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O meia ofensivo Alberto Di Chiara virou lateral de seleção pelas mãos de um brasileiro

Os sonhos mais comuns de todo jogador de futebol são os de ter uma carreira consolidada e defender a seleção de seu país. Nem todos conseguem realizá-los e aqueles que são capazes de alcançar os dois objetivos são considerados privilegiados. Porém, nem sempre os que atingem o sucesso o fazem da forma que planejaram desde cedo. Alberto Di Chiara, por exemplo, começou a sua trajetória como meia-atacante, mas foi como lateral que obteve as suas maiores glórias.

Nascido na capital italiana, em 1964, Alberto é o irmão mais novo de outro jogador, Stefano Di Chiara. Enquanto o mais velho já era um profissional com passagens por Lazio, Pistoiese e Genoa, o mais novo virava meio-campista nas categorias de base da Roma.

Alberto viria a estrear na equipe principal dos giallorossi em 1981, aos 16 anos, como o mais jovem jogador em atividade na Serie A de então. Di Chiara ganhou a Coppa Italia logo na sua primeira temporada como profissional e, de quebra, colocou o seu nome na conquista: nas quartas de final, a Roma venceu a Fiorentina por 1 a 0 no placar agregado e o único gol do duelo saiu dos pés do meia, que entrou nos derradeiros minutos da partida realizada em Florença.

Embora tenha mostrado estrela em seu segundo jogo como profissional, Di Chiara durou pouco na Roma. Sem espaço num elenco de grandes atletas, que seriam campeões italianos em 1983, o meia foi vendido depois de apenas dois anos vestindo giallorosso. O seu destino foi a Reggiana, que disputava a Serie B, mas a passagem não foi das mais felizes. Apesar de contarem também com o zagueiro Giovanni Francini, os volantes Giovanni Invernizzi e Walter Mazzarri, e o atacante Andrea Carnevale, os granata acabaram rebaixados para a terceira divisão.

Pela Fiorentina, Di Chiara foi vice-campeão da Copa Uefa e trocou o meio-campo pela lateral esquerda (Getty)

Com a queda, Alberto mudou de time e permaneceu na segundona: na janela de transferências do verão europeu de 1983, ele e o irmão Stefano foram adquiridos pelo Lecce. Na Apúlia, depois de quase conseguirem a promoção à elite na temporada de debute, os irmãos Di Chiara fariam parte da campanha histórica dos lupi para a Serie A em 1984-85. O acesso à primeira divisão era inédito para o clube.

O elenco de Eugenio Fascetti disputou o título da Serie B cabeça a cabeça com o Pisa. Os dois times, aliás, terminaram a temporada com o mesmo número de pontos: 50. Mas, como o primeiro critério de desempate era o saldo de gols, a equipe toscana acabou ficando com a honraria maior. Os giallorossi de Salerno terminaram sem o título naquele ano, mas tiveram seus nomes marcados na história. Di Chiara, por exemplo, com seis tentos marcados – somando todas as competições, totalizou nove.

Se a temporada anterior fora a maior da história do Lecce até então, a de 1985-86 tinha muitos elementos para superá-la. Afinal, o clube manteve a sua base e adquiriu reforços de respeito. Franco Causio, campeão mundial com a Itália em 1982, voltou para sua última dança pelo time em que foi revelado, enquanto Juan Alberto Barbas e Pedro Pasculli, selecionáveis da Argentina, abrilhantavam o plantel. Di Chiara, por sua vez, continuava a ocupar o posto de titular na ponta esquerda salentina.

No entanto, a Serie A era fortíssima e o elenco, que tinha tudo para oferecer um rendimento incrível, não entregou o suficiente para que o time se tornasse competitivo: o Lecce foi eliminado precocemente na Coppa Italia e ficou na lanterna da Serie A durante a temporada inteira. Para não dizer que a campanha de 1985-86 foi uma completa desgraça, foi no finalzinho dela que um jovem Antonio Conte fez sua estreia na liga profissional.

No Parma, já como lateral, o romano viveu os melhores momentos de sua trajetória profissional (imago)

Autor de quatro gols em 30 partidas naquela temporada, Di Chiara, não ficaria para a disputa da Serie B. Sua velocidade, os dribles e sua polivalência em ambos os lados do campo, além das duas aparições na seleção italiana sub-21, chamaram a atenção dos dirigentes da Fiorentina. Assim, o jovem Alberto, então com 22 anos, encerrou sua passagem pelo Lecce após 108 jogos e 17 tentos para desembarcar na Toscana, onde jogaria ao lado do ídolo violeta Giancarlo Antognoni e de um também muito moço Roberto Baggio.

No início de sua trajetória pela Fiorentina, Alberto não foi titular absoluto do time de Eugenio Bersellini. O meia alternou com Nicola Berti e Ramón Díaz durante o ano, que não foi tão feliz para a Viola: a equipe foi precocemente eliminada das copas e teve desempenho mediano na Serie A. Di Chiara ganhou vaga no onze inicial na temporada seguinte, com Sven-Göran Eriksson, mas o panorama dos gigliati não se alterou até 1989.

As coisas melhoraram para Di Chiara (e a Fiorentina) a partir da temporada 1989-90. Nesse ano, apesar de ter ficado dois meses afastado por lesão, o meia chegou à sua primeira final num torneio europeu: a da Copa Uefa, que a equipe toscana perderia para a Juventus, por um placar agregado de 3 a 1. A assistência para o tento violeta foi justamente de Alberto.

