Jogadores

Stefano Fiore foi vitorioso no Parma e viveu seu auge na Lazio

Técnica, precisão, criatividade, potência e versatilidade compunham o vasto repertório de Stefano Fiore. Entre o fim da década de 1990 e meados dos anos 2000, o hábil meio-campista colocou estas características em prática por times como Parma, Udinese e Lazio, sendo que foi pela equipe atingiu o seu auge, e se consolidou como um do melhores da Itália em sua posição.

Fiore nasceu na Calábria, no sul da Itália, e começou sua carreira aos 18 anos pelo Cosenza, time de sua cidade natal. Depois de se destacar nas categorias de base, Stefano começou a ser convocado para partidas da equipe profissional a partir da temporada 1992-93 e estreou pelos rossoblù na Serie B seguinte. Após contribuir para que os silani ficassem com a 10ª posição na categoria, se transferiu para o Parma.

O jovem Fiore, então com 19 anos, era mais um dos investimentos da Parmalat, multinacional que fazia o Parma atravessar a melhor década da sua história. Na equipe da Emília-Romanha, seria colega de Fernando Couto, Dino Baggio, Gianfranco Zola e outros grandes jogadores, comandados por Nevio Scala, e sabia que encontrar espaço inicialmente não deveria ser algo simples.

Stefano fez sua estreia pelo Parma numa peleja da Copa Uefa, contra o AIK, em novembro de 1994, e ganhou chances esporádicas ao longo da temporada, crescendo ao final dela. Fiore participou de sete das últimas nove rodadas da Serie A, marcando o seu primeiro gol pelo clube ante o Bari, na 31ª, e jogou todas as partidas de semifinais e finais do torneio continental e da Coppa Italia. As duas decisões foram contra a Juventus e, se os ducali perderam no mata-mata nacional, em compensação levantaram o troféu europeu.

Depois da temporada vitoriosa, Fiore foi emprestado para Padova e Chievo, clubes em que ganhou mais minutos e pode desenvolver seu estilo de jogo. Com a camiseta biancoscudata, somou 25 partidas em 1995-96 e fez parte da trágica campanha dos vênetos, concluída com a última colocação e a queda para a Serie B. No ano seguinte, disputou a segundona com a camisa do time de Verona, comandado por Alberto Malesani. Stefano marcou três vezes, ajudou os clivensi a ficarem na sétima posição em sua terceira experiência na categoria e retornou a Parma com mais casca, em 1997-98, pronto para assumir uma posição de maior destaque.

Astuto, o Parma adquiriu Fiore no início de sua carreira e soube valorizar o jogador que tinha em mãos (Allsport)

Àquela altura, o calabrês já era um dos jovens atletas mais interessantes do país. Fiore integrava a seleção italiana sub-21 e, no verão de 1997, fez parte do time olímpico que venceu os Jogos do Mediterrâneo, em Bari. Depois disso, chegou em Parma para brigar para ser titular em sua segunda passagem pelos crociati. Stefano ainda ocupava uma condição de coadjuvante daquela forte equipe emiliana, mas pode estrear na Champions League e fazer 39 partidas ao longo da temporada, novamente com uma ascensão na reta final.

Em 1998-99 o Parma estava destinado a alçar voos mais altos. A principal mudança foi a troca no comando técnico: a diretoria resolveu substituir um ainda jovem Carlo Ancelotti por Malesani, que já havia trabalhado com Fiore nos tempos de Chievo. Como Carletto, Malesani também dava seus primeiros passos na carreira de treinador, mas tinha um estilo de jogo muito mais ofensivo, inspirado no Carrossel Holandês aplicado pelo Ajax e pela seleção dos Países Baixos, nos anos 1970.

Se não tinha um currículo enorme, Malesani tinha um excelente material humano nas mãos e, portanto, conseguiu montar um supertime. Além de Fiore, o Parma tinha Gianluigi Buffon, Fabio Cannavaro e Lilian Thuram garantindo a consistência defensiva, Juan Sebastián Verón, Diego Fuser e Dino Baggio como peças importantes no meio e Enrico Chiesa e Hernán Crespo dominando o ataque, com 46 gols somados. No final das contas, aquela acabou sendo a temporada mais vitoriosa da história gialloblù: além do ótimo quarto lugar na Serie A, que lhe garantiu mais uma participação na Champions League, a equipe venceu tanto a Copa Uefa quanto a Coppa Italia.

Na competição europeia, Fiore anotou um gol importante na vitória contra o Wisla Cracóvia, e voltou a marcar na fase de oitavas de final, diante do Glasgow Rangers, em partida que terminou em 3 a 1 para os italianos. Na sequência, o Parma eliminou Bordeaux e Atlético de Madrid, se credenciando para disputar a final com o Marseille. Em Moscou, Stefano entrou em campo com o jogo já decidido a favor dos crociati e, com o 3 a 0, celebrou um título exatos sete dias depois de bater a Fiorentina na decisão da Coppa Italia.

