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Zlatan Ibrahimovic marcou época na Serie A e, após rodar o mundo, fincou raízes no Milan

Poucos estrangeiros impactaram tanto a Serie A no século XXI como Zlatan Ibrahimovic. Uma figura amada ou odiada, o sueco dominou a liga italiana atuando pelos três maiores clubes do país. O atacante espantou o mundo na Juventus, se transformou em um dos melhores do mundo na Inter e virou ídolo do Milan, onde vivenciou duas passagens marcantes e, em seus últimos anos como jogador, ajudou a recolocar o time no topo da Itália. Com lances plásticos, gols inesquecíveis e declarações icônicas, “Ibracadabra” fez do Belpaese a sua segunda casa.

Filho de pai bósnio e mãe croata, Zlatan nasceu em Malmö, na Suécia. Aos 2 anos de idade, o menino viu seu pai, Sefik Ibrahimovic, se separar de sua mãe, Jurka Gravi. Sefik recebeu a guarda da criança. O pequeno Ibra cresceu em Rosengard, um bairro com alta presença de imigrantes, localizado nos subúrbios da cidade. A infância não foi nada fácil, pois tanto seu pai quanto sua mãe tinham pouco dinheiro e, às vezes, nem havia algo para comer em casa. Além disso, ele precisava lidar com a importunação dos garotos mais velhos. Fã de filmes de luta, aprendeu desde cedo a se defender nas ruas.

Em meio a tantos problemas familiares, sociais e financeiros, o esporte surgiu como válvula de escape para Zlatan. “Se eu jogava bola logo quando podia, era para fechar os olhos a tudo isso. O futebol era a minha única forma de felicidade, a única área da minha vida na qual eu me sentia livre dos problemas”, conta Ibrahimovic, em sua terceira autobiografia, “Adrenalina”.

Uma das maiores alegrias de Ibrahimovic em sua adolescência foi a classificação da Suécia para as semifinais da Copa do Mundo de 1994 – na época, ele tinha 12 anos. De cabeça, o gigante Kennet Andersson empatou o jogo contra a Romênia, na prorrogação, e o levou para as cobranças de pênalti: os suecos venceram por 5 a 4 e avançaram à fase seguinte, onde seriam eliminados pelo Brasil, que seria campeão mundial ao superar a Itália. Aquela seleção brasileira, inclusive, contava com um jogador que seria o ídolo máximo de Zlatan no futebol: Ronaldo.

Quando eu era criança, não havia jogador que me emocionasse como o [Ronaldo] Fenômeno. Eu assistia e revia os gols e os dribles dele, na internet.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Em 1995, Ibrahimovic, então com 13 anos, chegou às categorias de base do Malmö. Nessa época, roubava bicicletas para poder se deslocar na cidade. Com gols espetaculares e talento inato, Zlatan se destacou entre seus companheiros de time até subir para o profissional dos celestes, quase na virada do milênio. A primeira convocação à seleção sueca sub-18 também aconteceu no mesmo período, em 1999. Meses mais tarde, serviria também à sub-21 e debutaria na equipe principal da Suécia. Reflexo das boas atuações daquele atacante jovem e grandalhão, com ego elevado.

Na virada do século, o jogador despertou o interesse de Arsène Wenger, treinador do Arsenal à época. O francês foi ao encontro do atacante e até lhe deu uma camisa dos Gunners personalizada, com o nome Ibrahimovic gravado às costas, acima do número 9. O atleta, então com 17 anos, chegou a posar para foto com o uniforme do time inglês. A empolgação do bomber acabou quando o técnico lhe disse que precisaria realizar um teste para ser contratado. “Zlatan não faz testes”, respondeu ao técnico. Sim, já naquela época ele se referia a si mesmo na terceira pessoa.

Ibrahimovic chegou à Juventus com muitas expectativas e dividiu vestiários com craques (New Press/Getty)

Duas décadas depois do famoso episódio, Wenger explicou por que chamou Ibrahimovic para um teste em vez de oferecer um contrato ao sueco. “Ele era um garoto de 17 anos jogando no Malmö, na segunda liga da Suécia. E ninguém o conhecia. Oferecemos testes a muitos jogadores aos 17 anos – era absolutamente normal antes de você tomar uma decisão”, afirmou, em entrevista à BBC.

Em 40 jogos pela equipe profissional do Malmö, Ibra marcou 16 gols. Rendimento que encheu os olhos do dinamarquês John Steen Olsen, olheiro do Ajax. Ele indicou a contratação do jogador, e a diretoria do clube de Amsterdã comprou a ideia. Assim, em 2001, o Ajax desembolsou cerca de 8 milhões de euros e fez do sueco a aquisição mais cara da história da agremiação. Ele chegou cheio de marra ao time. Quando entrou pela primeira vez ao vestiário, o jovem, de apenas 20 anos, se apresentou com a seguinte pergunta aos companheiros: “Eu sou Zlatan. E quem caralhos vocês são?”

