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Os 10 maiores jogadores da história do Cagliari

O Cagliari é um time singular. Com sede na Sardenha, o clube é o único da região a ter jogado a Serie A e também o único de uma das ilhas do país – além da Sardenha, a Itália tem a Sicília como grande departamento insular  – a ter conquistado um scudetto. Este foi o primeiro título nacional de uma equipe do Mezzogiorno – macrorregião que compreende as províncias do sul italiano e as ilhas do país.

Curiosamente, o Cagliari só tem mais dois títulos além do scudetto: uma Serie C e uma Coppa Italia da terceirona. O grande período da história dos rossoblù aconteceu na segunda metade da década de 1960, quando duas empresas com sede em Milão, mas com muitos negócios na Sardenha patrocinaram a equipe. A petrolífera Saras, de Angelo Moratti – que foi dono da Inter – e a química SIR, de Angelo Rovelli, foram fundamentais para a contratação de jogadores importantes, como Luigi Riva, Pierluigi Cera, Enrico Albertosi, Nenê e Angelo Domenghini, que foram mantidos no Sant’Elia mesmo com propostas de times maiores. Além da taça nacional em 1970, os rossoblù tiveram outros momentos positivos nos anos 1990 e 2000.

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Para montar a lista, o Quattro Tratti levou em consideração a importância dos jogadores na história do clube; a qualidade técnica do atleta versus expectativa; sua identificação com a torcida e o dia a dia do time (mesmo após o fim da carreira); grau de participação nas conquistas; respaldo atingido através da equipe e prêmios individuais conquistados. Também foram computadas premiações pelas seleções nacionais. A partir disso, escolhemos 25 jogadores que marcaram a história da equipe e escrevemos breves biografias dos 10 primeiros. Antes, veja também a lista completa de brasileiros que já vestiram a camisa do maior clube da Sardenha.

Brasileiros da história do Cagliari
Adryan, Caio Rangel, Danilo Avelar, Di Fábio, Diego Farias, Jeda, João Pedro, Nenê (Cláudio Olinto de Carvalho), Nenê (Ânderson Miguel da Silva), Rafael e Thiago Ribeiro.

Top 25 Cagliari

11. Luigi Piras; 12. Mario Brugnera; 13. Daniel Fonseca; 14. Comunardo Niccolai; 15. Angelo Domenghini; 16. Roberto Boninsegna; 17. Julio César Dely Valdés; 18. Sergio Gori; 19. Roberto Muzzi; 20. Diego López; 21. Gianfranco Matteoli; 22. Franco Selvaggi; 23. Andrea Cossu; 24. Gianluca Festa; 25. Pietro Paolo Virdis.

10º – Enrico Albertosi

Posição: goleiro
Período no clube: 1968-74
Títulos conquistados: Serie A (1970)

A transferência de Albertosi poderia ter sido um arrependimento para o goleiro. Depois de 10 anos na Fiorentina – cinco deles como titular –, o titular da seleção italiana viu seu antigo clube ser campeão, deixando o Cagliari com o vice. Ricky, porém,  não ficou com gosto amargo na boca: em 1969-70, levantou o único scudetto da história do clube, tendo papel decisivo na campanha, já que foi o goleiro menos vazado do campeonato, com apenas 11 gols, sofridos. Não só daquela Serie A, mas de todas, já que o recorde permanece até hoje.

A boa campanha cagliaritana manteve Albertosi como titular da seleção até meados de 1971 – antes, ele participou da trajetória do vice-campeonato da Itália no Mundial de 1970. Nos anos seguintes ao scudetto o Cagliari teve campanhas apenas regulares e não voltou a brigar pelo título – somente em 1972, chegou perto, ficando em 4º. Com quase 33 anos, Albertosi deixou de vestir a camisa da Nazionale e, dois anos depois, o goleiro deixou a Sardenha para jogar no Milan. O parrudo e ágil goleiro, um dos melhores da história do futebol italiano, faz parte do Hall da Fama do Cagliari.