Golaço contra a Bélgica, na Euro 2000, representou o grande momento de Fiore com a camisa da Itália (imago)

No entanto, depois daquela temporada mágica, o meio-campista encerrou a sua trajetória no Parma. O clube emiliano foi buscar o brasileiro Márcio Amoroso na Udinese e incluiu Fiore como parte do pagamento – o que ele aceitou prontamente, pois seria o principal nome da equipe friulana. Em dois anos, o calabrês mostrou uma verve goleadora que ainda não tinha apresentado e anotou 19 vezes em 87 presenças.

Jogando um futebol em alto nível, Fiore marcou nove gols na campanha em que a Udinese beliscou a oitava posição na Serie A 1999-2000 e, naturalmente, ganhou uma projeção ainda maior. Durante esta temporada, o meio-campista chamou a atenção de Dino Zoff, que lhe abriu as portas da seleção na lista de convocados para amistoso com a Suécia, em fevereiro de 2000. Stefano impressionou o treinador e foi chamado para a Eurocopa.

Durante a Euro, o atleta da Udinese atuou em todas as partidas, sendo titular em cinco de seis delas. “Jogávamos no 3-5-2 e eu fazia parte do trio de meio-campo. Além de mim, o time tinha [Demetrio] Albertini e [Antonio] Conte. Demetrio era o organizador da equipe, eu e Conte os mais soltos, cada um com suas características. Eu era o mais ofensivo, uma espécie de meia avançado”, relembrou Fiore em entrevista ao Guerin Sportivo. Stefano marcou um golaço contra a Bélgica, pela fase de grupos, após tabelar com Filippo Inzaghi, e foi substituído durante o segundo tempo da fatídica final que a Itália perdeu para a França pelo gol de ouro.

Logo após a competição continental, a Lazio, então campeã italiana, fechou com Fiore e Giuliano Giannichedda, que permaneceram emprestados à Udinese por mais uma temporada. Em sua campanha de despedida do Friuli, o calabrês vestiu a camisa 10, anotou mais nove gols na Serie A (dois contra a sua futura empregadora, inclusive) e ainda contribuiu para que os bianconeri se sagrassem vitoriosos na Copa Intertoto e fossem semifinalistas da Coppa Italia. Aos 26 anos, consolidado como um dos melhores meias do país, Stefano seria uma contratação de peso dos celestes.

Pela Udinese, Stefano se revelou como meia bastante prolífico (imago/Buzzi)

Em 2001, o jogador desembarcou em Roma, onde viveria seu auge nas três temporadas em que representou a Lazio – curiosamente, com diferentes números de camisa a cada ano; 20, 9 e 14, em sequência cronológica. Com a titularidade desde o início, Fiore foi peça importante, mas passou longe das grandes conquistas, já que a equipe celeste foi eliminada da Coppa Italia no primeiro turno, caiu na fase de grupos da Champions League e ficou em sexto na Serie A, longe de Inter, Juventus e Roma, que disputaram o título até a última rodada.

Durante as campanhas da Lazio em 2001-02, o técnico Alberto Zaccheroni teve dificuldade de achar o melhor posicionamento para Fiore, o que custou ao calabrês uma vaga na Copa do Mundo. Apesar de ter feito parte do ciclo, o celeste viu Giovanni Trapattoni optar, de última hora, por levar Cristiano Doni em seu lugar.

Em 2002, Roberto Mancini chegou para comandar os capitolinos e fez Fiore esquecer a decepção que viveu no verão. O novo técnico potencializou ainda mais seu desempenho e o fez crescer em partidas decisivas, nas quais passou a apostar mais frequentemente em seu ótimo poder de finalização de média e longa distâncias – e com ambos os pés. Logo nas primeiras rodadas, Stefano marcou um importante gol em clássico contra a Roma, que terminou empatado 2 a 2. Voltou a brilhar num jogo grande contra a Juventus, quando a Lazio saiu atrás, mas virou com dois tentos do meia. A equipe da Cidade Eterna ficou na quarta posição e retornou à Champions League.

Naquela temporada a Lazio também foi semifinalista nas duas copas que disputou. Jogando tanto como trequartista quanto aberto nas pontas, fez a sua parte ao marcar uma vez na partida que sacramentou a eliminação dos celestes, ante a Roma. Na Copa Uefa, competição em que anotou tentos decisivos sobre Estrela Vermelha e Besiktas, Fiore viu os aquilotti pararem no Porto de José Mourinho.

Durante três anos, Fiore foi pilar da Lazio (imago/PanoramiC)

Se em 2002-03 os títulos ficaram no quase, na temporada seguinte, a Lazio voltou a conquistar a Coppa Italia depois de quatro anos. E essa conquista passou, definitivamente, pelos pés de um Fiore ainda mais decisivo. O calabrês anotou três vezes nas semifinais, contra o Milan. Não contente, o camisa 14 apareceu novamente na decisão, contra a Juventus, marcando uma doppietta na vitória por 2 a 0, em Roma, e um dos gols no empate por 2 a 2, em Turim. Dessa forma, Stefano se sobressaiu como artilheiro do mata-mata nacional. Na Serie A, ainda teve o prazer de guardar o tento mais bonito de sua carreira, com uma bicicleta em vitória por 2 a 1 sobre o Perugia.

