Uma das maiores satisfações na vida de técnicos de futebol é ter um autêntico motorzinho no elenco. Para diversos treinadores, essa peça foi o italiano Giancarlo Marocchi, um jogador incansável e capaz de desempenhar várias funções no centro do campo. Entre os anos 1980 e 1990, ele teve passagens positivas por Bologna e Juventus, chegando até a disputar uma Copa do Mundo.
Natural de Imola, Marocchi rapidamente descobriu que queria ser jogador de futebol. Dessa forma, começou a treinar nas categorias de base do clube da cidade conhecida por abrigar o autódromo em que Ayrton Senna sofreu seu acidente fatal. Antes mesmo de terminar a formação no Imola, Giancarlo foi notado pelo Bologna, time em que se profissionalizou e no qual estreou, aos 17 anos, na Serie B.
Quando Marocchi foi alçado à equipe principal do Bologna, a agremiação vinha em ladeira abaixo e inaugurava um dos piores momentos de sua história. Os felsinei tinham acabado de cair da primeira divisão e, em 1983, pouco depois das primeiras oportunidades concedidas ao jovem jogador, foram rebaixados pela primeira vez desde sua fundação, em 1909, para a Serie C1.
O descenso acabou abrindo caminho para que Giancarlo se tornasse titular do Bologna. O meio-campista se tornou um dos líderes técnicos do elenco muito cedo e colaborou prontamente para o retorno dos veltri à segunda divisão. Contudo, os bolonheses ainda enfrentavam dificuldades e continuaram na Serie B por quatro temporadas, com três campanhas de meio de tabela. Apenas em 1987-88 é que o time deslanchou e, treinado por Luigi Maifredi, conquistou o título e retornou à elite.
Ainda que atuasse na Serie B, Marocchi era tido como um dos jovens meio-campistas mais promissores do país naquela época. Com seu estilo “box-to-box”, Giancarlo chamava a atenção pelo futebol moderno e pela capacidade de não apenas ser dinâmico no centro do gramado, mas de também finalizar com precisão. Essa característica lhe rendeu 16 gols em 197 jogos pelos petronianos ao longo de seis temporadas e lhe ajudou a entrar no radar da Juventus, que vivia um momento de renovação. Assim, no verão de 1988, o jogador de 23 anos foi parar no time bianconero por 4,5 bilhões de liras.
Na Juve, treinada por Dino Zoff, Marocchi virou titular absoluto de cara e começou a escrever uma história importante, marcada por 319 aparições e 25 gols pelo clube de Turim. Em 1988-89, Giancarlo atuou nas 34 rodadas da Serie A e contribuiu para que a Juventus ficasse com a quarta colocação e uma vaga na Copa Uefa. A consistência fez com que Azeglio Vicini o convocasse pela primeira vez para a seleção italiana naquela mesma campanha. Após estrear como titular numa vitória por 2 a 0 em amistoso contra a Escócia, o meio-campista ainda defendeu a Squadra Azzurra em mais dois compromissos até o fim da temporada.
Os primeiros títulos do box-to-box pela Velha Senhora viriam no segundo ano do clube – que também foi o seu melhor, do ponto de vista individual. Na Copa Uefa, Marocchi marcou gols sobre Górnik Zabrze e Köln (este, nas semifinais) e foi um dos melhores juventinos na conquista do título do torneio, que ocorreu em decisão contra a Fiorentina de Dunga e Roberto Baggio. A Juventus também foi campeã da Coppa Italia, ante o Milan, e fez uma campanha razoável na Serie A. O romanholo anotou cinco tentos no campeonato, vitimando adversários como Bologna e Inter.
Depois da excelente temporada, Marocchi foi convocado para a Copa do Mundo de 1990. Porém, por conta da concorrência com Nicola Berti, Carlo Ancelotti, Luigi De Agostini, Fernando De Napoli e Giuseppe Giannini, não entrou em campo no torneio, na qual a Itália, anfitriã, ficou com a terceira posição. Depois do Mundial, Giancarlo atuou em mais algumas partidas pela Nazionale, mas foi descartado em 1991, quando Arrigo Sacchi substituiu Vicini, e encerrou sua contribuição com 11 aparições pelos azzurri.
Com a Copa encerrada, os clubes voltaram à atividade e a diretoria da Juventus foi com tudo ao mercado: resolveu contratar o craque Roberto Baggio, naquela que foi a transferência mais cara do futebol até então. Com Gigi Maifredi, em 1990-91, o time não engrenou. Só com Giovanni Trapattoni, que ficou de 1991 a 1994, é que a Velha Senhora reencontrou o caminho das vitórias: em 1993, a Juve foi campeã da Copa Uefa, batendo o Borussia Dortmund nos dois jogos decisivos. Marocchi já era reserva naquele momento e participou de quatro jogos da campanha, todos a partir das quartas de final, e atuou na ida contra os borussianos, na Alemanha.