No Ajax, Ibracadabra fez um dos gols mais antológicos da sua carreira, contra o Utrecht, na final da Copa da Holanda. O técnico Ronald Koeman colocou o sueco em campo aos 79 de jogo, na vaga de John O’Brien. Os Godenzonen estavam perdendo por 2 a 1 quando o grandalhão entrou. Aos 90, o atacante brasileiro Wamberto empatou o confronto. Cinco minutos depois, já nos acréscimos, o bomber saiu driblando todos os adversários que encontrou pela frente e arrematou para o fundo das redes depois de entortar goleiro e defensores. O tento, no apagar das luzes, deu o título ao time de Amsterdã.

Pela equipe nacional da Suécia, Ibrahimovic balançou as redes em seu quarto compromisso, diante do Azerbaijão, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. “A emoção de um gol com a camisa da seleção é especial, é como fincar uma bandeira no globo, é como gritar: ‘Nós somos suecos'”, relata, no livro “Adrenalina”. Contudo, o atacante não conseguiu anotar pelo selecionado escandinavo no Mundial de 2002. Os azuis e amarelos caíram nas oitavas de final, frente a Senegal, e Ibra disputou apenas dois jogos, ambos saindo do banco de reservas.

Nos tempos de Ajax, Ibrahimovic fez duas grandes amizades. A primeira foi dentro de campo, com o lateral-esquerdo Maxwell. O brasileiro se tornou um grande amigo de Zlatan nos anos seguintes e venceram, inclusive, muitos troféus juntos. A outra foi fora das quatro linhas – e mudaria para sempre a carreira do jogador. Trata-se do agente Mino Raiola. Eles se encontraram em um restaurante japonês, localizado em Amsterdã, após Ibra pedir a um jornalista local que lhe apresentasse um bom empresário. O atacante conversou com Mino e, embora estivesse desconfiado devido ao lifestyle daquele profissional, fechou com o controverso agente.

Raiola foi bem claro com Ibrahimovic: o atleta precisaria melhorar o rendimento caso quisesse dar um salto de qualidade em nível de clubes. Zlatan entendeu o recado e alavancou seus números dentro de campo. Resultado: Mino o levou à Itália para assinar com a Juventus, após três anos, quatro títulos e 48 gols em 110 jogos pelo Ajax. O sueco chegou à agremiação de Turim, em 2004, como uma das grandes promessas do futebol mundial e custou 16 milhões de euros.

Na vida, porém, a amizade é uma coisa muito rara, eu acho. Tenho pouquíssimos amigos. Quero dizer, aqueles que você carrega por toda a vida, que você ouve todos os dias e nos quais confia de olhos fechados. Mino [Raiola] é amigo, pai, agente, tudo. Mino é o pacote completo. Ele é outra coisa.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Depois de uma ótima primeira temporada pela Juve, Ibrahimovic teve altos e baixos na segunda (New Press/Getty)

Logo em seu primeiro ano no futebol italiano, o craque foi eleito pelo jornal Gazzetta dello Sport como o melhor jogador da Juventus em 2004-05, campanha que rendeu à Vecchia Signora o scudetto — o título viria a ser revogado posteriormente, assim como o de 2005-06, por conta de envolvimento de diretores da agremiação no escândalo Calciopoli. O camisa 9 teve momentos brilhantes em sua temporada de debute em bianconero: marcou no jogo de estreia na Serie A, contra o Brescia; anotou uma doppietta no empate com a Fiorentina; e conseguiu uma tripletta na goleada sobre o Lecce.

Ele poderia ter disputado todas as 38 partidas do campeonato, mas foi suspenso após dar uma cabeçada em Sinisa Mihajlovic, no Derby d’Italia do segundo turno, que terminou com vitória da Inter, por 1 a 0, em Turim. Com 16 gols e oito assistências, Ibracadabra causou um impacto absoluto na equipe treinada por Fabio Capello. Porém, ficou devendo na Liga dos Campeões: os bianconeri pararam nas quartas de final, frente ao Liverpool, e o sueco só conseguiu dar três passes decisivos na campanha europeia.

No ano de 2004, Ibrahimovic disputou seu primeiro grande torneio como titular da sua seleção: a Eurocopa. Na estreia, contra a Bulgária, goleada por 5 a 0, com tento e assistência de Zlatan. Diante da Itália, na rodada seguinte, ele aprontou das suas, com um gol espetacular para garantir o empate em 1 a 1. O camisa 10, entretanto, passou em branco no terceiro duelo da fase de grupos e nas oitavas de final. A Suécia sucumbiu ante a Holanda. Ainda em 2004, ele anotou quatro vezes na fraca equipe nacional de Malta.

A segunda temporada de Ibrahimovic na Juventus não foi tão eficaz quanto a primeira: 47 partidas, somando todas as competições, com 10 gols e nove assistências – e muitos cartões bobos. Em 2006, com a Vecchia Signora envolvida no Calciopoli e rebaixada à Serie B, Zlatan recebeu uma proposta para se transferir à Inter, que desembolsou 24,8 milhões de euros pelo atleta. Até pelo grande nível de rivalidade entre as agremiações, muitos acharam que o sueco, que somara 92 aparições e 26 tentos pela equipe de Turim, havia tomado uma decisão equivocada. Porém, Ibracadabra teve uma das melhores fases de sua carreira na Beneamata.

