2010, na partida mais célebre que fez pela Roma, o raio foi o grande nome da virada da Loba sobre a Juventus, em Turim. Aos 82 minutos, cavou a expulsão de Gianluigi Buffon ao obrigar o goleiro a derrubá-lo fora da área no intuito de evitar um gol e, aos 92, de cabeça, anotou o tento do 2 a 1.

Em 2010-11, Riise pouco pode contribuir para um ano errático da Roma – inclusive, anotou apenas um tento nas 42 partidas que realizou, e logo na primeira delas. Ranieri perdeu o controle da equipe e foi trocado por Vincenzo Montella na metade final da temporada, mas tudo já estava comprometido: os giallorossi já haviam perdido a Supercopa Italiana e sido derrotados em casa pelo Shakhtar Donetsk nas oitavas de final da Champions League. O novo treinador não conseguiu mudar a sorte dos capitolinos, que caíram no torneio continental, foram eliminados nas semifinais da Coppa Italia e terminaram apenas na sexta posição da Serie A.

No verão de 2011, a trajetória do norueguês na Itália foi encerrada, devido à reformulação no comando da Roma, que passou da família Sensi para as mãos do empresário ítalo-americano Thomas DiBenedetto, e à chegada do técnico Luis Enrique. Assim, antes de cumprir o seu último ano de contrato pela equipe gialllorossa, Riise concluiu a sua experiência na Cidade Eterna com 136 partidas, 11 gols, 12 assistências e nenhum título. Seu destino seria o Fulham, time em que seu irmão ainda jogava.

Já veterano, o raio foi menos potente pelo time londrino do que nas suas experiências anteriores. Riise acabou sendo utilizado de forma mais defensiva e não marcou um gol sequer nas três temporadas em que vestiu a camisa alvinegra. Durante a sua passagem pelo Fulham, o lateral anunciou a sua aposentadoria da seleção norueguesa, com 110 aparições e 16 tentos anotados. Até hoje, é o atleta que mais vezes representou os leões nórdicos.

Aos 33 anos, John não conseguia mais contribuir o bastante no Fulham e, já reserva do time, amargou o rebaixamento dos Cottagers à segundona inglesa. Assim, rumou ao futebol do Chipre em 2014 e, na nação insular, teve os derradeiros bons momentos no esporte. Pelo APOEL, venceu o campeonato e a copa locais e ainda disputou a Champions League pela última vez. Dali em diante, Riise acumulou passagens relâmpago por equipes da Índia e da Noruega: Delhi Dynamos, Aalesund, Chennaiyin e, por fim, o Rollon, da quarta divisão de seu país, onde se aposentou, em 2017.

John Arne Semundseth Riise
Nascimento: 24 de setembro de 1980, em Molde, Noruega
Posição: lateral-esquerdo
Clubes: Aalesund (1996-98 e 2016), Monaco (1998-2001), Liverpool (2001-08), Roma (2008-11), Fulham (2011-14), APOEL (2014-15), Dehli Dynamos (2015-16), Chennaiyin (2016) e Rollon (2017)
Títulos: Campeonato Francês (2000), Supercopa da França (2000), Community Shield (2001 e 2006), Supercopa Uefa (2001 e 2005), Copa da Liga Inglesa (2003), Champions League (2005), FA Cup (2006), Copa do Chipre (2015) e Campeonato Cipriota (2015)
Seleção norueguesa: 110 jogos e 16 gols

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