Brasileiros no calcio

Adriano não teve um império duradouro, mas é idolatrado pelos torcedores da Inter

Aqueles que buscam respostas fáceis para perguntas complexas questionariam se a carreira de Adriano foi um sucesso ou um fracasso – e, diria o outro, que Deus perdoe essas pessoas ruins do segundo grupo. A sucessão de extremos que o Imperador vivenciou em parte de sua trajetória até soa convidativa para análises peremptórias, mas elas se revelariam carentes no desvelar das nuances de seu caminho. De uma forma ou de outra, porém, um fato é inegável: Adri marcou época no futebol italiano do início dos anos 2000.

Ser reconhecido mundialmente pelo que fez na Itália não estava na perspectiva do “pequeno” Didico, criado na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio de Janeiro. O adjetivo pequeno merece mesmo ser escrito entre aspas pois, desde que nasceu, o atacante dava a entender que seria parrudo. Mamar até os dois anos de idade foi o primeiro dos indícios. Seus pais precisavam ralar muito para colocar comida na mesa e Adriano sabia disso todas as vezes que devorava os pratos de feijão que o sustentavam diariamente. Era o combustível que o alimentava para estar forte para as peladas no seu bairro.

Almir, seu pai, e Rosilda, sua mãe, eram boleiros da Vila Cruzeiro. Viam potencial no menino, que jogava em todas as posições – até como goleiro –, mas preferia ser atacante. Seu chute tinha potência. Dona Rosilda, então, arrumou alguns bicos para poder pagar a matrícula do garoto na escolinha do Flamengo e o futebol de salão no Grajaú Country Clube. Adriano encarou as longas e incômodas viagens da Penha até a Gávea e o Grajaú. Também superou o sarampo, a violência em sua comunidade e o trauma de ter visto o pai, baleado na cabeça, sobreviver por um triz. Desse jeito, foi fichinha driblar a má utilização na base rubro-negra, onde era escalado como lateral-esquerdo, evitar a dispensa e se firmar como goleador.

Efetivado como centroavante, Didico fez parte do grupo brasileiro que foi campeão mundial sub-17 em 1999. Adriano começou como reserva de Souza, o Caveirão, e só ganhou a vaga nas semifinais, contra Gana. Em 2000, o atacante estreou nos profissionais do Flamengo e passou a entrar em evidência a partir de jogos do Torneio Rio-São Paulo e do Campeonato Carioca.

No Brasileirão, Adri explodiu de vez. O garoto da Vila Cruzeiro marcou sete gols em 19 jogos, ganhou a primeira convocação para a Seleção e estreou contra a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Em 2001, Adriano foi campeão e artilheiro do Sul-Americano Sub-20, com seis bolas nas redes, e anotou mais seis no Mundial da categoria. Obviamente, chamou a atenção da Europa. A Inter foi a primeira a querer aquele vigoroso e corpulento jogador, dono de uma perna canhota calibrada, e tinha um trunfo: Vampeta. O Fla queria o meia e aceitou incluir o jovem como parte do negócio para chegar ao baiano.

Adriano foi contratado pela Inter quando tinha 19 anos e logo causou impressão positiva no clube lombardo (Allsport)

Assim foi. Aos 19 anos, Adriano deixava sua casinha na Vila Cruzeiro e ia morar num hotel de luxo em Milão. Seu primeiro ato como nerazzurro foi no Santiago Bernabéu, num amistoso contra o Real Madrid: o atacante soltou um foguete de canhota, numa cobrança de falta, e decretou a vitória interista. O primeiro gol num jogo oficial também foi decisivo. Na terceira rodada da Serie A, a Beneamata empatava em casa contra o Venezia e Adri, aos 93 minutos, ganhou da zaga no alto. Depois de o goleiro Generoso Rossi dar rebote o próprio camisa 28, quase sem ângulo, encheu o pé para fazer 2 a 1.

As credenciais de Adriano haviam sido apresentadas, mas a concorrência no elenco da Inter era grande e o espaço, escasso – o carioca fez 14 jogos em pouco mais de seis meses. Para que o jovem talento não ficasse à sombra de Christian Vieri, Ronaldo, Álvaro Recoba e Mohamed Kallon, a diretoria nerazzurra optou por emprestá-lo à Fiorentina. À beira da falência, a Viola estava na penúltima colocação do campeonato e precisava de sangue novo para tentar reverter sua situação em campo.