Antes de se juntar à Inter, Zlatan tinha uma missão pelo seu país: disputar a Copa do Mundo de 2006. Na fase de grupos, os suecos empataram sem gols com Trinidad e Tobago, fizeram 1 a 0 no Paraguai e arrancaram um empate em 2 a 2 com a Inglaterra. Classificados em segundo lugar no Grupo B, eles encararam a anfitriã, Alemanha, nas oitavas de final, e perderam por 2 a 0. O atacante não balançou as redes no Mundial.

De volta à Itália após a Copa na Alemanha, Ibra se apresentou à Inter – onde encontrou antigos desafetos, como Mihajlovic, então auxiliar da equipe, e Marco Materazzi. Para a temporada 2006-07, o clube fez um grande mercado de verão: além do bomber, a diretoria acertou com Hernán Crespo, Maicon, Maxwell, Fabio Grosso, Olivier Dacourt, Mariano González e Patrick Vieira, este último também oriundo da Juventus.

Os novos contratados ganharam seu primeiro troféu vestindo nerazzurro logo no duelo que abriu oficialmente a temporada. Com golaço de Luís Figo na prorrogação, a Beneamata virou o jogo sobre a Roma — chegou a estar perdendo por 3 a 0; ganhou por 4 a 3 — e faturou a Supercopa Italiana. Novo camisa 8 interista, Zlatan deu assistência para o gol de Vieira.

Em 2006, o sueco realizou polêmica transferência para a Inter e se tornou o craque da equipe nerazzurra (New Press/Getty)

A passagem de Ibra pela Inter foi estupenda, e muitos fãs do sueco consideram que, no lado azul e preto de Milão, ele tenha vivido seu auge. Dos seus quase três anos em nerazzurro, o primeiro foi um dos mais marcantes, sobretudo na Serie A. Na partida de abertura do campeonato, gol e assistência no 3 a 2 sobre a Fiorentina, em Florença — um jogo no qual Esteban Cambiasso foi protagonista, com doppietta e passe decisivo.

O camisa 8 também puniu o Milan nas duas edições do Derby della Madonnina realizados na Serie A 2006-07. Guardou um no clássico do primeiro turno, que terminou com vitória eletrizante dos nerazzurri: 4 a 3. No returno, fez ainda melhor, estufando as redes e servindo de garçom para o tento de Julio Cruz: triunfo da Beneamata, de virada, por 2 a 1. A partida também marcou o encontro de Ibrahimovic com Ronaldo. O sueco até foi flagrado admirando o Fenômeno dentro de campo, como uma criança observando seu grande ídolo. Zlatan terminou a Serie A como artilheiro da Inter, com 15 gols em 27 jogos, sendo um dos protagonista do scudetto.

Ele manteve o alto nível na temporada seguinte. Chama a atenção a quantidade de partidas nas quais o escandinavo marcou dois gols (doppiette, em italiano) na época 2007-08: PSV Eindhoven, CSKA Moscou, Empoli, Livorno, Sampdoria, Siena e Parma, em ambos os turnos neste último caso. A doppietta assinalada contra o time emiliano, na derradeira rodada do campeonato, deu o scudetto à Inter. Ibra não estava 100% fisicamente, então o técnico Roberto Mancini o deixou no banco. Ele foi a campo na segunda etapa e anotou os dois tentos da vitória, assegurando o título. O próprio jogador considera aquela a sua melhor memória dos tempos de interista.

“Entre os gols que eu marquei pela Inter, naturalmente escolho a doppietta sob a chuva de Parma, na última rodada do campeonato 2007-08”, relata o bomber, em sua autobiografia “Adrenalina”. “Começo o jogo no banco porque um joelho dói. Precisamos vencer, mas não conseguimos marcar. Parece uma maldição. Então, Mancini me permite entrar no segundo tempo: pum, pum, dois gols e um scudetto no bolso”.

O grandalhão, porém, não conseguiu fazer a seleção sueca chegar ao mata-mata da Eurocopa de 2008. Os dois tentos que ele anotou na competição — na vitória sobre a Grécia e na derrota para a Espanha — não foram suficientes para levar os escandinavos às oitavas. A temporada de 2007-08 foi a última de Mancini à frente da Inter. José Mourinho o sucedeu e aumentou o sarrafo da equipe. Ibra criou excelente ligação com o treinador português e teve uma época arrebatadora com a camisa nerazzurra. Ganhou o prêmio de artilheiro da Serie A, com 25 gols em 35 jogos — além de sete assistências —, e foi, mais uma vez, destaque na campanha que culminou no scudetto.

Mancini fez um trabalho excepcional [à frente da Itália na Eurocopa 2020]. Muita coisa mudou, Roberto. Na Inter, ele não tinha um relacionamento com os jogadores. Zero. Mihajlovic fazia tudo. Mancini dirigia o treinamento, se ocupava da parte tática e pronto. Zero diálogo com o time. Sinisa pensava nisso. Agora, parece uma outra pessoa.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Em San Siro, Ibra se transformou em um dos atacantes mais prolíficos da Europa, mas não conseguiu ajudar os nerazzurri a irem longe na Liga dos Campeões. Enquanto esteve na Inter, foram três eliminações nas oitavas de final — após o último insucesso no torneio, ele chegou a ser vaiado por alguns torcedores no Giuseppe Meazza. Já consolidado como um dos melhores atacantes do mundo, e colecionando prêmios individuais devido às boas atuações na Itália, Ibrahimovic deixou a Beneamata para acertar com o Barcelona, em julho de 2009, pouco após iniciar a pré-temporada pela equipe de Milão e ser escolhido coerdeiro da camisa 10, que era de Adriano. Sua passagem pela Pinetina lhe rendeu 66 gols e cinco títulos em 117 aparições.