9º – Mario Martiradonna

Posição: lateral direito
Período no clube: 1962-73
Títulos conquistados: Serie A (1970)

O lateral Martiradonna é o típico caso de herói de uma camisa só. Revelado pelo pequeno Melfi, ele rodou pelos também diminutos Teramo e Reggiana, até chegar ao Cagliari em 1962, ano em que o Cagliari subiu da Serie C1 para a Serie B. Ao todo, foram 11 anos na Sardenha e 309 jogos com a camisa do clube, que fazem de Martiradonna um dos 10 jogadores com mais presenças pelo time sardo.

O jogador nascido em Bari participou de dois dos grandes momentos da história do clube: participou do primeiro acesso rossoblù à elite, em 1964, e seis anos depois levantou a taça do Italiano. Ao lado de Pierluigi Cera, Ricciotti Greatti e Gigi Riva foi um dos únicos quatro jogadores que contribuíram para ambos os feitos. Pela afeição que criou com os isolani, Martiradonna continuou vivendo na ilha após se aposentar, com 35 anos, e lá faleceu, em 2011. Em 2015, o vencedor do scudetto foi colocado na seleção de todos os tempos do Cagliari.

8º – Luís Oliveira

Posição: atacante
Período no clube: 1992-96 e 1999-2000
Títulos conquistados: nenhum

Brasileiro de nascimento e belga por adoção, Luís Oliveira já era membro da seleção da Bélgica quando chegou na Itália. O artilheiro conquistou a torcida rossoblù nos quatro anos em que atuou na Bota e viveu seu auge com a camisa dos sardos na primeira temporada, mesmo sem ter boa relação com o técnico Carlo Mazzone. Em 1992-93, ao lado de Enzo Francescoli, Gianluca Festa, Gianfranco Matteoli, José Herrera e Francesco Moriero, ajudou o Cagliari a ficar com a 6ª posição na Serie A e uma vaga na Copa Uefa. No ano seguinte, fazendo dupla de ataque com Júlio César Dely Valdés, foi fundamental para que o time sardo chegasse às semifinais do torneio, quando caiu para a futura campeã Inter. Oliveira marcou quatro gols na competição.

Os tentos marcados por Lulù Oliveira nos anos que passou na Sardenha foram suficientes para que a Fiorentina o contratasse como reforço para a disputa da Liga dos Campeões, em 1996. Depois de três anos em Florença, o belga foi contratado novamente pelo Cagliari, mas não repetiu a boa passagem do começo dos anos 1990. Após a queda para a Serie B, Oliveira se transferiu e se tornou um cigano do futebol italiano. Nada que apagasse o amor da torcida, conquistado com louvor: em 145 jogos, ele marcou 46 gols. Um dos 10 maiores artilheiros da história do clube, Oliveira também está no Hall da Fama cagliaritano.

7º – Nenê

Posição: atacante
Período no clube: 1964-76
Títulos conquistados: Serie A (1970)

Revelado pelo Santos e com passagem pela Juventus, o brasileiro Nenê chegou ao Cagliari logo após o time da Sardenha confirmar seu primeiro acesso para a Serie A. Centroavante de origem, o santista teve sua posição em campo modificada pelo técnico Arturo Silvestri, que preferia utilizar sua velocidade pelas pontas, mas sem impedir que Nenê marcasse seus gols. Foi jogando assim, e também como armador no meio-campo, que o brasileiro fez sucesso no Cagliari, com Silvestri e também com o treinador Manlio Scopigno.

Nenê foi vice-campeão italiano em sua quarta temporada vestindo rossoblù e, no ano seguinte, foi uma das peças mais importantes na conquista do histórico scudetto. Assim como toda a equipe, viveu boa fase até 1972, caindo de rendimento nos quatro últimos anos em que ficou no clube. 1976. As 13 temporadas, 382 jogos e 23 gols fazem do brasileiro um dos dez jogadores com mais partidas na história dos casteddu. Considerando apenas as partidas disputadas na Serie A (313), Nenê foi o jogador que mais atuou pelo clube durante muito tempo – marca batida apenas em 2015, pelo volante Daniele Conti o superou. Os serviços prestados com a camisa vermelha e azul lhe renderam um lugar no Hall da Fama da equipe sarda.