Adri chegou em janeiro de 2002 e estreou como titular, desbancando os experientes Predrag Mijatovic e Maurizio Ganz. No debute, ante o Chievo, o brasileiro apareceu mais uma vez nos acréscimos e definiu o placar em 2 a 2, garantindo um ponto importante para sua equipe. Foi o suficiente para superar Nuno Gomes na hierarquia e se manter no onze inicial.

Nas cinco rodadas posteriores, Adriano anotou três gols pesadíssimos, sobre Milan, Roma e Juventus. Contra os rossoneri, teve a frieza de vencer Dida com um toque de letra nos acréscimos e, contra os romanos, acertou um petardo de falta. Aos 20 anos, o atacante já apresentava alguns dos principais atributos que lhe acompanhariam no ápice: destreza, potência, força física e precisão na perna esquerda.

A Fiorentina, sem rumo, acabou rebaixada para a Serie B. Adriano, no entanto, destoou da maior parte dos companheiros e teve cinco meses muito positivos em Florença. Em 15 jogos vestindo violeta, anotou seis gols e terminou o campeonato como artilheiro dos toscanos. A Inter de Héctor Cúper, porém, apostaria em Hernán Crespo como parceiro de Vieri para 2002-03. Adri era considerado muito novo e, para prosseguir amadurecendo, se transferiu, em copropriedade, para o Parma. As duas agremiações tinham boas relações: naquela mesma janela, os nerazzurri contrataram Fabio Cannavaro e Matías Almeyda junto aos crociati, que levaram Vratislav Gresko para a Emília-Romanha.

Durante empréstimo à Fiorentina, Adriano começou a amadurecer no futebol italiano (Allsport)

Quando contratou Adriano, o Parma era o detentor do título da Coppa Italia e iniciava um novo trabalho, sob o comando de Cesare Prandelli. O elenco era bastante qualificado e contava com jogadores como Sébastien Frey, Antonio Benarrivo, Daniele Bonera, Paolo Cannavaro, Simone Barone, Matteo Brighi, Sabri Lamouchi, Mark Bresciano, Hidetoshi Nakata, Adrian Mutu e Alberto Gilardino. Os brasileiros Júnior e Taffarel auxiliariam na adaptação do compatriota.

Adriano estreou na Supercopa Italiana e jogou o primeiro tempo da partida, vencida pela Juventus. Depois disso, fez gols nas quatro aparições seguintes, contra Udinese, Como, Juve e CSKA Moscou. Ao longo da temporada, o brasileiro formou uma dupla implacável com Mutu e voltou a anotar tentos importantes: Milan, Lazio, Roma e rivais locais dos ducali, como Bologna, Modena e Piacenza foram vítimas da verve goleadora de Adri.

O Parma chegou a brigar por vaga na Champions League, mas ficou com a quinta posição na Serie A, que lhe deu uma vaga na Copa Uefa. Mutu foi o artilheiro da temporada, com 22 gols (18 no campeonato) e Adriano veio logo atrás, com 17 – 15 deles no Italianão. Em grande fase, o carioca viu as portas da Seleção se abrirem de vez para seu futebol e foi convocado para a Copa das Confederações. Adri marcou dois gols na competição, mas o Brasil foi eliminado num grupo que tinha Camarões, Turquia e Estados Unidos.

Em 2003-04, de volta ao Ennio Tardini, Adriano perdeu a companhia de Mutu, que foi para o Chelsea. Seu parceiro de ataque seria Gilardino, o que (a princípio) faria com que o brasileiro jogasse um pouco mais distante do gol. A nova condição em Parma não prejudicou Didico, que foi às redes em seus primeiros seis jogos da temporada – correspondentes às cinco rodadas iniciais da Serie A e à ida dos playoffs da Copa Uefa.

No Italiano, Adri anotou sete vezes em oito jornadas, até se machucar e ficar dois meses e meio parado. Voltou no segundo tempo de uma partida contra a Udinese e deixou a sua marca naquela que seria a sua despedida do clube: a Inter queria seu talento de volta para concorrer com Vieri. Assim, Adriano deixou o Parma com 26 gols em 44 aparições e uma marca importante. Até hoje é o sexto maior goleador da equipe crociata em jogos da Serie A, com 23 bolas nas redes.