Em 2008, Ibrahimovic anotou uma doppietta fantástica sobre o Parma e garantiu o scudetto para a Inter (New Press/Getty)

Os blaugranas pagaram 49 milhões euros e ainda cederam Samuel Eto’o à Inter. A ideia era finalmente poder disputar o título da Champions League em um time que estava dominando a Europa sob o comando de um revolucionário Pep Guardiola. Porém, embora tenha entregado bons números (22 gols em 46 jogos), Zlatan bateu de frente com o técnico, foi eliminado da maior competição europeia de clubes justamente pelos nerazzurri — que se sagrariam campeões do torneio — e permaneceu apenas uma temporada na Espanha. Tempo suficiente para adicionar cinco títulos ao currículo: duas Supercopas da Espanha, uma Supercopa Europeia, um Mundial de Clubes da Fifa e La Liga.

Uma temporada depois de Ibrahimovic chegar ao Camp Nou, o Barcelona se viu obrigado a emprestá-lo para algum clube em 2010-11. Como o Milan era um dos interessados, e o atacante tinha o desejo de voltar ao futebol italiano, o negócio se concretizou rapidamente. Adriano Galliani, icônico cartola dos rossoneri, acertou um empréstimo com opção de compra, fixado em 24 milhões de euros, junto ao Barça. Aos 28 anos, Zlatan foi apresentado no intervalo do jogo de abertura da Serie A, contra o Lecce, em San Siro. Com direto a tapete vermelho e tudo. “Lembrem-se: eu vim aqui para vencer, e este ano vamos vencer tudo”, garantiu à torcida o novo camisa 11 do Diavolo.

O Milan, treinado por Massimiliano Allegri, não venceu tudo naquela temporada. O Diavolo foi eliminado pelo Tottenham nas oitavas de final da Champions League e caiu nas semifinais da Coppa Italia, após perder a queda de braço para o Palermo. No entanto, interrompeu a hegemonia da Inter e voltou a ganhar o scudetto depois de sete anos. Como era de se esperar, Ibracadabra foi o protagonista da campanha rossonera. Marcou gols fantásticos — contra Genoa, Fiorentina e Lecce, por exemplo —, se conectou rapidamente com o trio brasileiro composto por Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Pato e Robinho, e conduziu os milanistas ao título.

Zlatan fez o Milan vencer um Derby della Madonnina após três derrotas consecutivas contra a Inter. Logo no início desse jogo, Materazzi, um de seus grande desafetos, lhe derrubou na área. Pênalti. O camisa 11 converteu e alargou os braços, observando os xingamentos vindo das arquibancadas — naquele clássico, o mando era da Beneamata. O tento bastou para dar a vitória magra aos rossoneri. No segundo tempo, durante uma disputa de bola na defesa nerazzurra, o sueco entrou forte em Materazzi e tirou o zagueiro de campo, mandando-o para o hospital. O árbitro Paolo Tagliavento puniu o camisa 11 apenas com um cartão amarelo.

Ibra já estava planejando uma vingança contra Materazzi havia muito tempo. Em outubro de 2005, durante um Derby d’Italia, o interista deu uma tesoura em Zlatan, então na Juventus. O atacante tentou seguir em campo para dar o troco no italiano, mas, com muitas dores, não conseguiu permanecer no gramado e acabou substituído. Ele jogou pela Inter depois do episódio, porém não prejudicaria um companheiro de equipe. O sueco, entretanto, não esqueceu a entrada violenta de Materazzi e esperou cinco anos para se vingar. Filippo Inzaghi gostou da atitude de seu novo colega.

Pippo Inzaghi estava entre os mais eufóricos no vestiário: “O dérbi mais bonito da minha vida: 1 a 0 para nós, gol de Ibra e Materazzi no hospital”.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

De visual novo — adotou o rabo de cavalo —, Ibrahimovic teve uma performance ainda mais impactante na temporada 2011-12. Em 44 jogos (contabilizando todas as partidas), foi às redes 35 vezes e ainda serviu de garçom outras 12. Mas não conseguiu manter o scudetto em Milanello, já que a Juventus, campeã, terminou o campeonato quatro pontos à frente do Diavolo, vice, na tabela de classificação. O prêmio de consolação do Milan foi a taça da Supercopa Italiana, conquistada sobre a rival Inter, 2 a 1, com direito a gol de Zlatan.

Com o tempo, a relação entre Zlatan e a torcida nerazzurra se desgastou: em 2009, o sueco foi vendido ao Barcelona (AFP/Getty)

Já capitão da Suécia e vivendo grande fase em nível de clubes, Ibracadabra falhou mais uma vez em levar os escandinavos a etapas mais agudas das grandes competições. Os suecos, que também não conseguiram se classificar à Copa do Mundo de 2010, não passaram da primeira etapa da Eurocopa 2012. O destaque individual foi o golaço de voleio que Ibrahimovic marcou na derrota por 2 a 1 diante da Ucrânia de Andriy Shevchenko, na partida de abertura da Euro.