A partir da chegada de Trap, Marocchi desempenhou funções mais defensivas na equipe, atuando como meio-campista pela direita ou pela esquerda num 3-5-2, e atuando improvisado como ala de vez em quando. Em 1994, quando Marcello Lippi assumiu o comando da Juventus, Giancarlo perdeu ainda mais espaço entre os titulares, mas era uma peça importante para o controle das partidas no segundo tempo, quando a Velha Senhora vencia. Nessa condição, o romanholo conquistou Serie A e Coppa Italia em 1995 e, no ano seguinte, a Supercopa Italiana e a Champions League, contra o Ajax. Marocchi não jogou a final, mas atuou durante a campanha.
Em 1996, depois de oito temporadas de Juventus, era a hora de partir. Marocchi tinha uma concorrência brutal em Turim (Didier Deschamps, Antonio Conte, Angelo Di Livio, Alessio Tacchinardi, Vladimir Jugovic e Paulo Sousa), e sabia que não teria chances com Lippi. Foi aí que, aos 31 anos, o romanholo recebeu uma proposta para retornar ao Bologna. Enquanto Giancarlo esteve no Piemonte, os petronianos viveram momentos terríveis, com nova passagem pela Serie C1, mas vinham se reconstruindo graças à gestão do presidente Giusepe Gazzoni Frascara e o comando do técnico Renzo Ulivieri.
Quando Marocchi chegou ao Bologna, o time acabara de ser campeão da Serie B e semifinalista da Coppa Italia. Os bons momentos continuariam com a aquisição do volante, que foi titular absoluto dos rossoblù e só perdeu jogos quando se lesionou, em sua temporada final (1999-2000). Giancarlo ajudou os bolonheses a serem semifinalistas da copa nacional em outras duas ocasiões (1996-97 e 1998-99) e terem ótimas campanhas na Serie A em seus quatro anos na elite. Em três dessas campanhas, o time emiliano ficou entre os 10 primeiros colocados e flertou com classificações diretas para a Copa Uefa.
Em 1998-99, porém, o Bologna disputaria a competição que antecedeu a Liga Europa. Os felsinei se classificaram à Copa Intertoto, venceram o torneio e ganharam o direito de participar da Copa Uefa. Os bolonheses foram longe no certame continental e pararam somente contra o Marseille, nas semifinais, graças a um gol de pênalti nos minutos finais do confronto. Foi a melhor participação do clube em uma competição da Uefa, mas os jogadores sabiam que poderiam ir além. Por isso, caíram na provocação dos franceses após o apito final: pela pancadaria que ocorreu na entrada do túnel de acesso aos vestiários do Renato Dall’Ara, Marocchi recebeu cartão vermelho e um gancho de quatro jogos.
Durante seus quatro últimos anos de Bologna, Giancarlo dividiu o campo com ótimos jogadores, como Francesco Antonioli, Gianluca Pagliuca, Michele Paramatti, Daniele Carnasciali, Alessandro Gamberini, Zé Elias, Pierre Womé, Davide Fontolan, Carlo Nervo, Klas Ingesson, Kennet Andersson, Igor Shalimov, Igor Kolyvanov, Igor Simutenkov, Giuseppe Signori e Roberto Baggio. Apesar de ter precisado dividir o espaço no coração da torcida com tantos atletas renomados ou peças de notório valor, Marocchi era um dos preferidos dos torcedores. Afinal, fez 348 partidas pelo clube e está na lista dos 20 que mais atuaram pelo Bologna, além de ser o líder em jogos com os rossoblù na segunda divisão. É preciso ter respeito por aqueles que seguraram a barra nos momentos mais difíceis.
Após pendurar as chuteiras, em 2000, Marocchi ficou um tempo afastado do futebol, mas logo voltou ao clube que lhe deu a oportunidade de despontar no esporte. No Bologna, atuou como olheiro, team manager, diretor geral e responsável pelas categorias de base. Em 2010, o ex-volante trocou os bastidores pelas câmeras: se tornou comentarista e é um dos rostos mais conhecidos da Sky Sport italiana.
Giancarlo Marocchi
Nascimento: 4 de julho de 1965, em Imola, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Bologna (1982-88 e 1996-2000) e Juventus (1988-96)
Títulos conquistados: Serie B (1988), Coppa Italia (1990 e 1995), Copa Uefa (1990 e 1993), Serie A (1995), Supercopa Italiana (1995), Champions League (1996) e Copa Intertoto (1998)
Seleção italiana: 11 partidas