Um ano e meio em altíssimo nível no Parma fizeram a Inter levar Adriano de volta à Milão (imago/Buzzi)

O retorno à Inter foi o último passo da transformação do Didico da Vila Cruzeiro no Imperador de Milão: foram os torcedores da Inter que o apelidaram de Imperatore, em referência a Adriano, monarca que governou Roma entre os anos 117 e 138 depois de Cristo. O brasileiro marcou seus dois primeiros gols no segundo jogo dessa passagem pela Beneamata, num 4 a 0 sobre o Siena. Três dias depois, nova doppietta, nas semifinais da Coppa Italia, contra a Juve. Adri ainda guardou mais um na partida de volta, mas a Inter foi eliminada nos pênaltis. Na Serie A, a equipe teve melhor sorte: com nove tentos do tanque, incluindo uma pintura contra o Perugia, a Beneamata se classificou para a Champions League.

Ao fim da temporada, Adriano embarcou para o Peru, onde seria um dos atacantes da Seleção na Copa América – sem Ronaldo, o camisa 7 fez dupla com Luís Fabiano. O Imperador foi decisivo: anotou tripletta contra a Costa Rica, doppietta contra o México e ainda deixou sua marca contra o Uruguai, nas semifinais, e a Argentina, empatando a final nos acréscimos de forma antológica. O Brasil venceria, nas penalidades máximas. Com sete bolas nas redes, Adri foi o artilheiro e ainda ganhou o título de melhor jogador do torneio.

Uma semana depois, contudo, o jogador viu iniciar o maior drama de sua vida. No dia 3 de agosto, Seu Almir sofreu um infarto e faleceu. A morte de Mirinho da Vila Cruzeiro foi tratada com discrição por Adriano, mas representou um divisor de águas em sua carreira. Os efeitos da tragédia pessoal no futebol do craque não foram imediatos, mas o acompanharam até que deixasse os gramados. O Imperador nunca mais se sentiu a mesma pessoa depois que o pai, um de seus maiores conselheiros, partiu.

Apesar do baque, Adriano fez a melhor temporada de sua vida em 2004-05. A campanha começou em altíssimo nível, com 14 gols nos primeiros 15 jogos. Nessa sequência, Adri anotou doppiette contra Basel, Werder Bremen e Udinese – contra os friulanos, assinou uma pintura, com uma arrancada desde o campo de defesa e dribles desconcertantes em Felipe e Valerio Bertotto. Outra atuação de gala aconteceu no 5 a 1 interista sobre o Valencia, em pleno Mestalla.

Adriano chegou a passar dois meses e meio sem marcar gols, entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005 – o que, de certa forma, antecipava a irregularidade dos anos seguintes. Contudo, quando conseguia motivação para jogar, o brasileiro era imperioso. O suficiente para marcar 28 gols na temporada, 16 deles na Serie A.

Sem dúvidas, Adriano viveu o auge da carreira entre 2004 e 2006, quando defendeu a Inter (AFP/Getty)

De modo magistral, Adri marcou uma tripletta sobre o Messina, na Serie A, e nas oitavas de final da Champions League, contra o Porto – esta última, num período em que a torcida já pegava no seu pé. Para fechar a campanha em alta, Adriano marcou dois gols num espaço de sete minutos e em lances de pura potência, na partida de ida da final da Coppa Italia. Com o 2 a 0 sobre a Roma, no Olímpico, a Inter protocolou seu primeiro título após sete anos de um incômodo jejum.

O Imperador também passou parte da temporada 2004-05 sem balançar as redes pela Seleção, mas foi convocado para ser o titular brasileiro na Copa das Confederações. Carlos Alberto Parreira desenhou uma versão do “quadrado mágico” sem Ronaldo e Adriano foi o 9 do Brasil, com Kaká, Ronaldinho e Robinho fazendo a aproximação à grande área.