Antes de sair de férias, Zlatan conversou com Galliani, na sede do Milan, e disse ao cartola que se encontrava bem no clube e não tinha intenção de deixá-lo. A Raiola, Ibra deu uma ordem: esquecer seu número de telefone durante as férias. O atacante, porém, foi surpreendido quando o agente viajou até a Suécia, onde seu cliente descansava, e argumentou pessoalmente que “o futuro se chama Paris Saint-Germain”.

Movido à adrenalina, Ibra refletiu e tentou se imaginar jogando pela equipe francesa. Zero motivação. O brasileiro Leonardo, então diretor do PSG, ligou para ele, na expectativa de convencê-lo. Nada. Raiola, então, perguntou a Zlatan o que ele queria, em relação a dinheiro e bens, para assinar com os franceses. O sueco jogou a pedida lá no alto, de modo a fazer o time parisiense recusar. Mas Leonardo concordou em ceder a todos os desejos do atleta, que acabou fechando com os novos ricos do momento.

Por fim, Ibrahimovic perguntou a Raiola se o PSG era realmente a escolha certa. Foi então que o agente revelou que Galliani já o havia vendido, juntamente a Thiago Silva. “Enquanto eu lutava para permanecer no Milan, o Milan já havia me largado na França sem me dizer nada. O encontro com Galliani [antes de Ibra sair de férias] tinha sido uma farsa, assim como sua promessa de me manter: ‘Está tudo bem'”, conta Zlatan, no livro “Adrenalina”. O bomber permaneceu alguns meses sem conversar com o cartola, a quem nutre grande carinho.

Em 18 de julho de 2012, aos 30 anos, Ibrahimovic foi apresentado no PSG: contrato de quatro temporadas e salário de 14 milhões de euros anuais. Tornou-se o segundo jogador mais bem pago do mundo, atrás apenas de Eto’o, que, à época, ganhava 20,5 milhões de euros anuais no Anzhi Makhachkala, da Rússia, time que encerrou as atividades em 2022. Em Paris, encontrou um clube em transição da fase de vacas magras à riqueza. Nada que impedisse o artilheiro de quebrar todos os recordes possíveis em solo nacional e virar uma bandeira azul e vermelha.

Zlatan escolheu o número 18, já que o brasileiro Nenê, camisa 10, ainda não havia deixado a agremiação quando o sueco chegara ao time. O bomber estreou marcando os dois gols do empate em 2 a 2 com o Lorient, no Parc des Princes. Ao fim da temporada, contabilizou 35 tentos e 17 assistências em 44 partidas no total. Foi campeão, melhor jogador e artilheiro da Ligue 1, com 30 bolas nas redes, além de maior garçom da Champions League, com sete passes decisivos. Carlo Ancelotti foi contratado pelo PSG na mesma época que Ibra e, segundo o próprio escandinavo, fez a diferença no vestiário, embora tenha permanecido apenas um ano em Paris.

Carlo é um treinador diferente de todos os outros. Ele tinha um relacionamento especial com o time. Uma noite estava jantando fora, em Paris, com seis ou sete jogadores. Nós ligamos para ele para dizer um oi e, 20 minutos depois, ele estava sentado na mesa com a gente, tomando uma cerveja.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Ibra voltou à Itália para assinar com o Milan e se tornou um dos grandes carrascos da Inter no Derby della Madonnina (AFP/Getty)

Em novembro de 2012, Ibrahimovic apresentou sua melhor perfomance com a camisa da seleção sueca. Foram quatro gols contra a Inglaterra, em amistoso disputado na Friends Arena, em Estocolmo. O último foi uma pintura: o goleiro Joe Hart saiu da área correndo e, de cabeça, afastou a bola; Ibra anteviu a jogada, diminuiu a passada e, quando percebeu a pelota vindo em sua direção, ajeitou o corpo e acertou uma bicicleta de longa distância. A obra-prima fechou a vitória dos escandinavos por 4 a 2. Não teve outra: o golaço ganhou o Prêmio Puskás. Em 2014, a Suécia não disputou a Copa do Mundo, mas Zlatan se tornou o maior artilheiro da equipe nacional e o jogador que mais vezes vestiu a camisa amarela e azul.

Pelo PSG, Ibrahimovic seguiu empilhando gols, assistências, títulos, recordes e confusões com adversários e o povo francês. Em 2013, foi eleito o quarto melhor jogador do mundo pela Uefa, atrás apenas de Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Franck Ribéry, e ainda compôs a seleção ideal da entidade. Vale salientar que o artilheiro foi indicado 11 vezes para a premiação da Bola de Ouro (2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2009, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016). Ele ganhou muitas outras honrarias individuais, as quais você pode conferir aqui. Só o Guldbollen, dado ao melhor sueco, Zlatan faturou em 12 oportunidades – é o recordista, com 10 troféus a mais do que o grupo de segundos colocados.

