Elegante debaixo das metas, Lido Vieri foi um goleiro forte fisicamente e tão regular que atuou em alto nível por quase duas décadas. Ao contrário de nomes que eram considerados “frios”, uma qualidade para a posição, Vieri era quente. Voava para defender bolas difíceis e era proficiente executando defesas salvadoras. De braços compridos e uma agilidade felina, fazia da pequena área sua propriedade.
Vieri nasceu em julho de 1939, na cidade de Piombino, na Toscana. Seus pais, oriundos da ilha de Elba, pertencente à região, queriam que ele se chamasse Nilo. No entanto, seu pai, que era pescador e foi trabalhar no sistema ferroviário do país, em pleno continente, foi aconselhado por um padre a nomeá-lo Lido. O garoto cresceu apaixonado pelo mar e, antes de querer ser goleiro, tinha o sonho de navegar pelas águas mundo afora.
Ainda pequeno, Vieri teve seu contato inicial com o futebol e não demorou para que jogasse na Venturina: ia e voltava a pé dos treinos, que aconteciam a 13 km de onde morava. Seu primeiro ídolo foi Doriano Carlotti, elbano que atuou por seis temporadas no Piombino. Prestes a completar 15 anos, sua vida mudou graças a uma feliz coincidência em um famoso restaurante que ficava próximo ao clube.
Destino traçado
Em uma mesa do restaurante Otello estava sentado Alberto Lievore, olheiro do Torino, e em outra estava o Dr. Biagi, renomado farmacêutico e também presidente da Venturina, onde Vieri jogava. Os dois acabaram se encontrando e conversaram. Em meio ao papo, Dr. Biagi apontou para Lido, que também estava no recinto, e o indicou ao profisional grená.
A indicação surtiu efeito, e o Torino enviou uma proposta ao jovem goleiro. O convite do clube piemontês foi uma oportunidade que ele não poderia deixar passar, ainda que àquela altura ele tivesse toda a documentação acertada para embarcar em um navio comercial que zarparia de Gênova rumo ao Brasil.
A decisão não foi fácil e chegou a dividir o jogador. Apesar da empolgação por uma nova aventura que se descortinava, ele lamentava o fato de estar praticamente renunciando ao sonho em alto-mar. O Torino, seu novo clube, tentava se reerguer após a Tragédia de Superga, ocorrida em 1949. Outrora motivo de orgulho, o futebol tinha se tornado símbolo de luto e lamentação. Cinco anos depois do desastre, a diretoria granata escolheu Vieri como um dos pilares dessa reconstrução.
O arqueiro concluiu ua formação na base granata e, inicialmente, para adquirir experiência como profissional, foi emprestado ao Vigevano, da Serie C, onde jogou por um ano e foi titular na campanha que resultou no vice-campeonato, garantindo o time da Lombardia na segunda divisão da temporada 1958-59. Era tudo o que o Torino queria: receber de volta um goleiro promissor, que dava mostras de amadurecimento e da segurança que garantiria à sua meta.
A estreia de Lido Vieri na Serie A foi das melhores possíveis. No Comunale, os anfitriões, com um novo goleiro, aplicaram 6 a 1 em cima do Alessandria. A alegria do bom início durou pouco tempo. Na sequência, o time ficou cinco meses, equivalentes a 20 rodadas, sem vencer no campeonato. O desfecho não poderia ser bom, e o clube terminou rebaixado pela primeira vez em sua história, segurando a lanterna e com o posto de pior defesa.
Apesar disso, Vieri foi um dos poucos pontos positivos no ano, assim como a decente campanha na Coppa Italia, que terminou em uma eliminação para o Venezia, nas quartas de final. O time era repleto de fraquezas, que vinham desde a sua montagem, e a bagunça se refletia no comando. O Toro teve quatro técnicos diferentes: Federico Allasio, Quinto Bertoloni (este exercendo a dupla função jogador-treinador), Giacinto Ellena e, por fim, o húngaro Imre Senkey.
Na Serie B, o Toro se impôs, sendo dominante durante a competição, e se sagrou campeão. Vieri foi reserva de Narciso Soldan, mas ajudou o time a ter a defesa menos vazada, com 21 gols sofridos. Já na Coppa Italia, os piemonteses ficaram com a quarta colocação, resultado este que se repetiria na edição seguinte. Na elite, os grenás ficaram na 12ª posição, com somente um ponto a mais do que o Bari, primeiro na zona de rebaixamento.