Adri estreou com um golaço contra a Grécia e continuou jogando bem, embora só tenha voltado a balançar as redes na semifinal. Contra a Alemanha, dona da casa, o tanque decidiu o jogo: marcou duas vezes e ainda sofreu um pênalti na vitória por 3 a 2. Adriano voltou a anotar uma doppietta na goleada por 4 a 1 sobre a Argentina, na final, e acabou fazendo barba, cabelo e bigode. Foi campeão, artilheiro e melhor jogador da competição.

Novamente, o brasileiro voltou coroado para Milão. E, mais uma vez, começou uma temporada a todo vapor, comemorando o título da Supercopa Italiana, anotando um gol na classificação da Inter à fase de grupos da Liga dos Campeões (em detrimento do Shakhtar Donetsk) e deixando uma tripletta sobre o Treviso de um jovem Samir Handanovic, na abertura da Serie A.

Em 2005-06, seus pontos altos foram uma novo hat-trick na Champions League, contra o Artmedia, e a atuação decisiva no Derby della Madonnina. O Imperador marcou dois gols na vitória por 3 a 2, sendo o último deles aos 92 minutos, ao ganhar no alto de Vieri, após cobrança de escanteio. Antes de viajar para a Alemanha e defender o Brasil na Copa do Mundo de 2006, Adri ainda comemorou mais uma Coppa Italia. Com Roberto Mancini, a Beneamata ia deixando os anos de seca de títulos para trás. Lentamente, porém, o nível das exibições de Adriano caía e ele era menos decisivo.

Entre voltas aos campos e recaídas, Adriano extravasava quando marcava gols pela Inter (AFP/Getty)

A campanha da Seleção no Mundial foi bastante atribulada, desde a bagunça na preparação do grupo, feita na pequena Weggis, nos Alpes suíços. A Canarinho até venceu seus quatro primeiros jogos na competição com alguma folga, mas o quadrado mágico e todo o grupo não foram páreo para o show do francês Zinédine Zidane nas quartas de final. Com a camisa 7, Adriano marcou contra Austrália e Gana – ainda que estivesse impedido no tento sobre os africanos –, e, poupado, só não jogou contra o Japão. Adri, que se apresentou acima do peso e não emagreceu durante o torneio, teria chegado a engordar 13 quilos depois da eliminação.

Começavam a vazar para a mídia os problemas que o Imperador vivia desde a morte do pai. Afinal, pela primeira vez, Adriano apresentava, de forma contínua, um rendimento muito aquém do esperado. O atacante voltou a Milão com o título de campeão da Itália, uma vez que a Inter recebeu o scudetto no final de julho – após o julgamento do escândalo Calciopoli, que rebaixou a Juventus – e logo comemorou mais uma Supercopa. Porém, Mancini o sacou do time titular.

Crespo e Zlatan Ibrahimovic fizeram a dupla nerazzurra em 2006-07 e Adri, fora de forma, perdeu espaço até para Julio Cruz. O brasileiro só marcou um gol entre o verão europeu e o Natal, justo na véspera da festividade. A eleição como Bidone d’Oro (prêmio dado ao pior do ano na Itália) mostrava que o império de Adriano estava ruindo antes mesmo de seu aniversário de 25 anos. O brasileiro até melhorou seus números na parte final da Serie A – foram cinco gols e 11 assistências em 23 atuações – e comemorou mais um scudetto, mas era óbvio que ele estava fora dos planos. Tanto é que, em 2007-08, o tanque só atuou quatro vezes pela Beneamata.

Naqueles tempos, Adriano pensava em suicídio. Só não consumava o fato porque, antes de levar a cabo as suas ideações, lembrava dos familiares. O craque vinha apresentando um comportamento autodestrutivo, que a Inter ajudava a encobrir, na expectativa de recuperá-lo. Adri fumava muito para aliviar a tensão, se entregava às bebidas alcoólicas (inicialmente, para conseguir dormir), chegava embriagado e atrasado a treinamentos e às vezes até faltava às atividades. Ao mesmo tempo, sentia enorme saudade da família e da Vila Cruzeiro. Ele não queria mais ser o Imperador: lhe bastava ser Didico.

O jogador ensaiava um retorno à infância e às raízes, longe dos holofotes e na busca de reativar o contato com as amizades que tinha no morro. Alguns dos seus antigos colegas, contudo, viviam à margem da lei e lhe traziam problemas. Os acidentes automobilísticos em saídas de bailes funk, as fotos em situação de clara embriaguez, sem capacete em garupas de motos e até mesmo com armas e ao lado de membros de facções criminosas se multiplicavam. Adriano era notícia pelo extracampo e não pelos seus gols.