Após ouvir do presidente do PSG, Nasser Al-Khelaïfi, que “eles estavam procurando uma nova geração de jogadores”, visando “rejuvenescer o time”, Ibrahimovic chegou à conclusão de que era o momento de dar adeus. Com 156 gols em 180 jogos, ele deixou Paris como maior artilheiro da história da agremiação — seria superado nos anos seguintes por Edinson Cavani e Kylian Mbappé —, 12 taças, inúmeras conquistas individuais e um grande legado. “Eu cheguei aqui como rei e saio como uma lenda. Mas eu estarei de volta”, garantiu Ibra, indicando um retorno ao clube como dirigente, após pendurar as chuteiras.

Enquanto decidia qual seria seu próximo passo na carreira, Ibrahimovic viajou à França para disputar a Eurocopa de 2016. Mais uma vez os suecos pararam na fase de grupos, com um empate e duas derrotas. Zlatan passou em branco na competição. Encerrada a fraca participação da Suécia na Euro, o craque anunciou aposentadoria do selecionado nacional.

Me vi sem contrato. Eu não sabia para onde ir. Então, tudo acontece de repente. Mourinho vai ao Manchester United e me chama: “Venha até mim”
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Atraído pelo convite de Mourinho, Ibrahimovic assinou com o Manchester United, em julho de 2016, e escolheu o número 9. Aos 34 anos, decidiu que era o momento de jogar na Premier League, a liga do momento – e onde encontrava muitos críticos. “De sete pessoas que eu perguntei, sete me aconselharam a não ir à Inglaterra. Faço as somas: elas têm razão, por isso eu irei”, relata em sua autobiografia “Adrenalina”.

Logo em sua estreia, marcou, de cabeça, o gol decisivo da vitória por 2 a 1 sobre o Leicester City, dando a Community Shield aos Reds Devils. O grandalhão também guardou um em seu debute na Premier League, ajudando o United a bater o Bournemouth por 3 a 1. Em Manchester, ganhou também a Copa da Liga Inglesa e a Liga Europa — seu primeiro título europeu —, mas rompeu o ligamento cruzado anterior e o posterior do joelho direito durante o triunfo por 2 a 1 sobre o Anderlecht, no Old Trafford, em compromisso válido pela volta das quartas de final da competição continental.

Em seu primeiro ano no Milan, Zlatan ajudou o time treinado por Allegri a faturar o scudetto (Getty)

Ibra só voltaria a atuar na temporada seguinte, mas os problemas físicos limitaram sua participação em campo. Assim, em março de 2018, após conversar com Mourinho, Zlatan decidiu rescindir o contrato com o Manchester United. Ele escolheu uma praça menos competitiva para se recuperar por completo da grave contusão no joelho: Los Angeles, nos Estados Unidos. Lá, fechou acordo com o LA Galaxy. Como os norte-americanos não são tão ligados ao soccer como os europeus, Ibrahimovic conseguia viver uma vida mais calma e, de quebra, “brincar” na Major League Soccer.

A estreia de Ibracadabra pelo LA Galaxy foi à sua maneira: saiu do banco, meteu um golaço de longa distância, encobrindo o goleiro, e ajudou o Galaxy a virar o jogo sobre seu rival Los Angeles FC: 4 a 3. Aliás, era o primeiro e histórico dérbi entre os dois times da cidade. A torcida entrou em êxtase com o triunfo. E o LAFC se tornou uma das franquias da MLS que mais sofreram com Ibra. Entre lindos tentos, aparições em programas de entretenimento e declarações presunçosas, Zlatan permaneceu na Califórnia até novembro de 2019.

Com 38 anos, Ibrahimovic estava convencido de que sua carreira se aproximava da linha de chegada. Raiola, por outro lado, insistia que seu cliente e amigo voltasse à Europa para poder jogar pelo menos mais seis meses antes de sair de cena por completo. Então, Zlatan começou a assistir a um rico documentário da HBO sobre a vida de Diego Armando Maradona, que apresentava muitos momentos do craque argentino no Napoli. Quando viu a paixão dos torcedores no então estádio San Paolo — hoje rebatizado com o nome do craque argentino — e sua devoção ao Pibe d’Oro, o atacante sentiu a adrenalina correr em suas veias, ligou para Raiola e anunciou que gostaria de atuar pelo Napoli.

Você quer que eu continue jogando? [Questionou Ibra durante uma ligação para Raiola] A minha adrenalina são os torcedores do Napoli. Irei lá, a cada jogo levarei ao estádio 80 mil pessoas e ganharei o scudetto como nos tempos de Diego. Com a conquista do Campeonato Italiano, eu faço todos enlouquecerem. Esta é a minha adrenalina.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Raiola, portanto, entrou em contato com o presidente do Napoli, Aurelio De Laurentiis, e fechou acordo para Ibrahimovic reforçar o time azzurro. No entanto, quando o atacante iria assinar contrato, em 11 de dezembro de 2019, Ancelotti foi demitido. Antes de ser exonerado, o treinador chegou a conversar com Zlatan para informar como gostaria de utilizá-lo na engrenagem da equipe. Com a saída de Carletto, Ibra perdeu confiança em De Laurentiis e optou por não se juntar mais aos partenopei.