Os anos seguintes trouxeram, em geral, campanhas dignas. Em termos individuais, Vieri passou a conquistar todos com sua categoria, força e caráter. Era corajoso e atento para sair e cortar as bolas que eram alçadas na pequena área, socando-as para a lateral a fim de evitar rebotes ou quaisquer sobras. Foi apelidado de “Pinza” (alicate) pela torcida granata – a mesma alcunha que fora dada a Alfredo Bodoira, arqueiro ídolo na década de 1940 – e teve como momento de maior destaque a eleição como o melhor goleiro da Serie A, em 1962-63. Naquela mesma temporada, recebeu as primeiras chances na seleção italiana.
No nacional, a equipe passou a se acostumar novamente a ocupar a metade superior da tabela e teve como melhor resultado um terceiro lugar em 1964-65, quando a disputa pelo título se resumiu a Inter e Milan, com os nerazzurri levando a melhor. Na Coppa Italia, dois vices e ainda mais emoção: primeiro em 1962-63, contra a Atalanta (3 a 1, com tripletta de Angelo Domenghini) e o segundo um ano mais tarde, contra a Roma, que foi campeã em um terceiro e decisivo jogo, com um gol de Bruno Nicolè aos 40 da segunda etapa, após duas partidas sem bolas nas redes.
Foi em 1967-68 que Vieri enfim pode provar da glória que era ser campeão vestindo a camisa de um clube que ele aprendeu a amar. Na Coppa Italia, depois de bater na trave sob as ordens do lendário Nereo Rocco, o Torino de Edmondo Fabbri contou com o brilho de seu goleiro e, entre os homens de linha, do atacante francês Néstor Combín.
Foi uma temporada que começou com uma trágica notícia: o talentoso Luigi Meroni, de 24 anos, morreu atropelado após o triunfo por 4 a 2 sobre a Sampdoria, pela quarta rodada da Serie A. Em seus dois primeiros compromissos na Coppa Italia, o Torino venceu Sampdoria e Napoli por 1 a 0. Em seguida, nas quartas de final, o cruzamento colocou frente a frente clubes da Serie A e times da segundona. O Toro enfrentou o Catanzaro e, depois de um empate em casa em que a rede não balançou, venceu fora de seus domínios por 2 a 0, avançando à fase decisiva.
Aquela edição do torneio contou com um quadrangular final, com partidas de ida e volta. Milan, Torino, Inter e Bologna foram os quatro finalistas. Depois de seis jogos, o Toro saiu invicto e foi campeão ao bater os nerazzurri por 2 a 0, com gols de Natalino Fossati e de Combín, e ultrapassar o Milan, que fora derrotado pelo Bologna pelo placar de 2 a 1. Pela terceira vez em sua história, o clube piemontês conquistava a Coppa Italia.
O “exílio” em Milão
A temporada 1968-69 foi a última do goleiro defendendo o Torino, que ficou entre os quatro melhores na Coppa Italia e obteve um sexto lugar na Serie A. Ao término dela, no verão de 1969, o presidente Orfeo Pianelli o vendeu para a Inter, após 11 anos de puro amor e dedicação ao clube. Durante muito tempo, Vieri jogou como se tivesse quatro dedos ao invés de cinco na mão direita. Ele havia quebrado um deles e, por temer se tornar um desfalque, nunca o engessou ou buscou um tratamento adequado.
Foram 357 partidas disputadas, números que posteriormente o credenciaram ao posto de quinto atleta que mais vestiu a camisa granata – os outros quatro são Giorgio Ferrini, Paolo Pulici, Renato Zaccarelli e Claudio Sala. Quando recebeu a notícia de que tinha sido negociado, Vieri deu um soco na porta do vestiário e desatou a chorar. Ele queria permanecer em Turim.
Aos 30 anos de idade, maduro física, técnica e psicologicamente, Vieri chegava em uma Inter que buscava um novo titular para a sua meta desde a saída de Giuliano Sarti, em 1968. Não tardou para que ele mostrasse sua grandeza como o exímio goleiro que era debaixo das traves, capaz de voar para fazer defesas de forma arrojada e decidida, sem espalhafato. Acabou por herdar a vaga no onze inicial do paraguaio Heriberto Herrera, outra novidade para a temporada. Em sua primeira campanha, foi vice-campeão italiano – o Cagliari foi o vencedor.