Depressão derrubou o Imperador: após período de sucesso na Inter, Adriano viu seu rendimento cair bruscamente (Getty)

Numa dessas situações que colocaram sua carreira em risco, às vésperas da Copa de 2006, o atacante saiu com um grupo de pessoas composto por alguns foragidos da justiça. Depois de seus carros serem parados por um bloqueio policial, um daqueles que tinham prisão decretada tentou fugir e acabou sendo morto pelos PMs. Fotografado na cena do crime, Adriano passou a ser vítima de extorsão para que o caso não visse a público. Ao lado do vazio deixado pelo pai, a angústia pela chantagem e a contínua escassez demonstrada em campo contribuíam para que seu rendimento futebolístico não melhorasse. A negatividade crescia como uma bola de neve.

A partir de janeiro de 2008, porém, surgiu uma luz no fim do túnel para o Imperador. A Inter optou por cedê-lo por empréstimo ao São Paulo, atendendo a um desejo de Adriano, que poderia se reaproximar da família. Perto da mãe, o jogador parecia mais feliz e, com acompanhamento psicológico no tricolor – algo a que se recusava em Milão –, voltou a jogar bem. Os 17 gols na passagem pelo Morumbi (11 no Campeonato Paulista e seis na Libertadores) e o bom futebol lhe renderam o retorno à Seleção, agora treinada por Dunga. Também lhe proporcionaram um olhar com carinho do novo técnico da Inter, José Mourinho.

Mourinho tentou recuperar Adriano. Não apenas o jogador, mas o homem. O português concedeu chances ao Imperador, que até realizou boas partidas em 2008-09, revezando o posto de parceiro de Ibrahimovic com Crespo, Cruz e um jovem Mario Balotelli. Contudo, as positivas apresentações pontuais eram encadeadas a recaídas, atrasos e bebedeiras, que fizeram com que o brasileiro recebesse diversas advertências e sanções disciplinares.

Em fevereiro de 2009, Adri chegou até a marcar no clássico contra o Milan. O gol, com um toque involuntário no braço, foi o seu último pela Inter. Sua última partida pelo clube ocorreu no mês seguinte, contra o Manchester United. No fim de março, Adriano viajou para a América do Sul para disputar jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo e não se reapresentou. Após ficar no banco de reservas contra Equador e Peru, o atacante sumiu. Nem sua mãe nem seu empresário, Gilmar Rinaldi, sabiam do seu paradeiro. Duas semanas depois de reaparecer, o Imperador e a Beneamata resolveram rescindir o contrato.

Livre da pressão que o afligia na Itália, Adriano logo retornou ao Rio de Janeiro e à sua casa: o Flamengo. Vestindo rubro-negro, o Imperador participou, como protagonista, da arrancada do Fla rumo ao título nacional de 2009. Com 19 gols, Adri foi o artilheiro do Brasileirão e ainda faturou a Bola de Prata e a Bola de Ouro da revista Placar. O bom momento se estendeu ao Campeonato Carioca e à Copa Libertadores de 2010.

Em sua apresentação à Roma, Adri era só sorrisos… mas era apenas um engano (AFP/Getty)

A Roma, então, entendeu que Didico, com 28 anos, poderia ser um bom reforço para o próximo campeonato. Ledo engano. O tanque nunca entrou em forma, colecionou lesões, problemas extracampo e encerrou seu vínculo com os giallorossi em março de 2011. Entre a sua estreia, contra a Inter, e sua partida, realizou apenas oito jogos.

Dali para frente, Adriano foi visto poucas vezes dentro de um campo de futebol. Entre março de 2011 e maio de 2016, o atacante fez apenas 14 partidas oficiais. Oito delas foram pelo Corinthians, clube que o contratou após a última experiência na Itália. Adri teve uma lesão no tendão de Aquiles assim que retornou ao Brasil e estreou pelo Timão apenas na reta final do Campeonato Brasileiro.

