A Fiorentina é um dos clubes da Velha Bota que mais tem tradição quando o assunto é jogadores brasileiros. No começo esse namoro foi um pouco tímido, mas as poucas investidas foram para lá de correspondidas e bem sucedidas. Neste século, o clube de Florença passou a olhar nossos atletas com mais atenção e a lista de brasileiros na terra renascentista cresceu bastante, embora muito mais em quantidade do que em qualidade e idolatria.
Quem mais poderia ter se aproximado disso nos últimos anos foi Felipe Melo, mas uma temporada só foi pouco para que o pitbull pudesse criar laços com o clube. É mais o que poderia ter sido do que o que realmente foi. E ter trocado a Viola pela rival Juventus também não ajudou nem um pouco.
Dá para medir a grandeza da relação entre a Fiorentina e o Brasil ao analisarmos que no primeiro scudetto de sua história o clube tinha em Julinho Botelho um de seus principais jogadores. No segundo, lá estava Amarildo, protagonista em mais uma conquista. Ao longo dos anos, jogadores brasileiros fizeram parte do elenco violeta em seus melhores momentos.
E próxima a anunciar a falência, a Viola conquistou a Coppa Italia de 2001 tendo o volante Amaral como titular absoluto e Leandro Amaral marcando três gols nas quartas-de-final, contra o Brescia. Do primeiro ao último título, os gigliati também tiveram um tom de verde e amarelo em meio ao mar violeta. Ao todo, 33 brasileiros já vestiram a camisa da Fiorentina em sua história. Atualmente, fazem parte do elenco o goleiro Neto e o meia Octávio.
No nosso levantamento, não consideramos o brasileiro naturalizado belga Luís Oliveira, pois ele trilhou toda a sua carreira internacional com o passaporte europeu – e até jogou pelos Diabos Vermelhos nos anos 90. Oliveira, no entanto, foi bem, e foi uma boa alternativa de ataque em uma Fiorentina que tinha Rui Costa, Batistuta e Edmundo.
Para montar as listas, o Quattro Tratti levou em consideração a importância de determinado jogador na história do clube, qualidade técnica do atleta versus expectativa, identificação com a torcida e o dia a dia do clube (mesmo após o fim da carreira), grau de participação nas conquistas, respaldo atingido através da equipe e prêmios individuais. Listas são sempre discutíveis, é claro, e você pode deixar a sua nos comentários!
Observações: Para saber mais sobre os jogadores, os links levam a seus perfis no site. Os títulos e prêmios individuais citados são apenas aqueles conquistados pelos jogadores em seu período no clube. Também foram computadas premiações pelas seleções nacionais, desde que ocorressem durante a passagem dos jogadores nos clubes em questão.
Brasileiros da história da Fiorentina (por ordem alfabética e, em seguida, no ranking):
Adriano, Alan Empereur, Alex, Almir, Amaral, Amarildo, Amauri, Anderson, Angelo Sormani, Antoninho, David Mateo, Dino da Costa, Dunga, Edmundo, Felipe, Felipe Melo, Filipe Gomes, Guilherme do Prado, Keirrison, Jefferson Siqueira, Julinho Botelho, Leandro Amaral, Marcão, Márcio Santos, Marcos Miranda, Mazinho, Neto, Sergio Clerici, Octávio, Reginaldo, Rômulo, Ryder Matos e Sócrates.
5º – Edmundo
Posição: atacante
Período em que atuou: 1998-99
Títulos conquistados: nenhum
Prêmios individuais: nenhum
A passagem de Edmundo na Fiorentina pode ser definida com o velho clichê ‘amor de carnaval’, mas, paradoxalmente, o que acabou com a lua de mel entre o atacante e a torcida Viola foi justamente a Festa da Carne. O ‘Animal’ certamente formou uma das melhores duplas de ataque dos anos 1990, ao lado de Batistuta. Ambos eram municiados pelo português Rui Costa, e Edmundo entendeu que precisava ser menos matador e mais útil ao time. No começo isso funcionou e a sintonia entre esses três pilares era perfeita, tanto é que a Viola chegou a liderar a Serie A por 16 rodadas na temporada 1998-99. Mesmo quando o jogador começou a se desentender com o técnico Trapattoni isso não afetou o rendimento da equipe, mas então o brasileiro começou a brigar com os próprios companheiros e o caldo começou a entornar.
Nem todos sabem, mas no fatídico episódio do carnaval, Edmundo teve permissão da Fiorentina para voltar ao Brasil, sendo inclusive acompanhado por um preparador físico do clube. Mas como o time começou a desandar, o atacante foi responsabilizado pela perda de um possível scudetto não só pela torcida, mas também por seus companheiros. Atitude compreensível, mas um tanto quanto ingrata para um jogador que marcou 14 gols em sua breve passagem e contribuiu diretamente para que a equipe disputasse a Liga dos Campeões, fato pouco usual na história do clube.