Na temporada seguinte, Ivano Bordon, uma promessa de enorme potencial no gol, subiu à equipe principal da Inter. Ele e Vieri teriam suas trajetórias especialmente entrelaçadas. Na Serie A, os nerazzurri tiveram um mau começo e o presidente Ivanoe Fraizzoli dispensou Herrera na quinta rodada, depois de uma derrota por 3 a 0 no Derby della Madonnina, trazendo Giovanni Invernizzi, treinador nas categorias de base do clube, para ocupar a vaga.
O novo comandante deu moral a Vieri e fez alterações no time titular. O mês de março foi um divisor de águas. Para o Milan, que era o líder, foi uma lástima. Para a Inter, a fortuna. No dia 7, em mais um Dérbi de Milão, Mario Corso marcou um golaço e Sandro Mazzola deu números finais à partida; o resultado deixou os nerazzurri a apenas um ponto dos rossoneri. No dia 28, o Milan perdeu em casa para o Varese (2 a 1) e a Beneamata bateu o Catania na bacia das almas, com tento salvador de Mario Bertini nos instantes derradeiros.
A arrancada nerazzurra foi implacável. O título foi confirmado na antepenúltima rodada, quando o Milan foi derrotado em casa pelo Bologna (3 a 2) e a Inter atropelou o Foggia, fora de casa, por 5 a 0. Conquistar troféus é sempre emocionante, mas quando você é campeão deixando seu rival para trás, a situação ganha um tempero ainda mais especial.
Individualmente, destaques para as luxuosas contribuições de Roberto Boninsegna, goleador máximo da competição, com 24 tentos marcados, e de Vieri. Presente em 24 partidas, o toscano chegou a ficar 685 minutos sem ser vazado e estabeleceu o recorde nerazzurro no quesito: o feito seria superado depois, por Bordon, mas serve para lembrar o quão importante Lido foi para a história de um time que teve tantos grandes arqueiros. Mesmo com a euforia, ele não se esquecia do Torino e chegou a comparar o período em Milão a um exílio.
Um romance mexicano
Pela Squadra Azzurra, Lido integrou o elenco campeão europeu, em 1968, e também fez parte da delegação que embarcou para a Copa do Mundo de 1970, no México. Em ambos os casos, como terceiro goleiro, atrás de Enrico Albertosi e Dino Zoff. O próprio Vieri chegou a dizer que, mesmo sendo a terceira opção, o técnico Ferruccio Valcareggi insistiu para que ele fosse ao Mundial. Ele argumentava, em vão: “Você já tem Albertosi e Zoff, o que eu vou fazer?”
No México, enquanto todos se entretinham com o carteado, Vieri teve de lidar (sem trocadilho) com o tédio cercando-se de livros, entre eles, La Noia, de Alberto Moravia – em tradução literal, “o tédio”, embora o título brasileiro da publicação seja “Vidas Vazias”. Também memorizou poemas de Federico García Lorca. O goleiro, que fazia sucesso por conta de sua beleza e era um dos nomes mais assediados, saía para cumprimentar as pessoas, que formavam enormes filas no hotel onde a Itália estava hospedada. Foi em uma dessas vezes que ele se encantou com uma mulher, Graciela, em um Mustang vermelho. Os dois viveram um romance efêmero durante a Copa.
“Vi uma mulher que andava em um Mustang vermelho. Olhares mútuos, amor à primeira vista… ela me convidou para sua casa. Casa é um eufemismo, pois era uma espécie de castelo no meio de um imenso jardim, com soldados na entrada. Só então percebi que ela era filha do vice-presidente do México. Foi tudo lindo. A partida não foi dolorosa, nós sabíamos quando ia acabar”, declarou Lido Vieri, muitos anos depois.
Ele, que também chegou a alegar que defender a seleção nunca esteve no topo da sua lista de prioridades, parou de ser convocado muito por conta de dois episódios de destempero. O primeiro foi em uma vitória da Inter sobre o Napoli, por 2 a 1, quando se envolveu em confusão com José Altafini e teve de ser substituído por Bordon no intervalo. O outro foi em uma derrota por 2 a 0 para o Newcastle, jogo de volta da Copa das Feiras, em 1970, quando foi expulso ao socar o árbitro na boca do estômago e teve de ser conduzido para fora do estádio por dois policiais. Ao todo, Lido defendeu a Itália em quatro oportunidades.