Quando entrou em campo, Adriano tinha apenas 20% de suas condições atléticas e pesava 101 quilos – 14 a mais do que tinha quando estava no auge. Ainda assim, marcou um gol importante contra o Atlético-MG, adicionou mais um título nacional ao currículo e, no início do ano seguinte, se despediu da capital paulista. Novamente, por problemas extracampo – além de desavenças com o técnico Tite, o diretor Edu Gaspar e outros membros do estafe alvinegro.

Como a recuperação da lesão não fora satisfatória, Adriano fez nova cirurgia. De acordo com o próprio atacante, ele errou ao não seguir à risca as recomendações médicas e, por isso, precisou se operar pela segunda vez. Ainda em 2012, Adri assinou com o Flamengo, mas um mês depois de firmar o vínculo, declarou que queria encerrar a carreira. Em abril, o Imperador havia dado uma entrevista ao Fantástico em que negava veementemente qualquer intenção de se aposentar tão cedo. Era nítido que o atacante não atravessava um bom momento do ponto de vista psicológico.

Durante mais de um ano, Adriano ficou parado. O Internacional se interessou por seu futebol, mas desistiu da contratação. O Athlético-PR, então, resolveu apostar no Imperador para 2014. Adri, porém, não correspondeu: não compareceu à recepção de boas vindas preparada pelo Furacão, faltou a treinamentos e, menos de três meses depois, foi demitido.

Sem foco e acima do peso, o Imperador fracassou em Roma (AFP/Getty)

Em 2016, após mais de dois anos parado, Adriano ensaiou uma volta ao futebol pelo Miami United, na quarta divisão norte-americana, mas só atuou em um jogo oficial. Desde então, o bomber de 37 anos está afastado dos gramados. No entanto, afirma que não está aposentado. Conhecendo Didico, podemos esperar de tudo para o seu futuro – inclusive nada.

Uma coisa, porém, é certa. Adriano só deve voltar à Itália para receber homenagens da Inter – como ocorreu no fim de 2016 e em meados de 2018. O atacante é muito grato à Beneamata por ter lhe possibilitado viver o auge e por ter tentado protegê-lo enquanto atravessava o terror da perda do pai.

Naquele período, o presidente Massimo Moratti tentou exercer um papel de figura paterna, assim como o capitão Javier Zanetti. Ambos, sem sucesso: o argentino, inclusive, já declarou que sua maior derrota na carreira foi não ter conseguido ajudar Adriano a se livrar da depressão. Como um nobre, porém, o Imperador se diz grato pelas tentativas. Esta gratidão, inclusive, foi um dos fatores que fizeram com que o atacante não pensasse duas vezes antes de rejeitar propostas de Real Madrid, Chelsea e Manchester City quando estava no auge da carreira.

Para os interistas, Adriano será sempre L’Imperatore. Nas três passagens por Milão, o brasileiro somou oito títulos, 177 partidas e 74 gols (confira todos aqui). Entre 2004 e 2006, foram 59 bolas nas redes em 107 aparições, que produziram uma média de 0,55/jogo. Sua carreira é marcada por tentos pesados, como os três no clássico local, os quatro no Derby d’Italia e os cinco sobre a Roma, uma das principais adversárias da Inter no período. Uma trajetória com feitos expressivos, mas prejudicada no seu ápice por uma das doenças mais incapacitantes da sociedade moderna.

Adriano Leite Ribeiro
Nascimento: 17 de fevereiro de 1982, no Rio de Janeiro (RJ)
Posição: atacante
Clubes: Flamengo (2000-01, 2009-10 e 2012), Inter (2001-02, 2004-07 e 2008-09), Fiorentina (2002), Parma (2002-04), São Paulo (2008), Roma (2010-11), Corinthians (2011-12), Athlético-PR (2014) e Miami United (2016)
Títulos: Mundial Sub-17 (1999), Sul-Americano Sub-20 (2001), Taça Rio (2000), Taça Guanabara (2001), Campeonato Carioca (2000 e 2001), Copa dos Campeões (2001), Copa América (2004), Copa das Confederações (2005), Coppa Italia (2005 e 2006), Supercopa Italiana (2005 e 2006), Serie A (2006, 2007, 2008 e 2009) e Campeonato Brasileiro (2009 e 2011)
Seleção brasileira: 48 jogos e 27 gols

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