Em 1990-91, o romano viu a sua carreira se transformar nas mãos do brasileiro Sebastião Lazaroni, que foi contratado pela Fiorentina logo após a Copa do Mundo. O treinador queria um lateral que conseguisse subir ao ataque, no melhor estilo Djalma Santos, e resolveu adaptar Di Chiara, então com 26 anos, à posição. Jogando mais recuado no flanco esquerdo, mas com liberdade para atacar, Alberto viveria a melhor fase de sua trajetória profissional.

Com muito esforço, Di Chiara ajudou o Parma a conquistar quatro taças (imago)

Com Lazaroni, ainda em Florença, Di Chiara conseguiu apresentar um bom desempenho individual em meio à mediocridade do trabalho do brasileiro. Aliás, é provável que o maior feito do carioca em solo italiano tenha sido a transformação que produziu em Alberto. Só que o novo lateral atingiu o ápice noutro clube. Depois de cinco anos, 172 partidas e 13 gols pela Fiorentina, o jogador mudou de ares e foi para o Parma.

Di Chiara esteve presente na maior parte da década mais vitoriosa da história do Parma, endinheirado graças à gestão de Calisto Tanzi, proprietário da Parmalat. Os crociati faturaram oito títulos em um período de 10 anos e Alberto integrou o elenco em metade deles, sendo titular em quatro das cinco temporadas em que atuou no clube. O primeiro, conquistado logo em 1991-92, foi o da Coppa Italia.

No 3-5-2 transmutável em 5-3-2 do técnico Nevio Scala, Di Chiara era o dono do flanco esquerdo, enquanto Antonio Benarrivo dominava o direito. Muito entrosados e jogando o fino da bola, os dois passaram a ser convocados por Arrigo Sacchi para a seleção italiana, assim como os zagueiros Lorenzo Minotti e Luigi Apolloni. Chamado em maio de 1992, para um amistoso contra Portugal, Alberto foi o primeiro deles a representar a Nazionale e também o primeiro atleta do Parma a entrar em campo com a camisa azzurra. Alessandro Melli até foi chamado antes, mas só estreou em 1993.

Di Chiara foi bastante testado por Sacchi durante a temporada 1992-93, na qual o Parma foi vice-campeão da Supercopa Italiana, terceiro colocado da Serie A e, principalmente, faturou o seu primeiro troféu internacional: a Recopa Uefa de 1992, após bater o Antwerp na decisão. Em 1993-94, o time emiliano faturou a Supercopa Europeia e ficou a um passo de repetir o título da Recopa, mas amargou o segundo lugar do torneio ao ser derrotado pelo Arsenal. Alberto, por sua vez, acabou ficando de fora da lista final da Itália para a Copa do Mundo de 1994.

Na última temporada da carreira, Di Chiara foi rebaixado pelo Perugia (imago)

Após o Mundial dos Estados Unidos, o ala canhoto teve a sua última temporada como titular pelo Parma. E foi um grande ano: os crociati venceram a Copa Uefa, batendo a Juventus na final, e também conseguiram mais um terceiro posto na Serie A e um vice na Coppa Italia. Em 1995-96, Scala optou por fazer um rodízio entre Di Chiara e Roberto Mussi, ambos balzaquianos, e não colheu grandes resultados.

Devido aos resultados medianos obtidos em 1995-96, o Parma passou por uma reformulação, que envolveu a saída de Scala. Nessa leva, Di Chiara, que já tinha 32 anos, também mudou de clube, após 199 aparições com a camisa dos ducali: reforçou o Perugia, que voltava à elite após mais de uma década de ausência.

O lateral realizou apenas uma temporada com a camisa dos biancorossi. E foi uma campanha bastante atribulada, como costumava acontecer nos clubes de que Luciano Gaucci foi dono. Alberto começou a sua trajetória pelos grifoni sendo treinado pelo ofensivo Giovanni Galeone, mas os resultados negativos levaram à demissão do técnico e à contratação de Scala, ex-Parma. O Perugia lutou na parte inferior da tabela por todo o campeonato e chegou à última rodada precisando apenas de um empate para se salvar do descenso. No entanto, perdeu para o Piacenza e voltou para a Serie B. Com a queda, Di Chiara pendurou as chuteiras, aos 33 anos.

Após a aposentadoria, Alberto trabalhou como assessor de imprensa do Perugia até o início dos anos 2000. Depois que Gaucci vendeu o clube, Di Chiara se tornou empresário de jogadores como Giampiero Pinzi e Zisis Vryzas. Também chegou a se aventurar como auxiliar técnico de Giuseppe Giannini na seleção do Líbano, em 2013. Porém, fora dos gramados, sua principal ocupação seria a de comentarista esportivo, que exerce atualmente.

Alberto Di Chiara
Nascimento: 29 de março de 1964, em Roma, Itália
Posição: meia-atacante e lateral-esquerdo
Clubes: Roma (1980-82), Reggiana (1982-83), Lecce (1983-86), Fiorentina (1986-91), Parma (1991-96) e Perugia (1996-97)
Títulos: Coppa Italia (1981 e 1992), Recopa Uefa (1993), Supercopa Uefa (1993) e Copa Uefa (1995)
Seleção italiana: 7 jogos

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