Rivais de luvas
Na Inter, a temporada 1971-72 marcou o início de uma acirrada disputa entre Vieri e Bordon pela meta nerazzurra. Os dois atuavam com excelência e acabaram se revezando ao longo do ano, principalmente na Copa dos Campeões. No torneio continental, a Beneamata começou com Bordon no posto de titular nos jogos contra o AEK Atenas.
Nas oitavas de final, contra o Borussia Mönchengladbach, Vieri recebeu a oportunidade e teve uma atuação desastrosa na Alemanha, que terminou com vitória dos donos da casa por 7 a 1. E então veio a polêmica, referente a um lance ocorrido aos 30 minutos de jogo. Na ocasião, Boninsegna foi cobrar um lateral e caiu no gramado. Ele disse ter sido atingido por uma lata de Coca-Cola, e o médico da Inter afirmava que o atacante havia sofrido uma séria lesão.
Com a partida paralisada, a confusão só aumentava na medida em que todos se mobilizaram para encontrar a lata. Mazzola, capitão da Inter, apareceu segurando a dita cuja, praticamente vazia. Houve quem corroborasse com tal versão, como alguns jornalistas, mas houve também quem protestasse. Foi o caso de Ludwig Müller, zagueiro alemão, que relatou ter visto Mazzola instruir Boninsegna a ficar caído no gramado, no que chamou de encenação por parte dos nerazzurri.
A Inter culpou o desastroso placar alegando ter sido afetada psicologicamente por conta do incidente envolvendo Boninsegna. Peppino Prisco, vice-presidente nerazzurro e conceituado advogado, respaldou o caso. Levou uma semana para que a Uefa anunciasse a anulação da partida e remarcasse o duelo em campo neutro, em Berna, na Suíça; os alemães ainda foram multados em 10 mil francos suíços.
O Gladbach protestou, alegando que a lesão não tinha sido tão grave e que a opinião pública vinda da Itália estaria influenciando a maior confederação do futebol europeu. A entidade respondeu anunciando que, depois da partida de ida em Milão, o jogo de volta seria no Estádio Olímpico de Berlim. Com muita tensão envolvendo os dois lados, a Inter levou a melhor e venceu por 4 a 2.
Na volta, brilhou a estrela de Bordon, então com 20 anos, e que havia assumido a vaga de Vieri na partida anterior. A promessa fechou o gol e ainda defendeu um pênalti cobrado por Klaus-Dieter Sieloff. Nas quartas, contra o Standard Liège, novamente uma troca na titularidade, depois de Lido ter reconquistado seu espaço com atuações muito sólidas na Serie A. A equipe italiana venceu em casa por 1 a 0 e perdeu fora por 2 a 1, mas o tento marcado na Bélgica foi decisivo para que a Inter avançasse à semifinal.
Dessa vez, contra o Celtic, Invernizzi manteve Vieri no time e ele foi preponderante para a classificação nos pênaltis, por 5 a 4, após dois jogos que terminaram em 0 a 0. O alto nível da disputa voltou a gerar alternâncias na titularidade. Bordon foi o escolhido para atuar na final, contra o Ajax, em Roterdã. Johan Cruyff, expoente máximo do futebol holandês, marcou os dois gols que deram o segundo título continental ao clube de Amsterdã – que tornaria a ser campeão mais duas vezes.
As próximas temporadas foram semelhantes em termos de resultados. Na Serie A, a Inter foi três vezes a quarta colocada e, num dos certames, nona. Os goleiros continuavam o revezamento, mas em 1974-75, Vieri só foi ter uma oportunidade na 21ª rodada, após Bordon ter atuado em uma derrota para o Milan por 3 a 0. No ano seguinte, teve uma longa sequência no campeonato nacional, mas seus dias em Milão estavam contados.
Tempo, implacável tempo
O treinador Luis Suárez decidiu que Vieri seria o titular, mas quando Giuseppe Chiappella assumiu a vaga de comandante nerazzurro, Bordon voltou a ser a primeira opção e o veterano goleiro de 36 anos foi dispensado. Lido argumentou que aceitaria permanecer, mesmo que na reserva, mas a direção do clube entendia que sua permanência representaria uma sombra pesada para Bordon, que dali em diante se estabeleceria como o absoluto dono da camisa 1.
