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Algoz de Romário e Hristo Stoichkov em 1994, Filippo Galli cansou de vencer pelo Milan

Marco Tassoti, Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini. Por muitos anos, esses quatro compuseram a linha defensiva do Milan que entrou para a história como Gli Immortali (Os Imortais). No entanto, antes de um jovem Costacurta estourar, o sagaz Filippo Galli era quem segurava a barra na retaguarda junto com Baresi. Cria do clube, ele defendeu os rossoneri por 14 anos, ganhou incríveis 17 títulos e colocou Romário e Hristo Stoichkov no bolso durante a final da Liga dos Campeões de 1994, contra o Barcelona.

Natural de Monza, Galli se moldou como jogador de futebol nas categorias de base do Milan. Foi no Pescara, porém, que o zagueiro fez sua estreia no profissional, aos 19 anos. Emprestado pelo time milanês aos delfini, disputou 28 jogos na temporada 1982-83, marcou dois gols e ajudou na ascensão da equipe do Abruzzo à Serie B. Voltou a Milão na época seguinte e se firmou como titular da zaga rossonera junto com Baresi e Tassotti, num esquema de três zagueiros.

Galli era homem de confiança do barão Nils Liedholm, que chegara ao Milan no verão europeu de 1984 para sua terceira passagem como técnico do Diavolo. Excelente na marcação individual e dotado de grande lucidez defensiva, atuava bem tanto em linhas de três quanto nas de quatro. Após o surgimento de Maldini, Liedholm adaptou o time para um 4-3-1-2, com Tassotti e Paolo nas laterais e Baresi e Galli no miolo da zaga. Em novembro de 1984, Filippo foi eleito – com apenas 20 anos – o melhor jogador milanista da temporada 1983-84.

Durante mais de uma década, Galli foi opção na defesa do Milan (imago)

Apesar da boa linha de defesa, o Milan não conseguiu conquistar títulos sob o comando do treinador sueco. Silvio Berlusconi, então presidente do clube rossonero, queria mudar o patamar do time tanto na Itália quanto nas competições continentais. Por isso, apostou no técnico do momento àquela época, Arrigo Sacchi, a fim de atingir seus objetivos. O vanguardista “trocou o chip” da equipe, recebeu os reforços do famoso trio holandês (Ruud Gullit, Marco van Basten e Frank Rijkaard) e fez o time voar baixo. Galli subiu de produção sob a batuta de Sacchi e fez grandes exibições, sobretudo na campanha do scudetto de 1987-88. Nessa temporada, aliás, entrou em campo 40 vezes, perdendo apenas um jogo.

Entretanto, o camisa 13 sofreu com muitas lesões que o fizeram perder espaço entre os titulares nas temporadas seguintes. A ascensão meteórica de Billy Costacurta também colaborou para a ausência de Galli do time inicial. Em 1988-89, por exemplo, ele atuou em somente 19 partidas, sendo uma delas a Supercopa Italiana vencida por 3 a 1 sobre a Sampdoria, em Milão. Não obstante toda adversidade, o beque sentiu o gostinho de conquistar sua primeira taça de Copa dos Campeões. Na final, vencida contra o Steaua Bucareste, por 4 a 0 em Barcelona, o defensor entrou na reta final do confronto, na vaga de Costacurta.

Em um “relacionamento sério com o DM”, Galli via de longe seus companheiros fazendo história e empilhando taças atrás de taças. Sem poder pisar no gramado, a única opção era torcer pela equipe. Foi assim na Supercopa da Uefa e na Copa Intercontinental: ambos os embates foram realizados no final de 1989, quando o atleta havia passado por uma cirurgia no joelho. Na temporada 1990-91, Galli chegou a atuar como volante ao lado de Carlo Ancelotti no empate em 2 a 2 com o Lecce, fora de casa, pela volta das oitavas de final da Coppa Italia. O Milan caiu nas semifinais, e o zagueiro foi capitão em quatro dos oito jogos que o Diavolo realizara naquele torneio.

Galli não era uma das grandes estrelas do Milan, mas treinava duro para se manter útil para os treinadores (Liverani)

Em 1991, Fabio Capello substituiu Sacchi no comando técnico do Milan, aparou as arestas de um time que estava esgotado mentalmente e fez os rossoneri ganharem mais troféus. Galli, por sua vez, seguiu seu calvário de lesões. Somando as temporadas 1991-92 e 1992-93, ele entrou em campo apenas 14 vezes. A redenção, contudo, ocorreu na final da Liga dos Campeões da época seguinte. Sem Baresi e Costacurta, ambos contundidos, Capello teve de enfrentar o Barcelona com a defesa remendada. Galli substituiu Baresi, Maldini foi deslocado à zaga e Christian Panucci fez as vezes de lateral-esquerdo.