Zlatan, então, perguntou a Raiola qual time estava mais precisando de sua ajuda. “O Milan perdeu de 5 a 0 em Bérgamo”, respondeu o empresário. “Ligue para o Milan. Iremos ao Milan”, decidiu o bomber. Após tratativas com os cartolas rossoneri Paolo Maldini e Zvonimir Boban, o sueco voou para Milão em 2 de janeiro de 2020 e assinou contrato de seis meses, com opção de renovação por mais um ano. Foi a primeira e única vez que Ibrahimovic retornou a uma equipe que já havia defendido. Na verdade, ele nunca quis deixar o Diavolo. “É o maior clube pelo qual já joguei, e não queria ter saído. Eu amo o Milan. Quando saí, não foi uma escolha minha”, disse Ibra, em entrevista para o canal Mediaset, em 2016.

Mas muita coisa havia mudado desde a última passagem do bomber pelo Milan. À época, o clube rossonero atravessava uma grande crise e tinha deixado de ser protagonista do futebol italiano e europeu havia alguns anos, apesar de sua enorme tradição. O desafio do experiente Ibracadabra era colocar os lombardos sob os holofotes novamente. Não seria fácil, contudo. Ele pegou a equipe milanista na segunda metade da tabela de classificação da Serie A, com um dos piores ataques da competição — somente 11 gols anotados.

Em sua segunda passagem pelo Milan, Ibrahimovic foi líder técnico e anímico do elenco rossonero (Getty)

Eu não cheguei ao Milan para marcar 40 gols e perder os jogos. Estou aqui para ajudar o time a crescer como coletivo e também de modo individual. Para todos vencerem juntos. Este é o meu desafio, este é o meu novo papel.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Com o número 21 às costas, Ibra fez sua reestreia pelo Milan no dia 6 de janeiro de 2020, contra a Sampdoria, em San Siro. Entrou no segundo tempo e atuou por 35 minutos. Na rodada seguinte, ante o Cagliari, na Sardenha, foi às redes e contribuiu para a vitória por 2 a 0. A cobrança de Zlatan nos treinos aumentou o sarrafo entre os jogadores, impactando positivamente nas partidas. Em março de 2020, o futebol também parou devido à pandemia de covid-19.

No retorno após a paralisação, nas últimas semanas de junho, o time comandado por Stefano Pioli se transformou de água em vinho e apresentou um dos melhores desempenhos não só da Serie A, mas das cinco grandes ligas europeias. Não à toa, o Milan permaneceu até janeiro de 2021 sem perder sequer uma partida pelo Italianão. Com 38 para 39 anos, Ibrahimovic chegou a ser sondado pelo Bologna, mas ativou a renovação por mais uma temporada, assumiu a camisa 11 e entregou um rendimento absurdo em 2020, marcando contra todos os principais adversários do Diavolo.

Em 2020-21, o bomber decidiu dois jogos muito pesados. Com uma doppietta do craque, o Milan encerrou três anos de jejum no dérbi de Milão, com triunfo por 2 a 1 sobre a rival local. Ele também guardou dois no 3 a 1 em cima do Napoli, em Nápoles: os rossoneri não ganhavam dos azzurri pelo campeonato havia uma década, justamente na época em que Ibra vivenciava sua primeira passagem pelo clube milanês. Por falar em dois gols, o que não faltou naquela temporada para Zlatan foram dobradinhas: Bologna, Inter, Roma, Napoli, Cagliari e Crotone foram duplamente vazados pelo sueco em uma mesma partida.

No entanto, apesar do faro de gol, Ibra começou a sofrer com muitas lesões. Só na temporada 2020-21, ele perdeu 24 jogos por contusão ou covid-19. De qualquer maneira, seus 15 tentos e suas duas assistências foram essenciais para que o Milan terminasse o campeonato na vice-liderança e carimbasse a classificação à Champions League após sete anos.

Nessa mesma temporada, o sueco também alcançou feitos relevantes: o jogador em atividade com mais gols no Derby della Madonnina (10); o primeiro atleta do Milan a ter marcado em sete partidas consecutivas da Serie A; o terceiro deste milênio a anotar mais de 500 tentos por clubes na carreira; quebra do “tabu da segunda passagem” pelo Diavolo; entre outros.

Em março de 2021, Zlatan anunciou seu retorno à seleção sueca, em acordo com o técnico Janne Andersson. O veterano conseguiu dar uma assistência contra a Geórgia e outra ante Kosovo, em jogos válidos pelas Eliminatórias Europeias da Copa do Mundo de 2022. Limitado pelas intermináveis contusões, ele só voltaria a ser chamado para servir à Suécia em novembro do mesmo ano, nas derrotas para os georgianos e para a Espanha.

No momento de sua aposentadoria, Ibrahimovic ocupava um posto entre os 25 maiores artilheiros da história da Serie A (AFP/Getty)

Ibra optou por seguir junto ao Milan até junho de 2022, no intuito de cumprir com sua palavra: quando retornou ao clube, o atacante prometeu que faria seus companheiros de time e a comissão técnica serem campeões italianos. Em 2021-22, após uma batalha intensa com a Inter até a última rodada, a equipe rossonera conquistou seu 19ª scudetto. Embora menos relevante dentro de campo do que na temporada anterior, Zlatan se tornou ainda mais uma voz ativa dentro do grupo e cumpriu a promessa. Durante a comemoração do título, que não era celebrado pelos rubro-negros havia 11 anos, o camisa 11 criou um slogan que envolveu a festa dos torcedores: “Milão não é Milan, a Itália é Milan”.