6º – Pierluigi Cera

Posição: volante e líbero
Período no clube: 1964-73
Títulos conquistados: Serie A (1970)

Após seis temporadas na Serie B com o Verona, o volante Cera foi contratado como reforço do Cagliari para a estreia na elite. Sem muita pompa, o jogador vêneto chegou e tomou conta da posição e dos corações dos torcedores, aliando bom posicionamento, força física e qualidade técnica. Em seu primeiro ano na ilha, ele ajudou a equipe a sair da zona de rebaixamento e começar arrancada histórica, que levou o time ao sexto lugar na classificação final.

Não demorou para que Cera virasse capitão e fosse o responsável por levantar a taça no ano do scudetto. A partir daquela temporada, o veronês foi utilizado como líbero pelo “filósofo” Scopigno, já que o titular, Giuseppe Tomasini, havia se machucado. Na zaga, Cera deu muita qualidade à saída de bola e foi um dos grandes jogadores do campeonato – não à toa, foi convocado para jogar a Copa de 1970 e foi titular da Itália. Em 1973, na fase final da carreira, deixou o clube para se aposentar no Cesena.

5º – David Suazo

Posição: atacante
Período no clube: 1999-2007
Títulos conquistados: nenhum

O hondurenho Suazo chegou ao Cagliari quando ainda era apenas um garoto. Com 19 anos ele disputou o Mundial Sub-20 e chamou a atenção do técnico uruguaio Óscar Tabárez, que o levou para a Sardenha. Em seu primeiro ano teve poucas chances na Serie A e viu a equipe cair, mas depois foi titular absoluto, goleador e principal jogador do time. Após três anos na segundona, o Pantera Negra marcou 19 gols e, com o vice-campeonato na Serie B, devolveu os cagliaritanos à elite.

O atacante centro-americano ficou mais três temporadas no time do estádio Sant’Elia – neste período, foi a estrela da companhia e capitão, entre 2005 e 2007. As melhores atuações de Suazo, integrante do Hall da Fama sardo, aconteceram na temporada 2005-06, quando ele ajudou o Cagliari a permanecer na elite com 22 gols marcados – superando Riva como o maior goleador do clube em uma única edição da Serie A. No mesmo ano, o hondurenho ainda recebeu um prêmio no Oscar del Calcio, sendo eleito o melhor jogador estrangeiro da Serie A. Gigi Riva é o único que está acima de Suazo em número de gols marcados pelo Cagliari: 164 contra 102. O Pantera Negra deixou o Cagliari a peso de ouro em 2007, não teve sucesso na Inter e tentou voltar quatro anos depois, mas não se acertou com a diretoria. Hoje, com nova gestão, é técnico das divisões de base.

4º – Enzo Francescoli

Posição: meia-atacante
Período no clube: 1990-93
Títulos conquistados: nenhum

O Príncipe Enzo Francescoli já era um conhecido do futebol mundial quando chegou ao Cagliari, com quase 29 anos. O uruguaio brilhou pelo River Plate, teve passagens marcantes pelo Racing de Paris e pelo Marseille e tinha uma Copa do Mundo nas costas quando foi contratado pelo time sardo. O clube tinha acabado de retornar para a Serie A, com Claudio Ranieri no comando, e apostou no craque como peça para o seu renascimento. Deu certo.

A exuberância que Francescoli demonstrava em campo e sua inteligência ajudaram em sua rápida adaptação ao futebol italiano e à nova função: atacante de ofício, começou a jogar como trequartista. O ídolo máximo de Zinédine Zidane ajudou os sardos a se salvarem do rebaixamento duas vezes e, em sua última temporada, marcou sete gols que levaram o time à sexta colocação, que valia vaga na Copa Uefa. Ele acabou negociado com o Torino e não atuou na competição europeia, mas deixou saudades na torcida cagliaritana.

3º – Daniele Conti

Posição: volante
Período no clube: 1999-2015
Títulos conquistados: nenhum

Filho do craque Bruno Conti, Daniele não brilhou na Roma, mas virou uma bandeira no Cagliari. Após estrear pelo clube da capital, o meio-campista foi cedido aos isolani e de lá nunca mais saiu. Foram 16 temporadas com a camisa rossoblù e 464 partidas: ninguém atuou mais pelos casteddu do que Conti, que também é um dos 10 maiores artilheiros da história do clube, com 51 gols marcados.

