Quando um jogador é recomendado por um craque do tamanho de Zico só há dois destinos possíveis: ou o citado atende na totalidade as expectativas criadas pela indicação ou naufraga clamorosamente. No caso do atacante japonês Atsushi Yanagisawa, a sua passagem pelo futebol italiano, onde defendeu Sampdoria e Messina se encaixa, de longe, na segunda opção. Yanagi, como era conhecido, só marcou um gol – e sobre um adversário da terceira divisão – na Coppa Italia.
Nascido em Imizu, na costa oeste do Japão, Yanagisawa começou a jogar futebol na escola Toyama Daiichi e foi o seu desempenho nos tradicionais campeonatos colegiais de seu país que encheu os olhos da diretoria do Kashima Antlers, um dos maiores clubes do arquipélago – e onde Zico havia obtido idolatria entre 1992 e 1994. O atacante, então, rumou ao litoral leste e iniciou sua trajetória de sucesso pelos cervos.
Yanagi passaria sete temporadas e meia seguidas no Kashima Antlers, período em que conquistaria 12 títulos pelos cervos e teria importância nas campanhas. O atacante marcou, por exemplo, um dos gols da vitória da Copa do Imperador de 1997 e, com 22 tentos anotados, foi o artilheiro do time na trajetória do título da J.League de 1998 – e o terceiro do campeonato, em geral.
Ocupando papel importante num time que foi quatro vezes campeão nacional em sete anos, além de ter conquistado cinco títulos nas copas locais e mais três na Supercopa do Japão, Yanagisawa ganhou espaço na seleção nipônica. Primeiramente na equipe sub-20, com a qual participou do Mundial da categoria em 1997, com quatro gols marcados – aquela edição do torneio foi vencida pela Argentina de Walter Samuel, Esteban Cambiasso, Lionel Scaloni, Pablo Aimar e Juan Román Riquelme. Atsushi também representaria os Samurais Azuis na Olimpíada de 2000.
Yanagisawa foi eleito o estreante do ano na J.League de 1997 e foi um dos grandes jogadores asiáticos de 1998, mas não conseguiu uma vaga no elenco do Japão que disputou a Copa do Mundo, na França. Yanagi começou a ser convocado constantemente a partir de 1999 e, além de ter integrado o grupo que faturou a Copa da Ásia, em 2000, foi titular dos Samurais Azuis no Mundial de 2002, realizado em solo nipônico e também na Coreia do Sul. Os japoneses caíram nas oitavas de final, eliminados pela Turquia.
Antes disso, foi pela seleção que Yanagi entrou no radar dos italianos pela primeira vez. Em 2001, num dos amistosos preparatórios do Japão para a disputa da Copa do Mundo em casa, o atacante marcou um bonito gol, com um sem pulo, vencendo Gianluigi Buffon. O jogo terminou empatado em 1 a 1 e o seu tento ficou na memória de muitos azzurri. Isso, somado ao bom desempenho pelo Kashima Antlers e aos elogios de Zico, que o treinara no clube em 1999 e na equipe nacional de 2002 a 2006, foi suficiente para despertar o interesse da Sampdoria, em 2003.
Àquela época, a Samp do presidente Riccardo Garrone tinha um diretor-geral em seu primeiro ano de trabalho: Giuseppe Marotta, que, além de ter desempenhado trabalhos relevantes em Venezia e Atalanta, havia acertado o tom nas contratações da equipe que voltou à Serie A graças ao vice-campeonato da segundona. Habitualmente criterioso, Beppe enxergou em Yanagisawa, então com 26 anos, uma alternativa interessante ao elétrico Francesco Flachi e aos pesadões Fabio Bazzani e Massimo Marazzina.
A contratação do japonês oferecia ao técnico Walter Novellino, parceiro de longa data do cartola, uma peça de características diferentes das que já haviam no plantel. Afinal, Atsushi poderia atuar nas pontas, como referência ou suporte a um camisa 9. Entretanto, Yanagi teve muitas dificuldades de se firmar no sisudo 4-4-2 do treinador, ainda que o futebol nipônico tenha a disciplina como um de seus pilares e nem sempre os seus atacantes sejam extremamente prolíficos.
Como já vinha jogando pelo Kashima Antlers e estava no meio da temporada no Japão, Yanagisawa se aproveitou disso e até teve um desempenho aceitável no começo de sua passagem pela Sampdoria. Com o passar dos meses, porém, o camisa 13 foi perdendo espaço na formação de Novellino e, a partir da virada de 2003 para 2004, só fez cinco partidas, sendo quatro pelo returno da Serie A. Os blucerchiati terminaram o campeonato numa confortável oitava posição, mas Atsushi pouco contribuiu para isso: no total, somou 18 jogos pela equipe, sendo somente quatro como titular e um inteiro. Seu melhor momento foi uma assistência fornecida a Flachi na vitória por 2 a 0 sobre o fraquíssimo Ancona, um dos piores times da história do certame.