Desde que jogo futebol, eu nunca tive um feeling assim tão forte com os companheiros de time. Nunca me senti assim tão amado em um vestiário.
Zlatan Ibrahimovic, em sua autobiografia “Adrenalina”

Alguns dias após a celebração do scudetto, o atleta passou por uma cirurgia porque havia jogado os seis meses anteriores com severas limitações por conta de uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. “O joelho estava inchado havia seis meses”, escreveu Zlatan, em uma postagem nas redes sociais. “Só consegui treinar com a equipe 10 vezes nos últimos seis meses. Tomei mais de 20 injeções em seis meses. Esvaziei meu joelho uma vez por semana durante seis meses. Analgésicos todos os dias durante seis meses. Eu mal dormi de dor por seis meses. Nunca sofri tanto dentro e fora de campo. Tornei algo impossível, possível. Na minha mente, eu tinha apenas um objetivo: fazer com que meus companheiros de time e o treinador fossem campeões italianos, porque fiz uma promessa a eles. Hoje tenho um novo ligamento cruzado anterior e mais um troféu”.

Ibrahimovic só poderia voltar a jogar após sete ou oito meses, mas mesmo assim decidiu renovar contrato com o Milan, aceitando receber um salário irrisório perto do que um dia já ganhara. De qualquer forma, os problemas físicos não deram trégua ao quarentão Ibra. Ele conseguiu apenas 144 minutos em campo durante toda a temporada 2022-23. Em junho, após o último jogo da Serie A, o atacante anunciou aposentadoria dos gramados. A princípio, seria uma despedida apenas do Diavolo, porque ele havia dado uma entrevista ao jornal Gazzetta dello Sport, dias antes, na qual demonstrava o desejo de disputar a Eurocopa 2024. Porém, pendurou mesmo as chuteiras. Àquele momento, ocupava o 21º posto na artilharia histórica do Italiano, com 156 gols em 283 aparições.

No Milan, Ibrahimovic colecionou 163 partidas, 93 gols e três troféus. Mais: fincou raízes e encontrou sua segunda casa. Prova disso foi a homenagem que o clube prestou a ele: todos os jogadores do elenco, após o jogo, utilizaram uma camisa com seu nome e o número 11 nas costas, e um tapete vermelho foi estendido no gramado de San Siro — tal qual em sua apresentação à torcida no próprio Diavolo, em 2010. Além disso, foi produzido e exibido, no estádio, um vídeo de despedida e o craque foi presenteado com uma camisa autografada pelos colegas, emoldurada num quadro.

Quando viu sua esposa, Helena, os jogadores e os torcedores chorando, Ibra não aguentou e se emocionou também, antes de pegar o microfone. “Vocês me receberam de braços abertos. Vocês me fizeram sentir em casa. Serei milanista toda minha vida”, proclamou. “Chegou o momento de dizer adeus ao futebol, [mas] não a vocês [torcedores]”, acrescentou o ex-atleta, que deixou as portas abertas para um possível retorno ao Milan como dirigente, no futuro.

Zlatan chegou à Itália como uma jovem promessa e se aposentou com status de um dos maiores atacantes do século XXI. Seu personagem marrento, egoísta e arrogante deu lugar, na reta final da carreira, a um jogador mais preocupado em ajudar seus companheiros a conquistarem o que ele experimentara nas principais ligas do mundo. Entre aplausos e vaias, fez história nos três times mais expressivos do país, publicou três autobiografias e teve o início de sua carreira retratado em filme. Agora, o leão, como se autoproclama, irá descansar – enquanto acompanha os filhos que deixou em Milanello darem continuidade ao trabalho. Quer dizer, pelo menos até ser tomado pela próxima dose de adrenalina.

Zlatan Ibrahimovic
Nascimento: 3 de outubro de 1981, em Malmö, Suécia
Posição: atacante
Clubes: Malmö (1999-2001), Ajax (2001-04), Juventus (2004-06), Inter (2006-09), Barcelona (2009-10), Milan (2010-12 e 2020-23), Paris Saint-Germain (2012-2016), Manchester United (2016-18) e LA Galaxy (2018-19)
Títulos: Eredivisie (2002 e 2004), Copa da Holanda (2002), Supercopa da Holanda (2002), Supercopa Italiana (2006, 2008 e 2011), Serie A (2007, 2008, 2009, 2011 e 2022), Supercopa Europeia (2009), Mundial de Clubes da Fifa (2009), Supercopa da Espanha (2009 e 2010), La Liga (2010), Ligue 1 (2013, 2014, 2015 e 2016), Supercopa da França (2013, 2014 e 2015), Copa da Liga Francesa (2014, 2015 e 2016), Copa da França (2015 e 2016), Community Shield (2016), Copa da Liga Inglesa (2017) e Liga Europa (2017)
Seleção sueca: 122 jogos e 62 gols

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1 Comentário

  • é inquestionável a magnitude da carreira de Zlatan. Sua importância para o futebol e sua disciplina que moldou o futebol italiano. Por ser um líder nato, sigo na torcida para que, ainda que de modo invisível, Ibrahimovic possa permear pelos clubes (de preferência o AC. Milan) para ajudar o plantel com a sua adrenalina como sempre fez. Que absurdo de conteúdo. Muito bom!!! 🙂

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