Entre 2010 e 2015 – ano em que se aposentou – o volante foi o capitão da equipe. Função que só foi oficializada, já que Conti representava a liderança em campo. Tecnicamente acima da média, ele era um organizador de jogo, com passes e lançamentos precisos, além de chute potente e ótimo poder de marcação. Os momentos mais importantes do capitano no Sant’Elia foram a disputa da semifinal da Coppa Italia, em 2004-05, e o papel de protagonista na ótima campanha cagliaritana na Serie A 2008-09: sob a batuta de Massimiliano Allegri, o Cagliari chegou a sonhar com uma vaga na Copa Uefa e ficou na 9ª posição.

2º – Gianfranco Zola

Posição: atacante
Período no clube: 2003-05
Títulos conquistados: nenhum

Zola passou apenas dois anos no Cagliari, mas foi o suficiente para marcar época. O ex-atacante é, sem dúvidas, o mais talentoso e importante jogador nascido na Sardenha em toda a história, mas curiosamente ele nunca tinha atuado pelo maior time da região até o final de sua carreira. Aos 20 anos, ele foi reprovado em um teste na equipe rossoblù por ser “muito baixo, muito magro e comum”. Um grande erro, “corrigido” quase duas décadas depois. Aos 37 anos, o Pequeno Gigante já tinha brilhado com as camisas de Napoli, Parma e Chelsea. Decidiu, então, fazer valer o seu desejo ao firmar um contrato com o Cagliari, que estava na Serie B, com o intuito de terminar a carreira no clube.

O trequartista já chegou com o status de ídolo, colocou a braçadeira de capitão no braço e lotou estádios nos jogos que atuou. Sem pestanejar, cumpriu a missão de recolocar o time da sua região na elite do futebol italiano com o seu talento habitual, 13 gols anotados e uma penca de assistências. Zola chegou a receber uma sondagem do Chelsea, mas optou por fazer uma temporada com os rossoblù na elite e, novamente, foi a alma do time: marcou nove gols na tranquila campanha na Serie A e, com quatro tentos, conduziu os sardos às semifinais da Coppa Italia. Ao fim da temporada, uma semana antes de completar 39 anos, pendurou as chuteiras em alto estilo e declarada paixão da torcida.

1º – Luigi Riva

Posição: atacante
Período no clube: 1963-76
Títulos conquistados: Eurocopa (1968) e Serie A (1970)

Riva é, sem dúvida, o jogador que mais uniu os rivais dos grandes times italianos. Todos os torcedores desejavam tê-lo, mas nunca puderam. O atacante, craque de bola, defendeu apenas o minúsculo Legnano e o pequeno Cagliari, ao qual fez grande, com a conquista do scudetto, em 1970 – na campanha, o atacante foi o goleador do torneio, com 21 gols. Apelidado de “Rombo di Tuono” ou, em português, “Estrondo de Trovão”, o canhoto conseguiu se impor longe dos holofotes e foi três vezes artilheiro da Serie A, e ainda se colocou entre os 20 maiores matadores da história do Campeonato Italiano, com 156 gols anotados. Nem precisa dizer que Gigi, com 164 tentos, é o maior artilheiro dos rossoblù – além de o quarto com mais jogos pelos isolani. O prestígio como principal nome do Cagliari levou Riva a ser presidente do clube nos anos 1980.

O craque canhoto marcou época também com a camisa da seleção italiana, da qual foi titular na Eurocopa 1968 e na Copa de 1970, conquistando um título e um vice-campeonato mundial. Por todos os feitos com a camisa do Cagliari e da Itália, Riva ainda foi o segundo colocado na Bola de Ouro, em 1969, e o terceiro, um ano depois – feito único para um jogador casteddu. Até hoje, Gigi Riva é o maior artilheiro da história da Nazionale, com 35 gols em 42 jogos. Nada mal para um jogador que foi definido por Garrincha como o melhor do mundo, atrás apenas de Pelé.

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