O grande problema para Vieri foi que a Inter o deixou livre no mercado somente quando a janela de transferências já estava fechada, impedindo que ele encontrasse um projeto que lhe fosse interessante. No verão de 1976, quando o Torino foi campeão italiano, pondo fim a 27 anos de seca após a tragédia de Superga, Lido acertou com a Pistoiese, da Serie C.
Depois de exatos 200 jogos pela Inter, ele queria provar que ainda estava bem tanto física quanto mentalmente. Se destacou em sua primeira temporada em Pistoia e foi campeão da Serie C. Na segunda divisão, foi crucial para salvar os arancioni da queda: os toscanos terminaram na 16ª colocação, com a mesma pontuação do Rimini (34) e com apenas um ponto a mais do que a condenada Cremonese.
Um quinto lugar em 1978-79 quase pôs a Pistoiese na Serie A, mas tal resultado seria obtido um ano mais tarde, o último de Vieri como atleta profissional. Inclusive, em sua derradeira temporada, perdeu espaço para Maurizio Moscatelli, 16 primaveras mais jovem, e eleito o melhor jogador do campeonato que garantiu a equipe na primeira divisão. Aos 41, Lido pendurou as luvas com bons números, tendo sido vazado 32 vezes em 63 ocasiões.
Aposentou-se dos gramados, mas não largou o futebol, nem a Pistoiese. Tornou-se treinador do clube toscano após a saída de Enzo Riccomini para a Sampdoria e, por ironia do destino, seu primeiro compromisso na nova função foi justamente contra o Torino. Antes do apito inicial, se dirigiu ao banco de reservas do antigo time e apertou a mão de todos os jogadores, um a um. Mesmo com a expulsão de Eraldo Pecci, os granata venceram, com gol solitário de Patrizio Sala.
Os arancioni acabariam rebaixados com uma campanha terrível: somaram apenas 16 pontos e 20 derrotas nas costas, e também tiveram de longe a pior defesa, com 46 tentos sofridos. Vieri não seguiu no clube e se aventurou treinando times de divisões inferiores, como Siracusa, Massese, Carrarese e Juve Stabia, pela qual venceu o grupo L da Serie D, em 1985. Há uma lenda na Itália que diz que grandes goleiros não se tornam grandes técnicos. Crenças à parte, verdade seja dita: diferentemente dos tempos de jogador, Lido não foi um exímio comandante.
Por que, então, não tentar ser treinador de goleiros? Foi o que ele próprio decidiu quando retornou ao Torino, em 1989, e ocupou o cargo por quase duas décadas. Foi ele quem descobriu e revelou Luca Marchegiani, que defendeu o Toro de 1988 a 1993 e é grato ao ex-arqueiro pelos ensinamentos. Durante o período, sempre que havia troca no comando técnico, era Vieri quem ficava à beira do gramado. Lido chegou a ser interino em duas ocasiões.
Em 2005, com a falência do clube, Vieri passou um breve período na Fiorentina e seguiu para a Pontassieve, onde encerrou a carreira um ano mais tarde. Foi o fim de uma trajetória belíssima e de pura devoção, iniciada lá atrás, em 1954, quando ingressou nas categorias de base do Torino, e findada em 2006. Se não navegou nas águas mundo afora, banhou-se com inesquecíveis capítulos em meio século de futebol. E por falar em se banhar, ele, que tanto amava o mar da Toscana, acabou se apaixonando por outro: o da Calábria, onde vive com a sua esposa, nascida na região.
Lido Vieri
Nascimento: 16 de julho de 1939, em Piombino, Itália
Posição: goleiro
Clubes como jogador: Vigevano (1957-58), Torino (1958-69), Inter (1969-76) e Pistoiese (1976-80)
Títulos como jogador: Coppa Italia (1968), Eurocopa (1968), Serie A (1971) e Serie C (1977)
Clubes como treinador: Pistoiese (1980-81), Siracusa (1981-82), Massese (1982-83 e 1986-87), Juve Stabia (1983-86 e 1988-89), Carrarese (1987-88) e Torino (1996 e 1997)
Título como treinador: Campionato Interregionale (1985)
Seleção italiana: 4 jogos