Sua trajetória em biancoceleste, marcada por 133 partidas e 31 gols, acabaria logo após essa grande conquista, já que o Valencia de Claudio Ranieri pagou caro por sua contratação. Antes de viajar para a Espanha, porém, Fiore passou por Portugal: o meio-campista recuperara o seu espaço na seleção italiana e a defendeu na má campanha realizada na Euro 2004. Com a camisa valenciana, Stefano ainda foi convocado outras três vezes antes de se aposentar da Nazionale.

O desempenho na Península Ibérica, aliás, foi um catalisador para esta aposentadoria. Num Valencia cheio de italianos – além de Ranieri, Amedeo Carboni, Bernardo Corradi, Marco Di Vaio e Emiliano Moretti –, Fiore faturou a Supercopa Uefa logo de cara, ao bater o Porto, vencedor da Liga dos Campeões. Porém, aquela conquista foi um de seus raros momentos de glória na Espanha. Após a saída de Rafa Benítez, Ranieri quis mudar a cara do time e iniciar um novo ciclo, mas os caros reforços não se encaixaram. “Sua ideia era nos colocar em uma equipe muito unida e forte. Este projeto tão ambicioso e talvez um pouco presunçoso acabou falhando”, contou Stefano, em entrevista ao site 90 min.

Foi então, que sua carreira começou a entrar em fase decrescente, ainda que permeada por alguns lampejos. Após não se firmar no futebol espanhol, foi emprestado para a Fiorentina, em 2005, e teve um ótimo início de passagem por Florença, com quatro gols anotados em oito rodadas da Serie A. No decorrer do certame, teve uma participação menos expressiva, mas seguiu como titular do bom time treinado por Cesare Prandelli e concluiu o torneio com aparições em todas as suas 38 rodadas. Ao final do contrato de cessão, porém, Viola e Valencia não chegaram a um acordo para tornar o vínculo permanente.

Quase um trocadilho: foi na Fiorentina que Fiore teve os seus últimos grandes momentos na elite italiana (imago/Buzzi)

Fiore retornou à Espanha e, fora dos planos dos morcegos, chegou a treinar em separado. No último dia da janela de transferências do verão de 2006, contudo, acertou mais um contrato de empréstimo, dessa vez ao Torino. Seis meses decepcionantes pelo time grená e outro período abaixo da média pelo Livorno, na mesma temporada, marcaram o melancólico adeus de Stefano à elite italiana. Depois de render pouco nos clubes que lutaram para não cair, o meia de 32 anos assinou com o Mantova, da Serie B.

O calabrês voltou a ter uma passagem de pouco brilho pelo clube da Lombardia e, ao fim de seu contrato, não encontrou empregador. Fiore ficou uma temporada inteira parado e, em julho de 2009, até treinou com o Lecce, visando a disputa da Serie B. Contudo, em setembro, Stefano voltou às origens: ao seu Cosenza, depois de 15 anos.

A atitude foi até benevolente, visto que o clube, militante na terceirona italiana, tentava se reconstruir técnica e financeiramente. Contudo, por mais que Fiore (alçado ao posto de capitão) tentasse salvar os rossoblù da Calábria, a situação era complicada. O Cosenza até escapou da queda em 2010, mas foi rebaixado para a quarta categoria na temporada seguinte e faliu pela segunda vez em menos de cinco anos. Depois disso, o meio-campista pendurou as chuteiras.

Depois de se aposentar, Stefano permaneceu no Cosenza para tentar reconstrui-lo, dessa vez como diretor, na gestão do presidente Eugenio Guarascio. Fiore ficou na diretoria do clube calabrês até 2013, quando os silani conseguiram o acesso à quarta divisão, e depois se tornou comentarista do canal Mediaset Premium. Graduado como treinador na escola de Coverciano, o ex-meia tem aparecido nos trabalhos de Massimo Oddo, amigo dos tempos de Lazio: foi seu auxiliar no Perugia e no Pescara.

Stefano Fiore
Nascimento: 17 de abril de 1975, em Cosenza, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Cosenza (1992-94 e 2009-11), Parma (1994-95 e 1997-99), Padova (1995-96), Chievo (1996-97), Udinese (1999-2001), Lazio (2001-04), Valencia (2004-05), Fiorentina (2005-06), Torino (2006-07), Livorno (2007) e Mantova (2007-08)
Títulos: Copa Uefa (1995 e 1999), Jogos do Mediterrâneo (1997), Coppa Italia (1999 e 2004), Copa Intertoto (2000) e Supercopa Uefa (2004)
Seleção italiana: 38 jogos e 2 gols

Compartilhe!

Deixe um comentário