Longe de repetir o sucesso dos compatriotas Shunsuke Nakamura, que liderou a Reggina a uma improvável permanência na elite em 2002-03, e Hidetoshi Nakata, que brilhara no Perugia e acumulara, até aquele momento, dignas passagens por Roma, Parma e Bologna, Yanagisawa viu o fim da linha na Sampdoria. Mas não na Itália: o Messina, que voltava à primeira divisão após quase quatro décadas de ausência, decidiu contratar o atacante em definitivo.
No time siciliano, Yanagisawa teria o mesmo papel que desempenhou na Sampdoria: o de peça de rotação no setor ofensivo. O japonês era uma opção ao móvel Arturo Di Napoli, enquanto os grandalhões Riccardo Zampagna e Nicola Amoruso se alternavam como centroavantes no ataque de dois jogadores habitualmente montado pelo técnico Bortolo Mutti. Foi essa condição que o oriental manteve ao longo de 2004-05.
A temporada pelos biancoscudati começou melhor para Yanagisawa do que toda a sua passagem por Gênova. Na fase de grupos da Coppa Italia, que ocorria antes da abertura da Serie A, o japonês marcou o seu primeiro – e único – gol no Belpaese, ao estufar as redes do Acireale, também da Sicília, numa goleada por 4 a 0. Pouco depois vieram as assistências nos duelos com o Siena, pelo mata-mata, e com a Reggina, pelo campeonato.
Apesar disso, Yanagisawa seguia no banco de reservas. As primeiras chances no onze inicial peloritano só apareceram depois que Di Napoli e Zampagna se machucaram. As oportunidades como titular até continuaram a ocorrer, mas rarearam com o tempo, devido às preferências de Mutti. Ainda assim, Atsushi deu alguma contribuição à excelente campanha do Messina, que surpreendeu e, num campeonato acirradíssimo, ficou com a sétima posição da Serie A – a melhor em sua história. O certame foi tão sui generis que os giallorossi somaram apenas seis pontos a mais do que o rebaixado Bologna.
Yanagisawa foi convocado por Zico para a disputa da Copa das Confederações e, após representar o Japão na competição realizada na Alemanha, retornou ao banco do Messina. O atacante perdeu espaço para Di Napoli e para o recém-chegado Giuseppe Sculli, de modo que não iniciou nenhuma partida em 2005-06. Vendo sua convocação para o Mundial de 2006 ameaçada, Atsushi negociou o seu retorno ao Kashima Antlers por empréstimo, em fevereiro de 2006. Assim, encerrou a sua passagem pela Sicília com 33 aparições (10 como titular), duas assistências e um golzinho.
Com a transferência, o atacante preservou o seu lugar na seleção japonesa e foi para a Copa do Mundo. As suas partidas na competição, aliás, foram as últimas pelos Samurais Azuis. Aos 29 anos, depois de Zico deixar o comando da equipe nacional, jamais foi convocado novamente. Até porque, convenhamos, o seu desempenho caiu bastante na reta final de sua carreira.
Yanagisawa até foi contratado em definitivo pelo Kashima, mas sua segunda passagem pelo time em que despontou para o futebol durou apenas uma temporada e meia – na qual foi coadjuvante na conquista de mais uma J.League. Fora um brilhareco em 2008, quando anotou 18 gols pelo Kyoto Sanga, Atsushi jamais voltou a apresentar o nível de seus melhores momentos. O atacante ainda defendeu o Vegalta Sendai e pendurou as chuteiras em 2014, aos 37 anos. Aposentado, Yanagi assumiu o cargo de auxiliar do Antlers e também atuou no setor juvenil do clube.
Certamente Yanagisawa não tem, no futebol europeu, o mesmo respaldo que conseguiu construir em sua terra natal. Na Itália, é lembrado pela torcida da Sampdoria como uma enorme decepção, enquanto no lado biancoscudato da Sicília a avaliação é um pouco menos dura: os peloritani o veem como alguém que, apesar da escassez de gols, se esforçou muito e deu uma modesta contribuição para que o Messina obtivesse a melhor campanha de sua história na Serie A. Tanto é que, em 2006-07, o time foi atrás de Mitsuo Ogasawara, outro japonês. Este, sim, um flop de marca maior.
Atsushi Yanagisawa
Nascimento: 27 de maio de 1977, em Imizu, Japão
Posição: atacante
Clubes: Kashima Antlers (1996-2003 e 2006-07), Sampdoria (2003-04), Messina (2004-06), Kyoto Sanga (2008-10) e Vegalta Sendai (2011-14)
Títulos: J.League (1996, 1998, 2000, 2001 e 2007), Copa do Imperador (1997, 2000 e 2007), Copa da J.League (1997, 2000 e 2002), Supercopa do Japão (1997, 1998 e 1999) e Copa da Ásia (2000)
Seleção japonesa: 58 jogos e 17 gols