4º – Sócrates
Posição: meia
Período em que atuou: 1984-1985
Títulos conquistados: nenhum
Prêmios individuais: nenhum
Ídolo incontestável do Corinthians e admirado por grande parte do povo brasileiro, Sócrates infelizmente não foi tão bem em sua curta passagem pela Toscana. As dificuldades já começaram desde sua chegada a Itália, haja visto que o Doutor foi contratado para substituir ninguém menos que o maior ídolo da história da Fiorentina, Giancarlo Antognoni, que ficaria um ano parado por grave lesão. Uma missão para lá de ingrata.
Sócrates vestiu a malha viola 25 vezes, mas nunca caiu nas graças da torcida e encontrava obstáculos para convencer até mesmo os seus companheiros. Alguns dizem que o brasileiro tentou colocar em prática a ideologia da democracia corinthiana – vista como liberal demais para os italianos – e não foi bem aceito. Outros culpam a frequência de Sócrates em festas e eventos noturnos, e o excesso do atleta no consumo do álcool. Seja lá o que for, a Fiorentina só pode lamentar ter contado com um dos maiores jogadores da história e não ter obtido sucesso.
3º – Dunga
Posição: volante
Período em que atuou: 1988-1992
Títulos conquistados: Copa América 1989
Prêmios individuais: nenhum
A birra que alguns brasileiros pegaram com o agora treinador Dunga em nada lembra o gosto pelo ótimo volante aguerrido e com visão de jogo apurada. Tanto é que o gaúcho é lembrado com muito carinho pelos torcedores gigliati até hoje.
Dunga chegou à Florença em 1987, mas a Viola já contava com estrangeiros demais e ele acabou emprestado ao Pisa, da própria Toscana – somente um ano depois o volante conseguiu se estabelecer na equipe. Se o time contava com a mítica dupla Baggio e Borgonovo no ataque, Dunga era o responsável por liderar o meio-campo. Dono da camisa de número 4, o brasileiro chegou a final da Copa Uefa em 1990, mesmo ano em que passou a ser dono também da faixa de capitão da equipe com a chegada do técnico Sebastião Lazaroni. A saída do volante foi conturbada, mas não chegou a manchar os dias de glória do Cucciolo.
2º – Amarildo
Posição: atacante
Período em que atuou: 1967-1971
Títulos conquistados: Serie A 1968–69
Prêmios individuais: nenhum
Campeão do Mundo com a seleção brasileira em 1962, Amarildo ficou famoso por substituir Pelé no Mundial. E na Fiorentina o atacante também chegou para o lugar de outro ídolo: Kurt Hamrin. O ‘Possesso’ trocou o Botafogo pelo Milan e ficou na Lombardia por quatro anos, onde levantou o caneco da Coppa Italia de 1967. Mas foi em Florença que o atacante enfim conquistou um scudetto: Hamrin ganhou o dele pelo Milan, em 1967-68, e Amarildo o dele, pela Viola, na temporada seguinte. Mas o brasileiro ganhou isso e muito mais.
“A Fiorentina completou a minha vida. Eu joguei no Milan, ganhei títulos lá. Depois fui para a Fiorentina e ganhamos o título de 68-69. E foi lá que eu formei a minha família: casei, tive filhos… e fiquei apaixonado também pela cidade e fui conquistado pelo povo fiorentino. Até hoje eles não me esquecem. Eles ainda escrevem para mim. É um dos pontos mais marcantes da minha vida esportiva”, contou o atacante ao Quattro Tratti.
1º – Julinho
Posição: atacante
Período em que atuou: 1955-1958
Títulos conquistados: Serie A 1955-1956, Coppa Grasshoppers 1957
Prêmios individuais: nenhum
Apenas três estrangeiros têm a honra de figurar no Hall da Fama do museu da Fiorentina: o sueco Kurt Hamrin, o argentino Bruno Pesaola e, é claro, o brasileiro Julinho Botelho. Na Portuguesa, o atacante já deu mostras de que seria um jogador de quilate diferenciado, mas sua passagem pela Fiorentina foi ainda melhor. Foi mágica.
Graças a ele, a Viola conseguiu seu primeiro campeonato nacional e, consequentemente, maior projeção na Europa. Julinho jogava aberto pelo lado direito e era tão mortal nesse setor, com seus dribles e cruzamentos, que chegou a ser comparado a Garrincha. Mas não se limitava a isso e por vezes atuou também centralizado. Pela Seleção, Julinho foi eleito o melhor jogador da Copa de 1954, mas abdicou do Mundial seguinte, vencido pelo Brasil, por achar que um jogador do futebol local merecia mais a vaga. O jogador também mostrou essa sensibilidade em sua saída do time italiano, que só se deu porque seu pai faleceu e Julinho não queria deixar a mãe solitária no Brasil. Em julho de 2014, o Palmeiras bateu a Fiorentina por 2 a 1, em um amistoso realizado em São Paulo, e conquistou um troféu que recebeu o nome do jogador.