No fim das contas, o Milan fez uma atuação exuberante e aplicou um chocolate de 4 a 0 sobre o esquadrão do gênio Johan Cruyff. E Galli, que era visto sob olhares duvidosos antes da peleja, teve uma noite mágica em Atenas. Junto com Maldini, parou o poderoso ataque formado por Romário, Stoichkov e Txiki Begiristain. Depois dessa épica final frente ao Barça, Filippo permaneceu mais duas temporadas e meia em San Siro. Ele contabilizou 324 jogos, 17 títulos e quatro gols em quase duas décadas (incluindo o período na base) de Milan.

Em outubro de 1996, Galli acertou com a Reggiana, então militante na primeira divisão. Aos 33 anos, ganhou mais minutos em campo, mas a equipe granata venceu míseras duas partidas no primeiro semestre de 1997 e, afundada na lanterna do campeonato, naufragou à Serie B. O zagueiro jogou a segundona com a equipe de Reggio Emilia, que concluiu o campeonato na metade da tabela, e trocou de clube. Em 1998, assinou com o Brescia, outro time participante da segunda divisão.

No início dos anos 2000, Galli teve uma breve passagem pelo Watford (Getty)

Vestindo a camisa biancazzurra, Galli atuou com regularidade e ajudou a levar a equipe à elite do futebol italiano ao fim da temporada 1999-2000. A Leonessa terminara a Serie B na terceira colocação, atrás de Atalanta e Vicenza. A época seguinte foi a última do defensor na Itália: ele colaborou para a permanência do Brescia na máxima divisão itálica e, no verão europeu de 2001, rumou à Inglaterra para defender o Watford, à época treinado pelo ex-atacante Gianluca Vialli.

A aventura em solo inglês, no entanto, terminou bem rápido: aos 38 anos, Galli disputou 28 jogos na segundona e, em 2002, voltou ao Belpaese, onde assinou contrato com o Pro Sesto, que disputava a Serie C2. Lá, jogou duas temporadas e se aposentou em 2004, aos 40 anos. Curiosamente, Galli nunca recebeu convocação para servir à seleção italiana. O máximo que ele fez vestindo a camisa azzurra foi disputar sete partidas pelo time sub-21, entre 1984 e 1987. Nesse período, participou do Europeu Sub-21 de 1984, onde os azzurini chegaram até as semifinais. No mesmo ano, o jogador também esteve no plantel que alcançou o quarto lugar nos Jogos Olímpicos de 1984.

Após pendurar as chuteiras, Galli deu início à carreira como treinador justamente no time que levou ao estrelato. E encontrou pela frente velhos conhecidos da época dos “imortais”. De 2006 a 2008 esteve à frente da equipe Primavera (sub-19), que antes tinha Baresi como técnico. Em agosto de 2008, foi auxiliar de Ancelotti, comandante principal do Milan, ao lado de Tassotti.

No ano seguinte, o ex-zagueiro assumiu o cargo de diretor do setor juvenil milanista, onde permaneceu até 1º de julho de 2018. Passaram por ele jogadores como Gianluigi Donnarumma, Davide Calabria, Mattia De Sciglio, Manuel Locatelli, Bryan Cristante, Simone Verdi, Pierre-Emerick Aubameyang, Patrick Cutrone e Andrea Petagna. Além do cargo na base rossonera, Filippo também apareceu na TV como comentarista esportivo pelas emissoras Mediaset e Telenova.

Filippo Galli
Nascimento: 19 de maio de 1963, em Monza, Itália
Posição: zagueiro
Clubes: Pescara (1982-83), Milan (1983-96), Reggiana (1996-98), Brescia (1998-2001), Watford (2001-02) e Pro Sesto (2002-04)
Títulos: Serie A (1988, 1992, 1993, 1994 e 1996), Supercopa Italiana (1988, 1992, 1993 e 1994), Copa dos Campeões (1989, 1990 e 1994), Supercopa da Uefa (1989, 1990 e 1994) e Copa Intercontinental (1989 e 1990)

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